EUA dizem ter avançado em negociações sobre guerra na Ucrânia, mas admitem que impasses centrais ainda persistem
Os Estados Unidos afirmaram nesta sexta-feira ter alcançado “progressos significativos” nas negociações diplomáticas para encerrar a guerra na Ucrânia, mas reconheceram que os impasses mais delicados ainda permanecem. Em conversa com jornalistas, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que a Casa Branca tem dedicado “uma quantidade enorme de tempo e energia” para mapear até onde Kiev e Moscou estariam dispostos a ceder, pontuando que “as questões mais difíceis costumam ficar para o final”. Segundo ele, um eventual acordo exigirá concessões de ambos os lados e a decisão final caberá exclusivamente à Ucrânia. As declarações ocorrem no momento em que delegações ucranianas, americanas e europeias iniciam uma nova rodada de consultas nos Estados Unidos, em busca de pontos de convergência para pôr fim ao conflito.
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— [Queremos] identificar as posições de ambos os lados e ver se conseguimos conduzi-los a um acordo — disse ele. — Um acordo negociado exige duas coisas: que ambos os lados obtenham algo em troca e que ambos os lados cedam algo. E estamos tentando descobrir o que a Rússia pode oferecer e o que espera receber? O que a Ucrânia pode oferecer e o que espera receber? No fim, a decisão caberá à Ucrânia, e não à Rússia, e não aos Estados Unidos.
Ele acrescentou que "não se trata de impor um acordo a ninguém", mas sim de tentar encontrar pontos de convergência de interesses.
— Acho que fizemos progressos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer, e obviamente as questões mais difíceis são sempre as últimas.
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Negociadores da Ucrânia e seus aliados europeus realizarão uma nova reunião com autoridades americanas nos Estados Unidos para discutir o fim da guerra com a Rússia, afirmou o principal negociador ucraniano, Rustem Umerov.
“Hoje, nos Estados Unidos, juntamente com o Tenente-General Andriy Gnatov, iniciaremos mais uma rodada de consultas com o lado americano. A convite dos Estados Unidos, os parceiros europeus também participam deste formato”, disse Umerov nas redes sociais.
Financiamento de R$ 585 bilhões
Líderes europeus aprovaram na madrugada desta sexta-feira um empréstimo de 90 bilhões de euros (cerca de R$ 585 bilhões) para financiar os esforços de guerra da Ucrânia pelos próximos dois anos, mas sem fazer uso de ativos russos congelados no continente para garantir o empréstimo — que mesmo tratada como primeira opção por países influentes do bloco, não alcançou um consenso entre a maioria. O valor é equivalente a dois terços dos 137 bilhões de euros (887 bilhões de reais) de gastos necessários estimados por Kiev para manter suas atividades diante da disputa com Moscou.
As lideranças europeias se reuniram em Bruxelas na quinta-feira com o objetivo de confirmar o apoio à Ucrânia, com duas propostas sobre a mesa. A mais polêmica delas incluía o uso de ativos do Banco Central da Rússia, congelados no continente, para financiar a Ucrânia — a maior parte dos 210 bilhões de euros (R$ 1,3 trilhão) estão sob custódia da empresa Euroclear, sediada na Bélgica. Um empréstimo convencional também estava sob avaliação, e acabou se confirmando.
O acordo corresponde a um empréstimo sem juros, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O valor está garantido pelo Orçamento da UE, e Kiev só precisará reembolsá-lo se a Rússia pagar uma indenização pela guerra. A operação será efetuada por 24 países-membros do bloco, excetuados Hungria, Eslováquia e República Tcheca, que relutam em apoiar a Ucrânia.
"Chegamos a um acordo. Aprovou-se a decisão de conceder uma ajuda de 90 bilhões de euros à Ucrânia para 2026-2027", escreveu o presidente do Conselho Europeu, António Costa, na rede social X. "Nos comprometemos e cumprimos a nossa promessa".
— Garantir 90 bilhões de euros a outro país para os próximos dois anos. Não acredito que já vimos isso alguma vez em nossa história — disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, cujo país ocupa a presidência do Conselho da UE até o final do ano.
Enquanto chefes de Estado, governo e de órgãos da UE apontaram para a decisão sobre o empréstimo como uma vitória e demonstração de força, interlocutores em Moscou e analistas internacionais viram na falta de acerto sobre o uso dos ativos russos uma demonstração de divisão, que demonstraria uma indecisão da UE em um momento crucial.
O primeiro-ministro da Bélgica, Bart De Wever, mostrou alívio após a decisão final. O líder do país que detém de facto os ativos russos era uma das vozes contrárias à utilização, alegando a possibilidade de sanções ao sistema financeiro do país. Ao longo das negociações, a proposta de Bruxelas foi de que os aliados europeus compartilhassem os riscos igualmente.
— A decisão está tomada, todos estão aliviados — celebrou De Wever ao término da reunião na sexta-feira.
Em uma publicação no Telegram, o principal negociador para assuntos econômicos da Rússia, Kirill Dmitriev, celebrou o fracasso da opção de "usar ilegitimamente ativos russos para financiar a Ucrânia", acrescentando que "a lei e o bom senso conseguiram uma vitória".
Desfecho temporário
Embora não tenha planos imediatos de usar os ativos russos, a União Europeia anunciou que ainda se reserva ao direito de, eventualmente, utilizar os valores congelados. Na semana passada, as nações europeias tomaram medidas para congelar as reservas por tempo indeterminado. Em meio às negociações de termos de paz entre Rússia e Ucrânia, mediado pelos EUA, o bloco europeu tenta demonstrar que são atores poderosos no cenário global.
O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou após a definição sobre o empréstimo que a medida era "uma mensagem clara" ao presidente russo, Vladimir Putin, "para acabar com a guerra". O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que com o financiamento garantido "voltará a ser útil falar com Vladimir Putin".
Sob pressão americana para aceitar ceder territórios e por fim à guerra mesmo com um acordo que não concorda, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, comemorou a aprovação do empréstimo como uma conquista. Ele destacou o sinal enviado pelos aliados europeus.
"Este é um apoio significativo que realmente fortalece a nossa resiliência", escreveu o líder ucraniano na rede social X. "É importante que os ativos russos permaneçam imobilizados e que a Ucrânia tenha recebido uma garantia de segurança financeira para os próximos anos". (Com NYT e AFP)
