Ex-refém israelense afirma ter sido agredido sexualmente durante cativeiro em Gaza: 'Propósito era me humilhar'
O israelense Rom Braslavski, de 21 anos, libertado no mês passado pelo Hamas após quase dois anos em cativeiro na Faixa de Gaza, afirmou ter sido agredido sexualmente por membros do grupo Jihad Islâmica Palestina (JIP). Ele descreveu abusos físicos e psicológicos sofridos durante o período em que esteve preso em entrevista ao programa Hazinor, do Canal 13 da TV israelense, que foi ao ar na quinta-feira.
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— Foi violência sexual, e seu principal objetivo era a humilhação. O propósito era me humilhar, destruir minha dignidade — declarou Braslavski, que se tornou o primeiro homem mantido refém em Gaza a relatar publicamente um caso de abuso sexual.
Braslavski trabalhava como segurança no festival de música Nova, no sul de Israel, quando o Hamas lançou o ataque de 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1,2 mil pessoas e levando 251 reféns para Gaza. Ele foi libertado há quatro semanas, no grupo dos 20 últimos reféns israelenses vivos liberados como parte de um acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos.
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Segundo seu relato, o tratamento que recebia piorou em março deste ano, quando se recusou a se converter ao islamismo. Ele contou que foi mantido com os olhos vendados por três semanas, que seus sequestradores colocaram pedras em seus ouvidos para limitar sua audição e reduziram sua comida e água.
— Entrei num ciclo vicioso do qual duvidava que sairia vivo — disse.
Em seguida, acrescentou ele, os sequestradores receberam o que descreveram como uma ordem para torturá-lo. Braslavski relatou, então, ter sido espancado e chicoteado com um cabo de metal várias vezes por dia. Após a JIP divulgar um vídeo em agosto, no qual aparecia chorando e dizendo estar "à beira da morte", ele contou que começaram também as agressões sexuais.
— Eles me despiram completamente, tirando toda a minha roupa. Me amarraram. Eu estava exausto, morrendo de fome, e rezei a Deus: “Salve-me, tire-me daqui” — relatou. — É difícil falar sobre essa parte. Foi uma coisa horrível.
Reações e investigações
O presidente israelense, Isaac Herzog, elogiou a “coragem extraordinária” do jovem ao compartilhar publicamente os horrores do cativeiro.
"O mundo precisa entender a dimensão dos crimes cometidos pelos terroristas em Gaza: crueldade hedionda, violência sexual e abusos", afirmou Herzog em publicação no X.
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Um representante da Jihad Islâmica Palestina disse à agência Reuters que as alegações eram “incorretas”, sem fornecer mais detalhes.
De acordo com a ONU, há indícios de que reféns israelenses sofreram estupros e outras formas de violência sexual em Gaza. Em março de 2024, a Representante Especial da ONU sobre Violência Sexual em Conflitos afirmou ter encontrado “informações convincentes” de abusos sexuais e tortura. O Hamas rejeitou as conclusões, chamando-as de “infundadas”.
Pelo menos quatro mulheres mantidas como reféns falaram publicamente sobre supostos incidentes de abuso sexual contra elas mesmas ou contra outras prisioneiras, de acordo com a Reuters.
Um relatório separado da Comissão de Inquérito das Nações Unidas, divulgado em março deste ano, também acusou Israel de empregar “violência sexual, reprodutiva e outras formas de violência de gênero contra palestinos”, incluindo “desnudamento público forçado, assédio sexual e agressões”. Tel Aviv, por sua vez, classificou as alegações como falsas.
O caso de Braslavski ocorre em meio a uma série de denúncias de abusos cometidos por ambos os lados do conflito. Na semana passada, cinco soldados israelenses foram indiciados após a divulgação de um vídeo em que aparecem agredindo um detento palestino em uma base militar. A ex-chefe do departamento jurídico das Forças Armadas de Israel renunciou, assumindo a responsabilidade pelo vazamento.
