'Estamos muito perto e nos aproximando da paz', diz Trump após encontro com Zelensky nos EUA
Após cerca de duas horas de um encontro a portas fechadas com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky , o presidente americano, Donald Trump, disse ontem que um acordo para o fim da guerra na Ucrânia está “muito perto” de acontecer. Apesar do tom otimista, no entanto, o encontro, cercado de expectativas, terminou sem uma indicação clara de quando um cessar-fogo poderia ser anunciado — Trump citou em torno de “duas semanas” — nem quais pontos ainda estão sendo discutidos. Um dos mais sensíveis diz respeito ao futuro da região estratégica de Donbass e ao controle da usina nuclear de Zaporíjia, atualmente sob ocupação russa.
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— Tivemos uma ótima conversa com os líderes europeus e avançamos em 95%. Gostaria de ver esse acordo fechado. Tanto a Rússia quanto a Ucrânia querem isso. — disse Trump, reconhecendo que ainda há “um ou dois pontos sensíveis” a serem resolvidos. — Isso não é um processo que se resolve em um dia. É algo muito complicado. Não quero dizer quando, mas acho que vamos conseguir.
Conversa com Putin
Trump recebeu Zelensky para conversas sobre uma nova proposta de paz destinada a encerrar o conflito de quase quatro anos. O plano, de 20 pontos, foi articulado após semanas de negociações entre Washington e Kiev, mas ainda não recebeu o aval de Moscou e ganha peso após um ataque maciço de mísseis e drones russos contra Kiev na véspera do encontro.
A jornalistas após o encontro, Zelensky reiterou sua posição de que a questão territorial terá que ser respondida, em última instância, pelo povo da Ucrânia.
— Vocês conhecem nossa posição. Temos que respeitar nossa lei e nosso povo. Respeitamos o território que controlamos — disse o líder ucraniano ao ser questionado sobre a cessão de territórios à Rússia. — Os ucranianos são os que têm que votar, porque esta é a terra deles. É a terra da nossa nação há muitas gerações.
A discussão a portas fechadas foi acompanhada por vários chefes de Estado e de governo da Europa, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, que realizaram uma videochamada de uma hora com Trump e Zelensky. Na entrevista a jornalistas, o ucraniano anunciou ainda que ele e os líderes europeus se reunirão com Trump em Washington, em janeiro.
“A Europa está pronta para continuar trabalhando com a Ucrânia e nossos parceiros americanos para consolidar esse progresso. Fundamental para esse esforço é ter garantias de segurança inabaláveis desde o primeiro dia”, escreveu von der Leyen nas redes sociais.
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Antes de Zelensky chegar, Trump disse em sua plataforma Truth Social que havia acabado de ter uma “conversa telefônica muito boa e produtiva com o presidente da Rússia”. O principal assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, confirmou a ligação e afirmou que os dois concordaram que um acordo de paz de longo prazo “seria melhor do que o cessar-fogo temporário proposto pelos ucranianos e europeus”. Kiev, acrescentou, deve tomar uma “decisão política corajosa e responsável” em relação ao Donbass, região que Moscou quer que a Ucrânia ceda totalmente. Atualmente, a Rússia controla cerca de 75% de Donetsk e aproximadamente 99% da vizinha Luhansk; juntas, as duas regiões formam o Donbass.
Questionado sobre o controle da usina nuclear de Zaporíjia, ocupada pela Rússia e um dos principais pontos de discórdia nas negociações, Trump voltou a defender o líder russo, e afirmou que Putin estava aberto a trabalhar com a Ucrânia. A Ucrânia, por sua vez, já afirmou diversas vezes que não cooperará com a Rússia.
A reunião ocorreu na residência de Trump em Mar-a-Lago, em Palm Beach — o primeiro encontro entre os dois desde outubro, quando o republicano recusou o pedido de Zelensky por mísseis Tomahawk de longo alcance. A Ucrânia vinha pressionando por essa reunião há semanas, desde que os EUA retomaram seus esforços diplomáticos para intermediar um acordo.
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Sinais trocados
Trump fez do fim das guerras na Ucrânia e em Gaza o ponto central de seu segundo mandato como autoproclamado “presidente da paz”. Mas encerrar a guerra na Ucrânia, segundo ele mesmo admitiu, provou ser muito mais difícil do que ele esperava. Ontem, disse acreditar que os presidentes da Rússia e da Ucrânia poderiam, inclusive, se encontrar “no momento certo” — e sugeriu que Putin também “quer que isso aconteça”.
Mas, nos últimos dias, Zelensky questionou diversas vezes se Moscou estava realmente empenhada em buscar a paz ou simplesmente ganhando tempo. Os ataques contra alvos civis, incluindo uma enorme barragem disparada contra a capital da Ucrânia no sábado, provaram, segundo o ucraniano, que o Kremlin não tem interesse real em acabar com a guerra.
“A Rússia continua atormentando nossas cidades e nosso povo. Moscou rejeitou até mesmo as propostas de um cessar-fogo no Natal e está intensificando a brutalidade de seus ataques com mísseis e drones”, disse nas redes sociais. “Este é um sinal claro de como eles realmente encaram a diplomacia lá”.
Com AFP e New York Times.
