De grupo de oração a visita de Nikolas e outros aliados: a rotina de Bolsonaro às vésperas da prisão
Nos dias que antecederam a prisão, a rotina do ex-presidente Jair Bolsonaro girou em torno de um círculo cada vez mais estreito, com conversas com aliados mais próximos, presença do grupo de oração da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e visita de alguns familiares.
No sábado, Bolsonaro foi preso preventivamente por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado viu risco de fuga diante da suspeita de tentativa de violação da tornozeleira eletrônica e da organização de uma vigília na frente do condomínio do ex-presidente que havia sido convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para o próprio sábado.
Gráfico mostra a sala da Polícia Federal, em Brasília, onde Jair Bolsonaro está preso
Arte O Globo
A ordem não está relacionada com a condenação a 27 anos e três meses de prisão na trama golpista, processo que ainda não transitou em julgado.
Bolsonaro foi condenado pela Primeira Turma do da Corte a 27 anos e três meses de prisão em regime inicial fechado por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
Nos últimos dias, Bolsonaro recebeu alguns parlamentares aliados, como o senador Magno Malta (PL-ES). Na saída do condomínio onde vive o ex-presidente, Malta fez questão de dizer que encontrou um homem “forte e determinado”. A realidade, no entanto, relatada por pessoas do entorno de Bolsonaro é outra. Figuras ouvidas pelo GLOBO afirmaram que além dos problemas de saúde, o ex-presidente seguiamuito abatido e com receio de ir para a Papuda.
Além disso, os relatos eram de agravamento das crises de soluço, refluxo e dispneia (falta de ar). O ex-presidente também vomita com alguma frequência, segundo informações de pessoas próximas. As crises de soluço muitas vezes o impedem de se alimentar direito, segundo aliados. Ele costuma passar o dia vendo TV, assistindo a um noticiário ou outro e partidas de futebol, além de receber as visitas. Quem também esteve lá foi o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que deixou o condomínio onde o Bolsonaro mora alertando para a possibilidade de ele ser preso nos dias seguintes, o que acabou ocorrendo.
Dos familiares, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) o visitam com alguma frequência. O vereador de Balneário Camboriú Jair Renan Bolsonaro (PL) também viu o pai algumas vezes. O irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Eduardo Torres, tem sido a figura mais presente e tomou o posto de uma espécie de secretário do ex-presidente. O grupo de oração esteve no condomínio na quarta-feira — as visitas foram frequentes no período em que ele ficou em prisão domiciliar.
Apesar dos encontros, interlocutores próximos relataram que o ex-presidente estava mais abatido, isolado e se sentindo sozinho. A ex-primeira-dama ganhou mais protagonismo nas agendas do PL depois das restrições impostas a Bolsonaro, ainda no meio do ano. Com muitas viagens, Bolsonaro fica apenas com o irmão de Michelle e tem se sentido desamparado. Ela estava em Fortaleza no momento em que o ex-presidente foi preso.
Entre as crises de soluço, as partidas de futebol e os remédios, Bolsonaro ainda vinha reforlando a esperança de se livrar por meio de um projeto de anistia. As conversas com seus visitantes envolvem também as possíveis candidaturas para o ano que vem, quando o ex-presidente comenta os nomes dos governadores da direita que são pré-candidatos, como Tarcísio e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Este último tem, inclusive, uma visita já autorizada para o dia 9 de dezembro.
