De comida à prova de seca a técnicas de captura de carbono, as inovações para driblar a crise climática
Num mundo em crise climática, a Terra se tornou laboratório. A ciência mobiliza-se em duas frentes para combater as mudanças do clima e seus efeitos previstos até o fim do século. Uma é conter e absorver emissões de gases-estufa. A outra, preparar sociedades para impactos inevitáveis. Como mostraram estudos apresentados na COP30, não há balas de prata. São necessárias numerosas soluções para uma crise que atinge cada aspecto da vida no planeta.
Uma das áreas que mais avançaram e ainda promete progresso é a geração de energia solar. Ela teve os custos reduzidos em 90% em 15 anos, tornou-se a fonte mais barata de eletricidade. Sam Stranks, da Universidade de Cambridge, observa que painéis de silício têm agora o mesmo custo que madeira compensada. A próxima geração de células tandem silício-perovskita promete eficiência 50% maior.
As projeções indicam que a energia solar responde por 7% da eletricidade global. Essa fatia poderá crescer a 80% até 2100, segundo estimativas da Ember, think tank de energia.
Para conter o aquecimento global dentro dos limites do Acordo de Paris, a redução drástica das emissões de gases de efeito estufa é fundamental, porém insuficiente. Um estudo apresentado no Pavilhão de Ciência Planetária da COP30 e preparado pelo World Climate Research Programme dentre outras instituições evidenciou que se tornou indispensável desenvolver tecnologias para remover ativamente o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, um campo conhecido como Carbon Dioxide Removal (CDR).
A CDR surge para compensar as “emissões residuais”, provenientes de setores em que a descarbonização é tecnológica ou economicamente complexa, como aviação, pecuária e em segmentos da indústria pesada. Adicionalmente, a capacidade de remoção de carbono será crucial no longo prazo para reverter eventuais overshoots, ou seja, períodos em que a temperatura global exceder temporariamente a meta de 1,5°C, visando um resfriamento posterior.
Comida do futuro
As tecnologias de CDR dividem-se entre métodos convencionais e inovadores. Os convencionais, como a restauração e o manejo florestal, são relativamente bem estabelecidos, mas ainda precisam de escala no Brasil e no mundo.
Um dos mais inovadores no mundo é a Grande Muralha Verde no Sahel, que emprega geotecnologia e drones para plantar bilhões de árvores. A iniciativa liderada pela União Africana tenta conter o avanço do deserto do Saara, combater a desertificação e restaurar terras degradadas em uma faixa de 8 mil quilômetros.
No Brasil, pesquisadores de USP e Universidade Federal de Viçosa (UFV) coordenam projetos de restauração florestal usando drones, elevando a taxa de sobrevivência de mudas de 30% para mais de 80%.
Há ainda os métodos de captura. A implantação prática já começou. Empresas como a suíça Climeworks operam unidades comerciais, como a inaugurada na Islândia em 2024, com capacidade de capturar 4.000 toneladas de CO₂ anualmente. A canadense Carbon Engineering também avança nesta fronteira tecnológica. Contudo, os planos nacionais, incluindo os do Brasil, estão muito aquém do necessário, alertam cientistas.
As medidas de adaptação são igualmente críticas e já estão em curso. Na adaptação, sistemas de alerta precoce usando inteligência artificial permitiram evacuações antecipadas em Moçambique e Bangladesh, enquanto cidades como Rotterdam, na Holanda, e Perth, na Austrália, implementam infraestruturas verdes que absorvem águas pluviais e também reduzem o calor.
No que diz respeito à adaptação, o Brasil destaca-se por iniciativas que combinam tradição e inovação no setor agrícola. A Embrapa desenvolveu e apresentou na COP30 uma gama de cultivares adaptadas às novas condições climáticas. Exemplos incluem o arroz Esmeralda, que demanda menos água para produzir, e o feijão Tumucumaque, biofortificado com maiores teores de zinco e ferro.
— A agricultura brasileira é e deve continuar a ser baseada em ciência. Podemos ter uma agricultura de baixo carbono e mais resiliente — afirmou na COP30 a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.
A inovação na adaptação agrícola estende-se para os bioinsumos. O Brasil é o maior utilizador global desses produtos, que incluem desde fertilizantes até defensivos agrícolas de base biológica. O Auras, um probiótico para plantas desenvolvido a partir de microrganismos da Caatinga, por exemplo, protege as raízes contra a escassez hídrica. Já o BiomaPhos, uma combinação de microrganismos, melhora a eficiência na absorção de fósforo pelas plantas. O Brasil importa entre 80% e 90% do consumo desse nutriente.
Desafio de escala
Esses avanços são vitais para a agricultura familiar, que engloba 3,7 milhões de produtores rurais. Marcelo Morandi, pesquisador da Embrapa que atuou com a equipe de negociadores do Itamaraty, ressaltou que a adaptação do campo é fundamental para nossa economia e segurança alimentar.
Apesar das soluções tecnológicas existentes, tanto em CDR quanto em adaptação, a implementação em escala adequada permanece um desafio global. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) enfatiza que investimentos em pesquisa e desenvolvimento precisam triplicar para que tecnologias promissoras saiam dos laboratórios e atinjam o mercado.
