Entre o futebol árabe e a Premier League: o que leva os passes de Vini Jr. e Rodrygo a cifras astronômicas
A engrenagem que move o mercado do futebol europeu nas últimas temporadas ganhou novos contornos com a dupla brasileira mais valiosa do planeta: Vinicius Júnior e Rodrygo, que juntos ultrapassam R$ 1,4 bilhão em valor de seus passes. Sozinho, Vini é estimado em R$ 932 milhões; Rodrygo, em R$ 497 milhões, segundo dados do portal Transfermarkt.
Em toda janela, jornais da Espanha, da Inglaterra, da França e até do Oriente Médio especulam supostas investidas de gigantes do futebol — rumores que, mesmo sem fundamento, inflam cliques, mexem com percepções de valor e moldam a forma como clubes, empresários, marcas e torcedores consomem o espetáculo. Na era dos superatletas — aqueles que operam simultaneamente no topo esportivo, cultural e comercial —, até uma notícia frágil sobre o futuro de Vini ou Rodrygo reverbera como se fosse parte de uma bolsa de valores global.
A cada período de transferências, a dupla entra num turbilhão de rumores que ultrapassa a lógica esportiva. E nesta janela, mais uma vez, não foi diferente.
A reportagem ouviu três dos principais nomes do agenciamento esportivo no Brasil — Bernardo Pontes (Alob Sports), Cláudio Fiorito (P&P Sports) e Frederico Pena (Roc Nation Sports) — para entender como essa tempestade permanente de especulações afeta o mercado e como se administra, nos bastidores, um atleta global que opera no topo da pirâmide esportiva e midiática.
O movimento é cíclico e previsível: um post, uma foto, um comentário ou uma atuação abaixo da média pode acender a máquina global de especulações. No começo desta temporada, jornais europeus chegaram a apontar Vini Jr. no Manchester City, PSG e até na Arábia Saudita. Rodrygo, por sua vez, foi vinculado a Tottenham, Chelsea, Liverpool e Bayern.
— Os rumores, no futebol de elite, se comportam como um mercado financeiro: se apontam muito desejo, valores aumentam; se apontam pouco desejo, os valores diminuem. Na última janela, surgiram rumores de mais de dez clubes — salienta Fernando Torres, gestor de imagem e reputação de Rodrygo.
A força desse tipo de manchete afeta mercado, publicidade, investimento — e, sobretudo, a narrativa em torno do atleta. Bernardo Pontes, da Alob Sports, reforça que lidar com nomes desse calibre significa administrar a atenção de uma mídia que opera em escala global:
— Vamos partir do princípio que quando a gente fala de Rodrigo e de Vini Júnior são atletas globais. Que já jogaram Copa do Mundo e estão indo para a sua. Tudo que movimenta nomes globais gera uma repercussão e um envolvimento da mídia internacional muito grande — disse ao GLOBO. Segundo ele, o monitoramento existe — o controle, não.
— É o clube querendo mostrar um tamanho que tem grandeza para contratar um atleta desse tamanho… é o empresário que está tentando fazer a movimentação. (…) Quando a gente fala de Vini, quando a gente fala de Rodrigo, são atletas que não precisam desse tipo de rumor. É muito mais de fora para dentro do que de dentro para fora.
Um mercado onde nem todo rumor é igual — e alguns podem valer milhões
A cobertura internacional não apenas amplifica o debate: ela também influencia valores. Rumores ligados a Premier League, PSG ou Bayern elevam a percepção de grandeza e pressionam negociações. No caso do mercado árabe, há impacto distinto — tanto esportivo quanto comercial. Bernardo explica:
— Existem aspectos que interferem bastante nessa premissa publicitária. Se a gente falar do mercado árabe, é um mercado que não tem tanto atrativo assim para as grandes marcas. Agora, se ele continua ali centralizado nos grandes centros da Europa, o valor de mercado no que tange a publicidade continua bem quente.
A lógica se repete na Roc Nation Sports, que gerencia Vini Jr. e outros ícones globais. Para o CEO Frederico Pena, rumores não abalam o branding.
— Especulações não balançam uma marca. Um superstar não perde valor por causa de um boato. (…) Jogadores como Vini, Rodrygo, Neymar, Hulk, Memphis Depay… todos já operam acima dos clubes. O clube pode mudar. A marca permanece.
Num cenário em que Vini Jr. é protagonista dentro e fora de campo — seja na luta contra o racismo, seja como rosto de campanhas globais —, o gerenciamento de imagem é mais estratégico do que nunca. O brasileiro foi reconhecido como o jogador de futebol mais “comercializável” do mundo em 2024, segundo estudo do jornal SportsPro.
— A missão é direta: controlar a narrativa, proteger os ativos e cuidar das relações. (…) Um superstar opera acima do clube. O clube pode mudar. A marca permanece.
Sobre contratos com patrocinadores, ele reforça que não há cláusulas referentes a “queda de valor por rumor”.
— Atleta de elite não perde performance por boato. (…) Desvalorização por boato não existe. Marca global não reprecifica contrato por conversa de terceiros.
Cláudio Fiorito, da P&P Sports, destaca o papel da estratégia: — O atleta é o primeiro a saber de tudo antes que qualquer notícia saia na mídia, para que isso não atrapalhe o dia a dia dele —. E reforça que a agência não usa rumores para impulsionar negociações.
Negociações silenciosas
No campo financeiro, o impacto é ambivalente. Rumores ligados a clubes de Premier League ou Bayern aumentam o calor do mercado — elevam conversas, engajamento e percepção de grandeza. Já especulações envolvendo ligas de menor apelo comercial — como algumas equipes da Arábia Saudita — podem gerar dúvidas sobre continuidade de campanhas publicitárias, alcance global e até logística.
— Se o cara vai para um mercado mais secundário, isso atrapalha o desenvolvimento de campanhas. Mas, quando falamos de atletas desse tamanho, o comprometimento de publicidade é muito baixo — salienta Bernardo.
Nos contratos, há proteções, mas elas não se relacionam ao universo da especulação. O que afeta tempo de jogo, performance e continuidade não é o boato — e sim a forma como clubes e técnicos reagem ao clima externo. É nesse ponto que entra o relato de quem convive diariamente com o atleta. Fernando Torres explica ao GLOBO como o atacante lida com os ciclos de especulação e como eles interferem (ou não) na vida prática.
— Imagine uma pessoa comum… Imagina que uma fofoca sobre você começa a circular no ambiente de trabalho… só que você sabe que aquilo ali não tem fundamento e daqui a um tempo curto vai se dissolver. É muito importante separar o que é fato do que é especulação. Vai passar alguns dias ou semanas e aquilo vai se dissolver porque não é baseado em informações reais.
