Enem 2025: os principais erros de redação após mil correções feitas pela IA do GLOBO
Uma análise de cerca de mil redações corrigidas pela inteligência artificial (IA) do GLOBO, ferramenta produzida em parceria com o grupo Eureka, mostrou que a má utilização de conectivos foi o que mais tirou ponto dos estudantes que usaram a plataforma. Também se destacaram problemas de pontuação, erros de concordância, problemas com a regência e repertório sociocultural limitado ou ausente.
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A ferramenta usa inteligência artificial para corrigir textos com base nas cinco competências exigidas pela avaliação da redação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Cada uma delas vale 200 pontos. As provas serão realizadas este ano nos dias 9 e 16 de outubro. A plataforma do GLOBO vem recebendo conteúdos produzidos por estudantes e indicando erros, acertos e sugestões para evoluir.
— O erro é o maior aliado do aprendizado. Só erra quem está tentando — afirma o professor Marco Saliba, do Grupo Eureka.
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De acordo com o relatório, três dos cinco erros mais frequentes registrados estão na competência 1 (demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa), e há uma forte correlação entre esses problemas: candidatos que não acertam concordância tendem a errar também regência e pontuação.
Já na competência 4 (demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação), percebe-se um paradoxo. Em 43,6% das redações, os conectivos não são usados. Em 28,5%, há uma repetição excessiva deles.
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Outro aspecto importante é que o repertório sociocultural é o problema mais abrangente, afetando mais da metade (52,3%) dos candidatos. No entanto, ele tem um impacto individual menor na nota do que erros gramaticais.
— Esse cenário é muito preocupante. A linguagem está ligada a como escrever. E o repertório, ao que escrever. As duas questões básicas de um bom texto estão saindo prejudicadas nessas cinco maiores dificuldades dos estudantes — diz o professor do Eureka.
Saliba recomenda ainda que a plataforma de IA seja usada em parceria com um educador.
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— A IA é uma ferramenta potente, rápida, que deve ser usada dentro de um contexto maior, com um professor fazendo mediação de estudo. Temos que escrever muito, reescrever e usar todas essas tecnologias e ferramentas para que a gente construa um texto nota mil no Enem — diz.
Abaixo, todos os exemplos foram retirados da plataforma do GLOBO e tiveram a nota atribuída pela inteligência artificial treinada para a correção de textos do Enem.
1 - Falta de Conectivos (Competência 4)
A ausência ou uso insuficiente de conectivos compromete a coesão textual, dificultando a compreensão das relações lógicas entre ideias. Este é o erro mais frequente identificado na base de dados, afetando quase metade (43,6%) dos candidatos. De acordo com o relatório, 18,3% das redações tiram nota muito baixa (menor do que 80) e apenas 31% alcançam nota máxima (200).
Veja o exemplo: "Cada dia que passa, isso vai se tornando mais preocupante, devido as situações de guerras que espalham-se pelo mundo a fora. Países vizinhos guerrilhando-se um com outro em busca de terras de grandes valores, isso atinge os moradores que têm que fugirem para outros países em busca de paz. Com isso, aumenta o número de migração, o que impacta em mais atendimento a saúde, lazer e alimentação."
Observação do grupo Eureka: Note a repetição de "isso" e a falta de conectivos que estabeleçam relações lógicas claras entre as frases. O texto tirou 40 na Competência 4.
Veja o exemplo: "O tema imigração é algo complexo e muito difícil de ser debatido, com o aumento substancial de imigrantes pelo mundo , pode ser ter a idéia de como a busca por uma vida melhor fora de seu país se torna algo mais comum nos dias de hoje, muitas vezes causado pela fraqueza financeira que alguns paises vivem ou por guerra como na Líbia ou Ucrânia."
Observação do grupo Eureka: Período longo sem conectivos adequados, dificultando a compreensão da relação entre as ideias. O texto acima tirou 80 na Competência 4.
2 - Problemas de Pontuação (Competência 1)
Erros de pontuação comprometem a clareza do texto e demonstram desconhecimento da norma culta. Este é o segundo erro mais frequente (43,6%), praticamente empatado com a falta de conectivos.
Veja o exemplo: "Desde a Antiguidade as migrações humanas moldaram o curso da história seja nas travessias do Império Romano em busca de novas terras, seja na colonização europeia da América. No entanto enquanto o deslocamento era símbolo de expansão na contemporaneidade passou a representar, muitas vezes, fuga da miséria e da violência."
Observação do grupo Eureka: Falta vírgula após "Antiguidade" (adjunto adverbial deslocado), falta vírgula após "entanto" e após "enquanto". O texto tirou 80 na Competência 1.
