Equador anuncia prisĂŁo de cinco suspeitos por ataque contra o presidente Daniel Noboa

 

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Cinco pessoas foram presas por suposto envolvimento com o ataque sofrido pelo presidente do Equador, Daniel Noboa, afirmou o governo equatoriano nesta quarta-feira. Os suspeitos estão sendo investigados por tentativa de homicídio, após o veículo de Noboa ser apedrejado e alvejado por tiros durante um protesto indígena contra o seu governo na terça-feira.

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O comboio presidencial foi atacado na terça-feira, enquanto seguia para a cidade andina de Cañar, no sul do país, onde o presidente inaugurou uma estação de tratamento de água. Vídeos divulgados pela Presidência mostram a cena a partir do interior de um dos veículos, quando vários objetos atingem os vidros e alguém grita: "abaixem a cabeça". Outras imagens externas mostram um grupo de manifestantes — alguns deles indígenas com trajes tradicionais — lançando pedras e paus enquanto a caravana avança sob o som de sirenes.

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A ministra do Meio Ambiente e Energia, Inés Manzano, comunicou o ataque à imprensa ainda na terça-feira, destacando que o veículo presidencial havia sido alvejado com disparos de arma de fogo.— Cerca de 500 pessoas apareceram e jogaram pedras nele, e há marcas de balas no carro do presidente também — disse Inés, acrescentando: — Graças a Deus, nosso presidente, muito firme e corajoso, continua avançando e cumprindo sua agenda como de costume.

Após as prisões, Manzano informou que o governo apresentou à promotoria uma denúncia por "tentativa de homicídio" contra Noboa. Os cinco detidos serão investigadas pelo crime de terrorismo, punido com até 30 anos de prisão.

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O advogado e líder indígena Yaku Pérez — veterano político e ex-candidato presidencial no Equador — declarou à imprensa que entre os detidos havia um homem de 60 anos e uma mulher, e que nenhuma das pessoas apresentadas à polícia estiveram nos protestos.

— Apenas foram confundidos [em meio ao tumulto] — disse Pérez.

Desde 22 de setembro, o governo enfrenta protestos em várias províncias organizados pela maior entidade de povos originários do país (Conaie), contra a eliminação do subsídio ao diesel, cujo preço subiu de US$ 1,80 para US$ 2,80 (R$ 9,65 para R$ 15,01) por galão (que equivale a 3,78 litros). Os indígenas bloqueiam estradas e protestam porque a medida aumentou o custo de vida nas zonas rurais e agrícolas.

Na terça, em um ato público na cidade de Cuenca, a 70 quilômetros dali, Noboa condenou as agressões sofridas

— Essas agressões não são aceitas no novo Equador. A lei vale para todos. (...) Não vamos permitir que alguns vândalos impeçam que trabalhemos por vocês — declarou o presidente aos presentes no ato.

Estado de exceção

No domingo, Noboa decretou estado de exceção em dez das 24 províncias do país, em meio à escalada popular contra o fim do subsídio ao diesel. A decisão ocorreu após a morte de um manifestante e confrontos com forças de segurança que deixaram ao menos 150 feridos, entre civis, militares e policiais, segundo dados oficiais e de organizações de direitos humanos.

A mobilização foi convocada pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), maior organização de povos originários do país, em reação à elevação do preço do diesel, que passou de US$ 1,80 para US$ 2,80 o galão — o equivalente a uma mudança de R$ 9,60 para R$ 15 na cotação atual. Desde 22 de setembro, trechos de estradas em diversas províncias vêm sendo bloqueados pelos manifestantes.

O decreto presidencial, com validade de 60 dias, abrange sete províncias da região andina, incluindo Pichincha, onde está localizada a capital, Quito, e outras três na Amazônia. O governo justificou a medida com base na “grave comoção interna” e alegou que há uma “radicalização” dos protestos e “atos de violência que alteraram a ordem pública”. Pelo menos uma centena de pessoas foram detidas, segundo dados oficiais.

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A província de Imbabura, no Norte do país, tornou-se o epicentro dos confrontos. De forte presença indígena — cerca de 10% da população originária do país —, a região concentra atividades econômicas como a pecuária e a floricultura. Segundo o setor, os bloqueios têm causado prejuízos estimados em US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) por dia.

Protestos contra o aumento dos combustíveis têm histórico de confrontos no Equador. Em 2019 e 2022, medidas semelhantes adotadas pelos ex-presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso também resultaram em mobilizações indígenas de grande escala.

O governo atual afirma que atos classificados como “terroristas” foram registrados durante os protestos e advertiu que os responsáveis podem ser condenados a até 30 anos de prisão. Noboa também alegou que há infiltração de organizações criminosas, como a quadrilha venezuelana Tren de Aragua, entre os manifestantes — sem apresentar detalhes ou provas até o momento.

Segundo o último censo, indígenas representam cerca de 8% dos 17 milhões de habitantes do Equador. Líderes da Conaie, no entanto, citam estudos que estimam esse número em 25%.