Diretor da Enel afirma que carros ficam parados em pátios por "rotatividade de turno"

 

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Imagens feitas pela TV Globo nesta quinta-feira (11) mostraram pátios da Enel lotados de veículos em três pontos da cidade de São Paulo após o vendaval que atingiu a cidade na quarta (10). Mais de 2 milhões de imóveis chegaram a ficar sem luz e nesta quinta, 1,2 milhão seguiam no escuro, o equivalente a 15% da rede da concessionária na Grande São Paulo. Na capital, 890 mil pontos ainda enfrentam a falta de energia, o equivalente a 15%.

Em entrevista para o Bom Dia São Paulo, Marcelo Puertas, diretor regional da Enel, afirmou que os carros estavam parados nos pátios pela rotatividade entre turnos. O assunto foi tema de notificações contra a empresa por parte da prefeitura de São Paulo e o Procon-SP.

— Nós temos basicamente três turnos de trabalho. Esses carros são do período da tarde de ontem, de pessoas que saíram às 22h, à meia-noite, 1h da manhã. E também do período da madrugada, pessoas que trabalharam até agora e voltaram. Então é uma rotatividade de veículos. As pessoas precisam descansar — disse Puertas.

Ele afirmou também que a empresa aumentou o número de funcionários desde o apagão de outubro de 2024.

— Contratamos 1.200 colaboradores e estamos em fase de contratação de mais 400. Praticamente dobramos o número de pessoas. Além disso, temos empresas parceiras em campo — afirmou o diretor.

A concessionária também divulgou que mobilizou mais de 1.500 equipes para o atendimento dos usuários ao longo de quarta.

A falta de energia que já dura mais de 24 horas e alguns bares e restaurantes em diferentes regiões da cidade já contabilizam os prejuízos. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) somente o setor de serviços deixou de faturar R$ 1 bilhão entre esta quarta (10) e quinta-feira (11), enquanto o comércio perdeu R$ 511 milhões.

Em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, o restaurante especializado na cozinha do Oriente Médio Make Hommus. Not War está há 24 horas sem energia e precisou suspender os serviços no almoço e jantar de ontem, além do almoço de hoje.

A estimativa é que o prejuízo chegue a R$ 50 mil, tendo em vista os dias sem funcionamento e o grande volume de alimentos estocados que terão de ir para o lixo, pois ficaram sem refrigeração.

Com o apagão, muitos moradores estão tendo de improvisar e pedir favores para conseguir carregar o celular.

Na Vila Santa Catarina, próximo ao terminal Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, Beatriz Gatz, de 21 anos, segue sem energia desde às 9h de quarta-feira (10). Moradora do 12º andar de um prédio da Rua Viçosa do Ceará, ela conta que os geradores estão fornecendo energia apenas para a parte social do prédio, elevadores e portões.

—-Têm muitas crianças e idosos aqui, estávamos em um grande problema sem geradores. Primeiro informaram que a luz voltaria ontem ao meio dia de ontem, mas nada. Depois a previsão passou para às 14h, para às 17h… E até agora não voltou — conta.

Enel na mira da Aneel em processo que pode levar ao fim de concessão

O apagão pressiona ainda mais a Enel na esfera regulatória, já que a empresa é alvo de um processo de análise da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que pode culminar na caducidade da concessão.

Do lado político, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), voltaram a criticar publicamente a concessionária e pediram a intervenção dos órgãos federais na concessão ou a rescisão do contrato.

A empresa é responsável por distribuir energia elétrica para 24 municípios, incluindo a capital, que somam 8,5 milhões de clientes ao todo. A concessão foi assumida pela Enel em 2018, quando a empresa italiana comprou a Eletropaulo, mas virou epicentro de crises desde 2023, por conta de apagões que impactaram milhões de pessoas na maior cidade do país.

Desde então, a concessionária virou alvo de um processo de fiscalização da Aneel, que cobra melhorias nos indicadores da empresa especialmente para reduzir o tempo médio de atendimento a ocorrências emergenciais, a redução das interrupção de 24 horas ou mais e a melhoria na capacidade de mobilização de equipes em caso de eventos climáticos extremos. No mês passado, a Aneel decidiu prorrogar o prazo da fiscalização até março de 2026, para avaliar como o serviço vai ser prestado no período de chuvas — em São Paulo, geralmente entre dezembro e fevereiro.

Como esta avaliação está em curso, o desempenho da empresa no apagão desta semana também será considerado pela agência reguladora, colocando ainda mais pressão sobre a concessionária, que em paralelo tenta renovar a concessão no estado para mais 30 anos.