Entrevista: 'Ambientalistas contra petróleo na Margem Equatorial são uma minoria', diz ministro de Minas e Energia
Uma das figuras menos benquistas por ativistas ambientais na COP30, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, esteve presente no evento nessa segunda-feira, com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Principal fiador da campanha para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizar a prospecção de petróleo na região da Margem Equatorial, Silveira nega, porém, ter um diálogo ruim com ambientalistas.
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Ele diz, que apenas "uma minoria" de ativistas vê como contraditório o discurso de que a receita do petróleo pode ser usada para financiar a transição energética. Em entrevista ao GLOBO, Silveira explica por que diz acreditar que a busca de óleo na bacia da Foz do Amazonas não deve afetar a agenda pelo fim do CO2 de fontes fósseis na COP30.
O senhor vê risco de a liberação do Ibama para a prospecção de petróleo na Margem Equatorial prejudicar a agenda, na COP30, de transição para longe dos combustíveis fósseis, determinada pelo Acordo de Paris?
O Brasil é o líder da transição energética global e provou isso na COP30. Foi reconhecido por todos os líderes que passaram por aqui que o Brasil contribui com a questão climática como nenhum outro país do mundo, tanto do ponto de vista da floresta quanto do ponto de vista da descarbonização das matrizes autointensivas (que incluem o petróleo). E nesse terceiro mandato — espero que antecedendo o quarto —, o povo brasileiro terá sabedoria de continuar com o presidente Lula à frente do destino da nação, pelo diálogo global que ele promove, pela interlocução e pela sinergia que ele faz entre os governos e a iniciativa privada do Brasil para desenvolver o país. Nós só vamos nos desenvolver para nos tornarmos um país mais próspero, mais inclusivo, com um povo com mais renda per capita, se tivermos equilíbrio entre a exploração das nossas riquezas a favor do crescimento do país e, consequentemente, a inclusão do povo mais pobre no emprego e na renda de qualidade.
A receita do petróleo não tem trazido o desenvolvimento esperado.
A receita do petróleo, como a receita dos minerais críticos, dos minerais estratégicos e das nossas potencialidades naturais, tem que ser transformada a favor do povo brasileiro. E são esses os instrumentos que a gente tem buscado, esses instrumentos que o presidente Lula nos determina a buscar. O Brasil já é o líder na descarbonização, na menor emissão dos gases de efeito estufa. Eu venho falando há dois anos que, para quem conhece esse mundo das energias, o petróleo não é uma questão de oferta global, é uma questão de demanda. Enquanto o mundo demandar essa fonte do petróleo, nós não podemos abrir mão dessa receita, dessa potencialidade natural. Isso seria uma insanidade, uma injustiça com o povo brasileiro.
O senhor diz que a receita do petróleo na Margem Equatorial vai bancar a transição energética, e muitos ambientalistas apontam que isso é uma contradição. O Ministério de Minas e Energia (MME) vai anunciar algum investimento em transição aqui na COP30?
Esse "muitos" é uma minoria, porque a maioria dos ambientalistas com quem eu dialogo — e não são poucos — defende que a gente deve andar de mãos dadas sob a liderança do presidente Lula, buscando caminhos para que a gente consiga sensibilizar o mundo. E é isso que o presidente Lula tem feito em eventos como a COP30, mostrando as potencialidades da floresta e dando o exemplo do que o Brasil faz nos biocombustíveis, entre outras coisas. Esse é um exemplo para que o mundo adote a mesma postura do Brasil e possa, sim, fazer a transformação que vem desde o Acordo de Paris, passando pelo Acordo de Copenhague, e que os países ricos e industrializados vêm tendo dificuldade de cumprir.
Os ambientalistas têm feito protestos na COP30 contra a exploração na Margem Equatorial.
Muitos ambientalistas que se destacam, às vezes, são a minoria, porque a maioria está aqui na COP aplaudindo as ações do Brasil, tentando sensibilizar o mundo juntamente com a nossa área desenvolvimentista. Se todos fizerem o que o Brasil faz, nós vamos conseguir, em 2050, zerar as emissões. Agora, é importante parafrasear a nossa ex-ministra de Energia americana Jennifer Granholm que na COP na Índia já dizia que a questão da descarbonização, da menor emissão, de zerar e cumprir, depende da sensibilização e do pulso firme de líderes como o presidente Lula para combater o negacionismo.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, falou em Belém, antes da COP30, sobre a dificuldade de frear o consumo de petróleo e disse que a transição energética não pode ser feita por decreto. O MME está com o discurso mais alinhado agora com o Ministério do Meio Ambiente? Como está o diálogo?
O diálogo sempre foi muito bom. Havia uma ansiedade natural do ministro de Minas e Energia e toda a sua equipe para que a gente tivesse, o mais rápido possível, o licenciamento desse grande potencial que tem a Margem Equatorial, dessa grande riqueza que é o petróleo nacional, até porque é um petróleo com emissão muito menor que os outros petróleos explorados no mundo. A exploração desse petróleo no Brasil é feita de forma adequada, porque nós temos a Petrobras, uma das maiores petroleiras do mundo, uma das mais seguras, com expertise em fazê-lo de forma adequada para não ter acidentes ambientais. Por isso, havia uma ansiedade no sentido da celeridade disso, mas havia, naturalmente, por parte do Meio Ambiente, (a preocupação com) os cuidados necessários para que a Petrobras cumprisse todas as suas obrigações. Para que a licença fosse emitida no momento em que a Petrobras estivesse com todos os compromissos ambientais e o cumprimento da legislação ambiental. Foi o que aconteceu agora. Então, não podia o Meio Ambiente se negar a avançar nesse importante potencial do Brasil.
E a transição energética?
O que nós vamos buscar agora é, através do diálogo, para que no quarto mandato do presidente Lula, a gente tenha um grande projeto de aceleração da transição energética, continuando a nossa rota e o nosso caminho da descarbonização do Brasil e sinalizando para o mundo e dando ao presidente Lula ainda mais vigor, mais força no seu discurso, para que o mundo copie o Brasil nos biocombustíveis, copie o Brasil no avanço da eólica, no avanço da solar, fazendo exploração de petróleo de forma adequada e, assim, conseguindo atingir a meta de NetZero em 2050.
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