Fenômeno de 'pastores mirins' brasileiros mobiliza redes e ganha repercussão internacional
O mundo evangélico no Brasil vem abraçando uma nova tendência: os pastores mirins, crianças que ajudam a integrar, por meio da igreja evangélica, juventude, fé e redes sociais. É o caso de Ester Souza, de 8 anos, que foi matéria no jornal americano The Washington Post nesta segunda-feira, dia 24.
Do sorriso infantil para o foco, a pequena paulista de Votuporanga começa a sua pregação numa igrejinha de sua cidade, no interior de São Paulo: biblía e microfone na mão, ela começa a sua fala em um dos vídeos que viralizou nas redes: “A dor não pode corromper a esperança”, diz: “porque o sofrimento pode ser transformado em testemunho”. Ester teve uma infecção no rim em 2020, e precisou passar dois meses no hospital enquanto esperava pelo transplante, tendo que fazer hemodiálises quase que diariamente.
“Os médicos disseram não, mas Deus disse sim”, ela termina. O vídeo é rapidamente publicado em seu instagram, onde tem mais de 900 mil seguidores. O seu vídeo viral possui mais de 13 milhões de visualizações. Nele, ela dá o mesmo testemunho sobre seu tempo no hospital em um show de calouros da rede de televisão SBT.
Na entrevista para o Washington Post, o pai de Ester, o pastor Lucas Souza — por acaso a mãe de Ester, Adriana Souza, também é pastora — declara: “Se eu quisesse forçar Ester a ganhar milhões e milhões de seguidores usando práticas de invocar demônios e de cura, eu poderia, mas não seria de forma positiva. E quando você não faz coisas de forma positiva, os frutos não vêm”.
Nessa fala, o pastor faz referência ao mais famoso “Mini-Pastor” Miguel Oliveira, que foi proibido, pelo Conselho Tutelar, de pregar em igrejas, viajar e usar as redes sociais por tempo indeterminado em abril deste ano. Atualmente, Miguel já voltou com suas pregações.
Outro exemplo desse fenômeno é Moisés Andrade, um pequeno paraibano de 13 anos, que tem, atualmente, 600 mil seguidores em sua página do Instagram. No entanto, sua trajetória de pregação começou aos 6 anos e, para a família, sua relação com o divino começou antes mesmo de sair do hospital ao nascer.
Levado direto do ventre de sua mãe para a UTI Neonatal, Moisés ficou internado por 46 dias. Durante todo esse 1 mês e meio, segundo sua assessoria, os médicos diziam que o menino não sobreviveria: o tempo máximo de intubação seria de 15 dias, mas mesmo assim, Moisés reagiu e recebeu alta do hospital. Nesse ínterim, era comum que sua família subisse a um monte para orar por uma milagre que o salvasse.
Desde os 6 anos, então, vem pregando e cantando em igrejas. Começou no interior da Paraíba e, mais recentemente, foi chamado por uma produtora gospel para morar, com a mãe, em João Pessoa - capital do estado - para que possa ter uma boa — e cristã — educação, além de aulas de música, focando na sua carreira de cantor; o pequeno pastor já tem 4 músicas gravadas, sendo 1 delas contando a história de sua vida.
Recentemente, Moisés viralizou nas redes após se encontrar com o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, na Expo Cristã RJ, durante um café da manhã entre pastores. Lá fez uma oração e desejou que o governador “buscasse a sabedoria de Salomão”, para poder conviver com “todos aqueles problemas que o Rio de Janeiro vem atravessando”.
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Outra sensação nas redes é João Vitor Ota, autointitulado “Príncipe do Limpa Nome”, como ficou conhecido, tem 15 anos e atua como pastor mirim há pelo menos 5 - ou seja, desde os 10 anos de idade. Recentemente, ele teve seu perfil no Instagram, que contava com 1,4 milhão de seguidores, excluído.
Segundo a plataforma, o perfil do pequeno missionário foi suspenso pela Meta por não seguir os padrões da comunidade: o seu perfil, então, teve todas suas informações excluídas permanentemente, sem chance de recurso. João Vitor continua com a postar suas pregações no Youtube, no canal de sua família, e no TikTok, rede em que tem quase 300 mil seguidores.
Relembre o caso do “Pastor Mirim” Miguel Oliveira
Conhecido como “missionário mirim”, Miguel Oliveira, então com 14 anos, foi proibido pelo Conselho Tutelar de continuar com suas atividades em abril deste ano. Ele também já se envolveu em polêmicas por cobrar por bençãos: em um podcast, afirma que, se quisesse, poderia cobrar até R$10 mil reais: “É uma oferta, quem quiser pegar, pega. Sim ou não? O que está havendo no seio da igreja? Estou te obrigando a fazer um voto? Eu ponho arma na cabeça de alguém? É voluntário", declarou.
Membro da Igreja Assembleia de Deus Avivamento Profético e natural de Carapicuíba, no estado de São Paulo, sua página do instagram conta com 1 milhão 500 seguidores e seu vídeo mais visto tem 24 milhões de visualizações. As pregações de Miguel são marcadas por profecias e promessas de cura de doenças como o câncer, leucemia e pneumonia: “Eu rasgo o câncer, eu filtro o teu sangue e eu curo a leucemia”, ele diz em vídeo publicado em suas redes.
Mas isso não é tudo, as polêmicas de seus sermões vão além, incluindo discussões com o próprio público. Em um vídeo publicado no dia 3 de setembro no Instagram, Miguel responde uma acusação de um suposto fiel - que nunca é mostrado - enquanto prega em uma igreja: “Está me chamando de falso profeta? E deixa eu falar da sua amante, não?”, ele começa: “Tira a camisinha de dentro da carteira. Se me chamar de falso profeta de novo eu te pego no meio da multidão”. O pequeno pastor, então, convida todos a levantar as mãos: “Vai dar tudo certo na sua casa essa semana, diz o Senhor!” grita o rapaz.
(Com informações do The Washington Post)
