Entre lágrimas e um desenho: relembre o depoimento da criança que levou a mãe à prisão nos EUA; caso pode ser reavaliado 17 anos depois
O depoimento de um menino de apenas sete anos, que comoveu o júri em 2008, voltou ao centro de uma disputa judicial na Flórida. O caso, que levou Amanda Lewis à prisão perpétua pelo assassinato da filha Adrianna, de sete anos, poderá ser reaberto após um tribunal aceitar analisar uma moção de “revisão pós-condenação”, baseada em supostas violações de direitos no processo original.
O passageiro que virou lenda: conheça o homem que ficou 18 anos preso em um aeroporto devido à burocracia da imigração
À época, o pequeno AJ Hutto desabou em lágrimas ao descrever, diante do promotor Larry Basford, como teria visto sua mãe afogar a irmã na piscina de 1,20 metro do quintal da casa da família, em Esto. O momento decisivo do julgamento ocorreu quando ele explicou um desenho de figuras de palito feito para o tribunal: “Essa é a minha mãe… matando a minha irmã”, disse, apontando para a linha grossa que representava, segundo ele, o braço de Lewis empurrando o rosto de Adrianna para baixo.
Assista:
A cena do menino vestido com camisa branca, colete preto e calças claras, sendo interrogado enquanto tentava controlar o choro, causou forte comoção no tribunal e no público. O juiz Allen Register considerou AJ uma testemunha competente, apesar da idade, e o depoimento se tornou o pilar da acusação. Lewis acabou condenada por homicídio e abuso infantil agravado.
Adrianna tinha sete anos quando foi assassinada
Reprodução
Relembre o depoimento: durante o julgamento, AJ descreveu ter visto tudo enquanto estava perto de uma árvore e escreveu “ela fez” no desenho apresentado aos jurados. Questionado no tribunal sobre o que significava a frase, disse que queria dizer “ela morreu”, referindo-se à irmã. O relato, contudo, oscilou durante o interrogatório e é justamente essa inconsistência que voltou a ser questionada por defensores da ré.
O desenho que AJ fez retratando o assassinato de sua irmã
Reprodução
Desde sua prisão, Lewis sempre negou as acusações. Ela diz que Adrianna caiu acidentalmente na piscina ao tentar tirar insetos da água enquanto a mãe tirava um cochilo após retornar de um turno noturno. Em depoimentos posteriores, como à ABC News em 2010, ela reafirmou que encontrou a filha já desacordada: “Quando cheguei à piscina… ela estava de bruços… muito roxa, muito azul”, disse, relatando ter iniciado RCP antes de acionar o 911. A menina foi levada de helicóptero ao hospital, mas não resistiu.
Amanda Lewis foi condenada à prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional
Reprodução
A narrativa de acidente é endossada por apoiadores de Lewis, que afirmam que o caso representa um erro judiciário. Amanda Lewis, professora adjunta de sociologia em Georgetown e defensora da mãe — homônima, mas sem relação familiar — afirma que “o caso não começou com um crime, começou com uma tragédia”, e que suposições distorcidas teriam levado à condenação. Ela diz que o luto da mãe e o trauma do filho foram usados contra ambos.
Hoje adulto, AJ quebrou o silêncio após 17 anos. Em entrevista ao Daily Mail em abril, aos 24 anos, agora casado e bombeiro, ele reafirmou o que disse no tribunal: “Acredito que minha mãe biológica é cem por cento culpada. Mantenho cada palavra que disse no julgamento.” Após a condenação, o menino foi adotado, teve o nome trocado e deixou de aparecer publicamente, embora acompanhasse à distância as tentativas da mãe de reverter a sentença.
Se a revisão judicial for aceita, a condenação de Lewis poderá ser anulada, abrindo espaço para um novo julgamento ou até sua libertação. A decisão ainda não tem data para ser anunciada.
