Falta de luz fecha comércios e faz estabelecimentos trabalharem no escuro na Zona Sul de São Paulo
A falta de luz que ainda atinge 1,5 milhões de clientes na Região Metropolitana de São Paulo fez comércios, academias, farmácias e restaurantes fecharem as portas nesta quinta-feira (11).
Na Praça da Árvore, Zona Sul da capital, o GLOBO contabilizou dezenas de locais que não estão funcionando pela falta de energia, inclusive com avisos colados na porta informando os clientes da situação. Por ali, a distribuição foi interrompida por volta das 11h desta quarta (10), e em alguns pontos até chegou a ser restabelecida às 22h, mas na madrugada desta quinta voltou a cair.
Pastelaria Changai, na Praça da Árvore, Zona Sul de São Paulo, operando no escuro na manhã de quinta (11)
Hyndara de Freitas
Quem conseguiu abrir, está trabalhando no escuro. É o caso da Pastelaria Changai, que existe desde 1948 no local. Por ali, o tradicional caldo de cana não está sendo servido porque não há luz para operar a máquina que espreme a cana. O freezer está sendo mantido fechado para armazenar as carnes e lacticínios, e só é possível fazer alguns pastéis com a massa que já está pronta.
— Mas daqui a pouco vai acabar, porque para fazer novos a gente precisa do cilindro de abrir a massa do pastel — conta Eduardo Nascimento, gerente do local — O refrigerante está meia-boca, se demorar muito vamos ter que levar as coisas para casa de amigos, familiares que tenham freezer.
Farmácia fechada devido à falta de energia na região da Praça da Árvore, Zona Sul de SP
Hyndara de Freitas
Um mini mercado que fica na Avenida Jabaquara, na Praça da Árvore, está usando a câmara fria para armazenar sorvetes e carnes, e para manter a temperatura baixa a solução foi usar os sacos de gelo que eles normalmente venderiam. Uma padaria da região já avisa aos clientes que pedem água, suco ou refrigerante: não tem gelo. O café é mantido quente em garrafas térmicas e, com a luz do dia, ainda é possível fazer preparos mais simples na chapa que funciona a gás.
— Estamos trabalhando no escuro, tentando revezar a geladeira e tivemos que comprar mais gelo. A gente vai tentar abrir hoje para o almoço, enquanto tiver luz, para ao menos usar o que tem, mas nao sei se terá movimento — conta Marta Cristina, garçonete de um restaurante nas redondezas que está sem luz há quase 24 horas.
Agência da Caixa fechada na Zona Sul devido à falta de luz
Hyndara de Freitas
Agências da Caixa Econômica e do Banco do Brasil estão fechadas no bairro, bem como as academias. Sem previsão de retomada da energia elétrica, moradores da região estão buscando refúgio em casas de amigos e familiares. O advogado Fernando Rossetto, que trabalha de casa, teve de ir para a casa dos pais, na Vila Mariana, para conseguir trabalhar. Também precisou levar seus alimentos para a geladeira dos familiares.
— Tiramos tudo da geladeira, mas se não tivesse um lugar para ir, perderia tudo. Eu moro em São Paulo há dez anos, e nos últimos três tem falta de luz assim. No último apagão, fizemos um estoque de velas, usamos todas esta noite — conta.
Fumaça e cheiro de óleo diesel
Na Vila Mariana, em torno da avenida Sena Madureira, área predominantemente residencial, na manhã de quinta-feira ainda se sentia nas ruas o cheiro de fumaça de óleo diesel, exalada pelos geradores dos sistemas elétricos emergenciais dos prédios.
Vários edifícios adotaram o sistema, principalmente após apagões terem atingido a região nos últimos anos. Alguns setores do bairro foram afetadas tanto no apagão de novembro de 2023 quanto no de outubro de 2024, e enfrentam o problema pelo terceiro ano seguido.
Sem luz, paulistanos se revezam para carregar o celular na estação Praça da Árvore, da Linha 1 (Azul) do Metrô
Hyndara de Freitas
Na maioria dos prédios, os geradores abastecem apenas as áreas comuns, mas não os apartamentos. Na manhã de quinta-feira, em um edifício residencial próximo ao Instituto Biológico, o salão de festas virou um espaço de "co-working". Vários moradores desceram ao local para plugar na tomada seus computares com a bateria já esgotada do dia anterior, e passaram a trabalhar ali mesmo.
Na cozinha do salão, algumas pessoas disputavam espaço no freezer para guardar carne congelada que já começara a derreter após quase um dia sem energia.
