Enem no Mercosul: só 10% dos alunos estrangeiros nas universidades brasileiras são de Argentina, Uruguai e Paraguai
As instituições de ensino superior no Brasil atraem uma fatia pequena de alunos do Mercosul. De acordo com as Notas Estatísticas do Censo da Educação Superior de 2024, documento produzido pelo Ministério da Educação (MEC), eles somam apenas 10% dos estudantes estrangeiros matriculados naquele ano. Anteontem, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que estuda aplicar a prova do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) em Assunção, Buenos Aires e Montevidéu, as capitais de Paraguai, Argentina e Uruguai, respectivamente.
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Os dados mostram que o Brasil tem 27,3 mil estudantes estrangeiros no ensino superior. Eles representam menos de 0,3% de todas as matrículas de graduação no Brasil. Já os países do Mercosul somam apenas 2.910 mil alunos. Na avaliação de Maria Helena de Castro, que já foi presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, responsável pela formulação e aplicação do Enem), a medida estudada pelo MEC pode incentivar uma maior internacionalização das instituições brasileiras de ensino, ao atrair mais alunos estrangeiros da região, e também fazer com que fique mais fácil para que o estudante daqui explore outros países.
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— Isso também pode incentivar universidades estrangeiras a adotarem o Enem para ingresso nas suas instituições, assim como algumas instituições portuguesas já fazem — observou a especialista.
Apesar de o Brasil ter aberto a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) há 15 anos em Foz do Iguaçu, na fronteira com Cidade de Leste — o segundo maior município do Paraguai, com 350 mil pessoas —, há apenas 1.266 estudantes desse país no Brasil. Esse é o quinto maior grupo de estrangeiros, abaixo de venezuelanos (2.108), angolanos (1.863), japoneses (1.596) e bolivianos (1.444). Já o grupo formado por alunos argentinos (1.070) é menor do que o de estudantes da Guiné-Bissau (1.192), nação lusofônica da África Ocidental. Além disso, há mais afegãos (703) do que uruguaios (574).
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) há 15 anos em Foz do Iguaçu
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Por outro lado, brasileiros se aventuram com bem mais frequência às salas de aula dos nossos vizinhos. Na Argentina, por exemplo, a universidade pública é gratuita e não exige vestibular. Por isso, muitos alunos do Brasil buscam vagas em Buenos Aires, especialmente para cursar Medicina. Dados de 2022 apontam que 4% dos estudantes de ensino superior no país eram imigrantes. Desse grupo, 16% eram brasileiros.
O Paraguai é outro país que atrai brasileiros para o ensino superior. Até julho de 2024, o país abrigava 48.196 brasileiros com visto de estudante, de acordo com um relatório da Direção Nacional de Migrações encaminhado à Embaixada do Brasil em Assunção, capital do país.
O curso de Medicina também é o mais procurado, principalmente pelos valores de mensalidade. Lá, é possível encontrar cursos a partir de R$ 900, enquanto no Brasil a mensalidade parte dos R$ 5 mil.
A ideia do Ministério da Educação (MEC) é ter o teste em português nas capitais do Mercosul para estrangeiros e brasileiros que estejam nesses países realizarem a prova já a partir de 2026. Os estudantes competiriam pelas mesmas vagas das universidades brasileiras. Ainda não há uma definição clara se os alunos de fora do Brasil poderão concorrer às bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni), que tem sofrido para preencher todas as vagas, mas cuja lei as destina apenas a brasileiros, ou para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), modalidade em que a pessoa só paga o curso após se formar.
Sem estimativa
O objetivo da expansão, segundo ele, é abrir as portas das universidades brasileiras para alunos dessa região. Responsável pela aplicação da prova, o presidente do Inep, Manuel Palácios, disse que estuda fazer o exame em formato digital nos países vizinhos.
— Também estamos tentando estimar que acréscimo teria no número de inscritos para que a gente tenha um cenário mais claro para o anúncio — diz.
O GLOBO procurou a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que afirmou ter recebido a notícia na noite anterior e que ainda precisa avaliar o impacto dessas mudanças. Já o setor privado entende que pode conseguir aumentar a captação de estudantes estrangeiros com a aplicação do Enem no Mercosul, mas acredita ser improvável que a medida tenha um impacto grande.
— É possível afirmar que a medida tem potencial, mas não existem evidências concretas que permitam afirmar que o crescimento será significativo — afirmou Janguiê Diniz, diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
