
Dinossauro amazônico? Descoberta de espinossauro no Peru muda mapa da pré-história sul-americana; entenda

Você já imaginou que um simples dente poderia reabrir feridas pré-históricas tão antigas que mal conseguimos conceber? Em Bagua Grande, na região amazônica do Peru, cientistas encontraram um fóssil que faz exatamente isso: um dente que confirma que dinossauros do grupo dos espinossauros, predadores adaptados à vida semiaquática, habitavam o território peruano no apagar das luzes do Cretáceo, há cerca de 66 milhões de anos.
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O espécime, catalogado como MUSM 5121, foi descoberto em Bagua Grande, capital da província de Utcubamba, no nordeste do Peru. Ele se destaca por suas características: coroa relativamente fina com duas carenas, seção transversal arredondada, esmalte rugoso e estrias longitudinais, marcas que o aproximam dos espinossauros bem conhecidos, como o Spinosaurus aegyptiacus da África. Essas informações foram confirmadas por análises conduzidas por paleontólogos peruanos e especialistas da Universidade de Michigan. Além disso, este é o primeiro registro material desse grupo no Peru, algo que muda de vez o que se sabia sobre a distribuição desses gigantes carnívoros.
Esse fóssil será apresentado pela primeira vez ao público na exposição “Espinossauro no Peru”, que estreia no Museu de História Natural da Universidade Nacional de San Marcos nesta terça-feira (16). A partir dele, não é só uma curiosidade local: trata-se de evidência concreta de que esses predadores ocuparam territórios que antes se pensava pouco compatíveis para sua presença.
Implicações para geografia, evolução e paleontologia peruana
De acordo com o Infoabe, segundo Rodolfo Salas-Gismondi, chefe do Departamento de Paleontologia de Vertebrados do MHN, o achado permite afirmar com firmeza que era um espinossauro, sem alternativas plausíveis entre os animais conhecidos do período. Ele também aponta que, embora ainda não se saiba a que gênero esse dente pertence, a descoberta reforça a hipótese de que leste do Brasil e oeste do Peru estavam conectados, mesmo com a existência de um mar interior na Amazônia peruana naquela época.
Antes deste achado, os registros de espinossauros na América do Sul vinham principalmente do Brasil, este novo fóssil no Peru coloca o país como o segundo com evidências diretas deste grupo no continente. Essas novas pistas ajudam a entender não apenas quem eram esses animais, mas como se movimentavam e se distribuíam em um cenário em transformação, marcado por elevações como o início da Cordilheira dos Andes e grandes inundações costeiras.
Uma descoberta desse tipo também abre caminho para repensar o potencial paleontológico de Bagua Grande. A região, até então pouco estudada para restos de dinossauros, mostra agora ter “o maior potencial para encontrar ossos de dinossauros no Peru”, nas palavras de Salas-Gismondi.
Fósseis como dentes (ou ossos) exigem ambientes específicos para se preservarem — geralmente áreas com “alta energia”, capazes de enterrar e proteger fragmentos antes que se desintegrem — enquanto pegadas, mais comuns localmente, se dão em zonas litorâneas ou costeiras de baixa elevação. Bagua Grande parece combinar essas duas condições, o que a torna uma janela rara para o final da Era dos Dinossauros no Peru.
O poder de um dente, portanto, vai muito além do que seus centímetros sugerem: ele reabre trilhas antigas, conecta territórios distantes, e nos lembra que, antes de toda civilização, a América do Sul era palco de gigantes, nadando, caçando, vivendo em ecossistemas que hoje só existem nas montanhas da imaginação.