‘Falei com Lula e Macron para não perfurar petróleo aqui, nem permitir o Ferrogrão’, diz Cacique Raoni

 

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Uma das maiores autoridades indígenas do Brasil, o cacique Raoni Metuktire, aos 93 anos, é do povo Kaiapo, do Mato Grosso, uma das etnias mais castigadas pela produção de soja que atravessa as aldeias. Ele se juntou à Caravana da Resposta, uma das embarcações da barqueata que abriu nesta quarta-feira a Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil que ocorre em paralelo às negociações formais da COP30.

No barco, ele falou com a imprensa diante de mais de 300 indígenas e ativistas do movimento social e mandou recado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— Falei com (os presidentes) Lula e Macron (da França) para não perfurar petróleo aqui, nem permitir o Ferrogrão, emendando que, se precisa, “puxo a orelha do presidente Lula”.

A Petrobras recebeu aval do Ibama para explorar petróleo na Marguem Equatorial, região na costa que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte. Ambientalistas temem que um eventual vazamento provoque danos aos ecossistema, que abriga grande biodiveridade.

Ferrogrão (EF-170) é o projeto ferroviário que pretende ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA), ampliando o escoamento de grãos pelo Tapajós. O projeto foi desenvolvido por demanda de grandes tradings como Cargill, Bunge, Amaggi, ADM e Louis Dreyfus e é apontado como um dos mais controversos da atual agenda de infraestrutura federal.

A soja, para Raoni, é o maior vilão das comunidades indígenas.

— Cada vez mais acarreta mais e mais desmatamentos. Contamina nossos rios e a nossa terra. As florestas estão vindo abaixo em troca de nada — diz.

Num discurso de tragédias mas também de um pedido de paz, a autoridade indígena se colocou à disposição para entregar uma carta da Cúpula dos Povos ao presidente da COP 30. E mandou um recado ao povo brasileiro:

— Não sou contra programas que unam brancos e indígenas, há muito tempo brigávamos, os irmãos Villas-Boas me contaram sobre isso, então atuo para convivermos de forma pacífica. Para vivermos em paz.

O sertanista Orlando Villas-Boas, que faleceu em 2002, dedicou grande parte de sua vida à defesa dos povos da selva. Era o mais jovem dos irmãos Villas-Boas — além dele, defendiam os indígenas também Cláudio, Leonardo e Álvaro.