Escândalo do 'banheiro de ouro' atinge aliado de Zelensky e expõe suspeita de desvio de R$ 530 milhões em fundos de guerra; entenda

 

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O governo ucraniano enfrenta novo abalo político após o Gabinete Nacional Anticorrupção (NABU) revelar suspeitas de desvio de € 86 milhões (cerca de R$ 530 milhões) em contratos da estatal de energia nuclear administrada pelo Ministério da Energia. Pelo menos dois aliados do presidente Volodymyr Zelensky foram mencionados na apuração, que ficou conhecida como o “escândalo do banheiro de ouro” — referência a declarações de um ex-funcionário que disse que um dos investigados possuía vasos sanitários de ouro em seu apartamento.

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De acordo com o The Telegraph, o empresário Tymur Mindich, apontado como um dos sete suspeitos e considerado o líder do esquema, teria deixado a Ucrânia rumo à Polônia na semana passada. Mindich é amigo de longa data de Zelensky e seu nome está ligado à ascensão do presidente no mundo do entretenimento: ambos cofundaram a produtora Kvartal 95, antes de Zelensky ingressar na política. A proximidade entre os dois inclui o uso, pelo então candidato, de um carro blindado de Mindich durante a campanha de 2019 e a celebração do aniversário do presidente no apartamento do empresário em 2021. Eles também possuem imóveis no mesmo edifício.

Mindich ainda manteve relações com o oligarca Ihor Kolomoysky, apoiador da campanha de Zelensky. O presidente rompeu com o bilionário posteriormente, e Kolomoysky acabou preso em 2023, acusado de fraude e lavagem de dinheiro. As investigações apontam que qualquer processo contra Mindich deverá ocorrer à revelia, já que o empresário deixou o país.

Outro nome citado é o do ex-vice-ministro Oleksiy Chernyshov, descrito como “muito próximo” da família presidencial por um ex-funcionário ouvido pela Fox News. Chernyshov, que ocupa cargos no governo desde 2019, é investigado por suposto abuso de poder. Nenhuma das acusações envolve diretamente Zelensky, que não é citado formalmente nos autos e não responde a suspeitas de irregularidades.

O presidente, por sua vez, tem reforçado o discurso de apoio às instituições anticorrupção. Zelensky sancionou Mindich e afirmou, em publicação no X no sábado (15), que a liderança das empresas estatais será renovada e que suas finanças passarão por auditorias. Apesar disso, rumores no Parlamento dão conta de que o chefe de Estado poderia ter sido beneficiado politicamente por aliados envolvidos no esquema, o que o governo nega.

A repercussão ocorre em um momento crítico para o país, que enfrenta o quarto inverno de guerra sob ataques constantes à infraestrutura elétrica. Os cortes diários de energia aumentam a indignação da população diante das denúncias envolvendo fundos destinados à segurança energética. A Ucrânia, que recebeu dezenas de bilhões de dólares de parceiros ocidentais desde 2022, também sofre pressão internacional para demonstrar avanços no combate à corrupção enquanto tenta avançar no processo de adesão à União Europeia.

Em meio à crise, Zelensky tentou neste ano reduzir alguns poderes do NABU, ação que recuou após protestos internos e pressão de líderes europeus. O presidente afirmou que buscava tornar a máquina pública mais eficiente, enquanto críticos sustentam que a medida teria como objetivo proteger aliados — acusação rejeitada por ele.