3 - Erros de Concordância (Competência 1)
Erros de concordância verbal e nominal são considerados graves por serem aspectos básicos do domínio da língua. Este é o terceiro erro mais frequente (41,1%) e um dos mais penalizados. Ele está presenten em 70% das redações com nota menor do que 80 na Competência 1.
Veja o exemplo: "É preciso reconhecer que apesar disso os mesmos tem uma contribuição importante para a cultura daquele país e ajudaram a transformar o conceito de nação em algo mais diverso, rico e plural."
Observação do grupo Eureka: Em "os mesmos tem" há erro de concordância verbal. O correto seria: "os mesmos têm". O texto tirou 80 na Competência 1.
4 - Erros de Regência (Competência 1)
Erros de regência verbal e nominal são identificados como "desvios que comprometem a adequação à modalidade escrita formal". Esse problema foi identificado em 38,4% dos textos analisados pela plataforma.
Veja o exemplo: "O tema imigração é algo complexo e muito difícil de ser debatido, com o aumento substancial de imigrantes pelo mundo, pode ser ter a idéia de como a busca por uma vida melhor fora de seu país se torna algo mais comum nos dias de hoje"
Observação do grupo Eureka: Em vez de "pode ser ter", a estrutura adequada deveria ser: "pode-se ter". O texto tirou 80 na Competência 1.
5 - Repertório Sociocultural Limitado ou Ausente (Competência 2)
Repertório sociocultural refere-se ao uso de conhecimentos externos ao texto motivador para fundamentar a argumentação (obras literárias, dados estatísticos, eventos históricos, conceitos filosóficos/sociológicos). A ausência (apontada em 14,6% dos textos) ou limitação (em 37,7%) deste repertório é o problema mais frequente identificado, afetando mais da metade dos candidatos.
Veja o exemplo: "Cada dia que passa, isso vai se tornando mais preocupante, devido as situações de guerras que espalham-se pelo mundo a fora. Países vizinhos guerrilhando-se um com outro em busca de terras de grandes valores, isso atinge os moradores que têm que fugirem para outros países em busca de paz."
Observação do grupo Eureka: Argumentação baseada apenas em senso comum, sem nenhuma referência externa específica. O texto tirou 80 na Competência 2.
Conheça a plataforma
A página de correção das redações com IA liberará um novo tema por semana. Em novembro, a poucos dias da prova, três novos assuntos serão disponibilizados. Os dois primeiros textos poderão ser acessados por todos os leitores — é preciso apenas preencher um cadastro. O conteúdo restante estará restrito aos assinantes do GLOBO.
O aluno poderá escrever o texto diretamente na plataforma pelo celular ou no computador. Outra alternativa é fazer a redação à mão, tirar uma foto da folha de papel, conferir o que a inteligência artificial captou da escrita — e fazer ajustes, se necessário. Depois, é só solicitar as correções.
— Para tirar nota boa na redação, é preciso conhecer os critérios de correção e treinar bastante. Nossa inteligência artificial ajuda nas duas tarefas — explica Bruno Alfano, repórter do GLOBO especializado em educação e um dos idealizadores da ferramenta.
O professor Marco Saliba, do Grupo Eureka, destaca que toda tecnologia educacional deve ser encarada como mais uma ferramenta de aprendizagem dentro de um conjunto maior, que forma um processo pedagógico:
— Tem o lápis, o caderno e a plataforma digital. Ela não substitui o professor, mas pode ajudar muito sendo uma ferramenta a mais para melhorar a escrita e sanar problemas pontuais às vésperas do exame para aumentar a nota.
‘Bom domínio’
A ferramenta do GLOBO, além de apontar os erros, também sugere melhorias. “Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa, com estruturas sintáticas bem elaboradas e vocabulário adequado. Apresenta desvios esporádicos que não comprometem a clareza”, discorreu a IA ao avaliar o texto de Maria Clara Reis Pereira, aluna de 17 anos do Colégio Qi-Metropolitano, que tirou 960, de um máximo de 1.000.
— Com a correção, consigo analisar se meu modelo para redação está dando certo e identificar os pontos que eu preciso melhorar, como argumentação, estrutura, vocabulário — enumera a jovem.
Já o experiente professor de redação Lucas Neves, do Colégio Leonardo da Vinci, tirou mil. “Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma consistente e organizada”, elogiou a plataforma.
— A estrutura do texto, as questões gramaticais e a consistência da argumentação são os maiores desafios na hora de fazer a redação. A boa notícia é que elas melhoram com a prática — recomenda Neves.
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