De coração novo, Davi, de 7 anos, crê na vitória do Flamengo com dois gols de BH e sonha ver um jogo no estádio
De coração novo, Davi Rafael Correa da Rosa, de 7 anos, tem tudo preparado para comemorar o tetracampeonato do Flamengo na Libertadores, na final de hoje, em Lima. A aposta é uma vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, com dois gols de Bruno Henrique, um dos seus ídolos. A bandeira rubro-negra na porta da casa em Monteiro Lobato, interior de São Paulo, é um indicativo para os vizinhos de que naquele lar haverá muita festa em caso de título. Seu pai André Fabiano Correa já comprou os fogos de artíficio da comemoração.
Porém, tudo terá que ser comedido. De alta há apenas uma semana após realizar um delicado transplante de coração, Davi está sob isolamento. Ele assistirá ao jogo ao lado do pai, da mãe Wandressa e do irmão mais velho Miguel. De camisa do Flamengo e comendo os quitutes preparados por ela.
—Ele está ansioso, já perguntou o que teremos para comer — disse o pai, que terá de sair mais cedo do trabalho (numa concessionária de energia como técnico de alta tensão) no Vale do Paraíba para chegar a tempo do jogo.
Davi joga na escolinha da cidade e atua em várias posições: de goleiro a ponta-esquerda
Arquivo Pessoal
Há um mês, o menino precisou ser internado ao ser constatado um problema cardíaco. A biópsia identificou uma miocardiopatia dilatada com indicação de transplante em urgência. Davi foi operado, mas o órgão doado não bateu de primeira, necessitando de uma máquina fazendo as vezes do coração.
Tomado pela fé em Deus e no Flamengo, André decidiu assistir à semifinal com o Racing ao lado do filho, totalmente sedado. Colocou o jogo no máximo volume com a certeza de que a classificação à final da Libertadores faria o novo coração funcionar. Deu certo.
Davi, no entanto, não tinha noção do tempo. O garoto, que precisou ficar sedado por algumas semanas em virtude dos equipamentos que mantinham suas funções vitais, achou ter passado apenas um dia dormindo.
—Eu tive que explicar para ele e contar a caminhada do Flamengo. Contei da classificação à final, e ele perguntou quem estava lá. Quando falei que era o Palmeiras, ele disse que dessa vez o Flamengo ia ganhar — relembra o pai.
A paixão pelo futebol e pelo Flamengo é claramente uma herança de família. Nascido em Passa Quatro, em Minas Gerais, André, de 31 anos, assim como seu pai, teve contato primordialmente com times cariocas cujos jogos passavam na TV. Davi mal teve escolha. Ainda bebê já vestia body e sapatinhos nas cores vermelho e preto. Mas a recente trajetória vencedora do Flamengo teve peso grande para manter o coração totalmente rubro-negro.
Davi da Rosa
Arquivo Pessoal
A distância, contudo, impede esse amor de se realizar plenamente. O menino de 7 anos nunca viu o Flamengo no estádio. André só foi uma vez ao Maracanã, nas quartas de final da Copa do Brasil contra o Athletico, em 2023. Ele sonha levar o filho ao estádio.
—Seria lindo e muito bom para a recuperação total dele. Foi um baque muito grande para uma criança, e ir ao jogo seria motivacional — diz André, recordando que o filho ficou emocionado com os vídeos de alguns jogadores do Flamengo, como Rossi, Pulgar e Léo Pereira. — Ele adoraria um do Bruno Henrique também.
O sonho ainda levará um tempinho a ser realizado. Davi deve ficar de três a seis meses longe do colégio, da escolinha de futebol — outra grande paixão do menino — e de outras aglomerações até receber alta total.
Por enquanto, Davi se contenta com algumas escapadinhas no campinho perto de casa para bater uma bolinha. A paixão por ela é antiga e ser jogador de futebol um objetivo — ele se arrisca do gol à ponta esquerda. André conta que o filho já foi visto por um olheiro ano passado, mas só poderia fazer um teste quando fizesse 8 anos (em fevereiro de 2026). Mas terá que esperar até coração estar no compasso certo.
