Custos para casar e mudança cultural impulsionam uniões informais

 

Fonte:


Censo aponta que quatro em cada dez casais dispensam registro civil ou cerimônia religiosa. De acordo com o IBGE, fenômeno se torna mais comum nas camadas de baixa renda. Pesquisador também aponta que muitas pessoas relativizam o casamento como um ritual imprescindível. Aliança, vestido, terno, bolo, salão de festas, buquê e decoração... Todas essas coisas que deixam os casais apaixonados nas nuvens pesam tanto no bolso, que cada vez mais gente acaba adiando o "grande dia" de dizer o "sim" para o amado ou amada.

É o caso da Ana Luisa Vasconcelos e do companheiro Carlos Paz. Eles se conheceram há 8 anos, moram juntos há cinco e nem cogitavam casar, a princípio. Mas, depois de serem convidados para cerimônias de casamentos e até para serem padrinhos de amigos, o pensamento mudou: veio a decisão de juntar dinheiro para casar no papel e fazer a própria festa.

A profissional de Relações Públicas conta que o esforço é grande, mas vale a pena.

"O custo de uma festa de casamento é bem alto, e por isso a gente preferiu esperar um pouquinho para ter certeza de que era o investimento que a gente realmente queria fazer. Então, inicialmente o valor da festa foi um dos fatores que fez a gente demorar um pouquinho para dar esse passo juntos, mas eu acho que foi uma decisão bem acertada porque hoje a gente tem certeza de que é um gasto que vai valer a pena".

A virada no Censo: união consensual é maioria

A história do casal é um retrato de uma mudança captada pelo último Censo. Há pouco mais de uma década, a tradição ainda falava mais alto, e os casais unidos no civil e no religioso eram a maioria. Mas, pela primeira vez, a união consensual — aquela sem certidão de casamento ou cerimônia na igreja — virou a mais comum.

De acordo com o IBGE, os que moram juntos com união estável registrada em cartório ou sem nenhum registro oficial já representam quatro em cada 10 casais. A pesquisadora do instituto Luciene Longo diz que os dados são claros: quanto menor a renda, menor a chance de um casamento oficial.

"Casar com toda pompa e circunstância, num casamento civil e religioso, é caro. Então, as pessoas de renda mais baixa tendem a se casar de forma consensual, se unir de forma consensual"

Casar custa — e custa caro

E não é para menos. O informe do setor nupcial de 2025, feito pela plataforma casamentos.com.br, aponta que o custo médio de uma festa de casamento ultrapassa os R$ 50 mil.

Para o filósofo e pesquisador de relacionamentos Renato Noguera, a questão financeira é importante, mas não explica tudo. Mudanças culturais ao longo dos anos também colaboraram para relativizar o casamento como um ritual imprescindível:

"O custo pesa, mas não define o elemento determinante ao imaginário, esse conjunto de valores simbólicos que organiza, ainda que de modo inconsciente, formas de pensar, sentir e desejar. Hoje, o desejo não está mais tão refém da validação social formal. Não há percepção social de que uma relação só é legítima se estiver registrada no papel. O reconhecimento se dá na prática, não necessariamente pelo contrato. O imaginário contemporâneo descolou o peso da formalidade para a experiência afetiva"

A nova família brasileira

As transformações nos relacionamentos amorosos e nas famílias também aparecem nas estatísticas do IBGE. Pela primeira vez, a maioria dos lares não é formada por casais com filhos.

O número de uniões entre pessoas do mesmo sexo também cresceu mais de 8 vezes em 12 anos, e chegou a 480 mil em 2022. A maioria é formada por casais de mulheres.

A profissional de marketing Maria Isabel Rodovalho e a mulher decidiram morar juntas em janeiro, após 6 meses de namoro. E, agora, são algumas das caras de uma nova família brasileira.

"A gente optou pela união estável porque a gente tem vontade de casar de verdade - com festa, com tudo. A gente não queria fazer dessa forma atabalhoada antes de se estruturar como família. Nesse meio tempo, veio o filho de quatro patas, o Jorge, a nossa paixão de vida. A gente tem planos, sim, de ter filhos humanos, mas o custo para que isso seja concretizado é muito alto", conta.

Nesse novo conceito de "lar", quem escolheu a solitude e a independência também tem vez: em duas décadas, as casas com apenas uma pessoa mais que triplicaram, e agora representam uma em cada cinco residências do país.