Ex-presidente de Honduras, condenado a 45 anos por narcotráfico, deixa prisão nos EUA após receber indulto de Trump
O ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, condenado nos Estados Unidos a 45 anos de prisão por narcotráfico, deixou a cadeia na noite de segunda-feira depois de receber indulto presidencial de Donald Trump. O presidente americano cumpriu, então, sua promessa feita dias antes de perdoar Hernández, que estava no centro do que as autoridades descrevem como "uma das maiores e mais violentas conspirações de narcotráfico do mundo".
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Em entrevista a emissora hondurenha Televicentro, a esposa do ex-presidente, Ana García de Hernández, disse que conversou com o marido por videoconferência e afirmou que ele foi "transferido para um local seguro".
— Muito emocionados, junto com nossos filhos e minha sogra, por poder vê-lo — disse a mulher nesta terça-feira.
A promessa de Trump ocorreu na última sexta-feira, horas depois de ele ter recebido uma carta bajuladora na qual o ex-presidente de Honduras se colocava como vítima de “perseguição política” por parte do governo de Joe Biden. A carta de quatro páginas tinha data de 28 de outubro, mas foi entregue a Trump por Roger J. Stone Jr., conselheiro político de longa data do republicano, na semana passada.
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A mensagem de Hernández, de 57 anos, continha todos os ingredientes que, ao longo do tempo, líderes estrangeiros, lobistas e outras pessoas próximas de Trump consideram eficazes: bajulação, um sentimento de perseguição compartilhada e um apelo à percepção que o presidente americano tem de si mesmo como o árbitro final da Justiça.
"Encontrei forças em Vossa Excelência. Sua resiliência para retornar a esse importante cargo, apesar da perseguição e do processo judicial que enfrentou, tudo por quê? Porque desejava tornar seu país grande novamente”, escreveu Hernández a Trump. “O que você realizou é sem precedentes e verdadeiramente histórico”, acrescentou.
O indulto causou alvoroço antes mesmo de ser oficializado por sugerir uma prática controversa do governo Trump: enquanto os EUA intensificam ataques contra embarcações que Washington classifica como suspeitas de narcotráfico, o presidente americano concede perdão a Juan Orlando Hernández — que, segundo promotores, foi peça-chave em um esquema que durou mais de 20 anos e levou mais de 500 toneladas de cocaína para os Estados Unidos.
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A medida coincide com a pressão exercida por Trump a favor do candidato conservador Nasry Asfura nas disputadas eleições hondurenhas, realizadas no último domingo. O resultado ainda não foi definido, mas o Conselho Nacional Eleitoral informou, na segunda-feira, que Asfura está em “empate técnico” com o apresentador de televisão Salvador Nasralla. Em paralelo, Trump afirmou que as autoridades eleitorais hondurenhas estão “tentando mudar” o resultado da eleição presidencial.
Asfura, por sua vez, disse à AFP que não tem “nenhuma ligação” com Hernández.
A condenação
O ex-presidente de Honduras foi condenado no ano passado, mas a investigação que levou à sua prisão começou há anos, antes mesmo da primeira eleição de Trump, em 2016. Conhecido pelas iniciais JOH, Hernández governou Honduras entre 2014 e 2022. Foi extraditado aos EUA poucas semanas após deixar o cargo, quando a atual presidente, a esquerdista Xiomara Castro, assumiu o poder.
Em março de 2024, um júri de Nova York o considerou culpado de facilitar a entrada de cerca de 500 toneladas de cocaína — principalmente oriunda da Colômbia e da Venezuela — nos Estados Unidos por meio de Honduras. Segundo a Justiça americana, esses crimes começaram em 2004, 10 anos antes de Hernández assumir a Presidência.
Em sua carta, porém, Hernández caracterizou o caso como uma operação fajuta conduzida por promotores inescrupulosos e dirigido pelo antecessor de Trump, Joe Biden. “A politização e a aplicação seletiva da justiça no meu caso são inegáveis”, escreveu Hernández. “Fui processado sem provas sólidas, com base nos depoimentos de traficantes violentos e mentirosos profissionais motivados por vingança e por acordos para sair da prisão”.
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Ele também relembrou a relação pessoal que mantinha com Trump, recordando comentários que o republicano havia feito na Cúpula Nacional do Conselho Israelense-Americano de 2018, na qual ele falou sobre como interromper o fluxo de tráfico de drogas na fronteira sul.
— Estamos vencendo depois de anos e anos de derrotas — disse Trump na época. — Estamos combatendo as drogas em um nível nunca antes visto.
Hernández, na carta, afirmou que “essas palavras significaram muito para mim, para minha família e para o povo hondurenho”.
(Com AFP e The New York Times)
