Ex-árbitro Marsiglia critica postura de juízes mais jovens: 'Essa geração virou um pouco nutella, usa o VAR como bengala'

 

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Ex-árbitro, comentarista e instrutor de arbitragem, Renato Marsiglia fez críticas à relação da atual geração da arbitragem brasileiro com o VAR. Em entrevista ao podcast Basticast, o profissional de 74 anos diz que alguns dos juízes utilizam o auxílio da arbitragem de vídeo como "bengala".

— Não tinha nem quarto árbitro quando eu comecei a apitar. Depois teve a geração que começou sem o VAR, depois entrou o VAR, e a outra criada no VAR. O árbitro tinha que ser muito atento, ou seja, tudo o que acontecesse você tinha que matar no peito, decidir na hora, discutir com o jogador, eles vinham em cima, tinha que se impor, ter autoridade, ter personalidade para encarar jogos como encarei, como finais de campeonato brasileiro. Na Libertadores não existia televisão ao vivo, nem antidoping. Apitar na Bombonera, no Defensores del Chaco, em Medellín, era um filme de horror levar até o fim, isso sem VAR, sem nada. Essa geração do VAR virou um pouco nutella porque usa o VAR como bengala. Se errar o VAR salva, não entram com aquela atenção devida. Não digo todos, não posso generalizar, temos árbitros bons.

Jornalista, economista e hoje professor de gestão estratégica do esporte na FGV, Marsiglia, que apitou jogos da Copa de 1994, acredita ainda que a arbitragem de vídeo interfere de forma excessiva nas partidas.

— O VAR interfere demasiadamente para mim. Criaram quatro situações para o VAR não apitar o jogo: gol tem que checar, pênalti tem que checar, cartão vermelho direto, e um jogador que eu mostro o cartão para um jogador e era para outro. Uma coisa é o jogo do campo e outro da TV, dizia sempre isso quando era comentarista, no monitor é frio. Sem contar que no campo você não tem câmera lenta e ela superdimensiona o episódio. A câmera lenta não é para você decidir a intenção, é para decidir se houve contato. A interpretação tem que ser feita pela velocidade normal, que é a velocidade de jogo. O árbitro tem que ser inteligente para interpretar. Para decidir algo que mesmo com o recurso eletrônico ainda se tem discussão, é porque não era para ter chamado. É para esse lance decisivo em que há um erro claro e óbvio, é o que diz a regra. Não é para aquele erro que pode haver interpretação. Se é para interpretar, o árbitro de campo interpreta. O árbitro de vídeo está “reapitando” o jogo e não é para isso que foi criado o VAR — analisou.