Criminosos aproveitam caixinhas de Natal para aplicar golpes; saiba como evitar
O que era para ser um gesto de solidariedade se transformou em frustração. Em Belo Horizonte, o advogado Paulo Crosara fez uma doação para a caixinha de Natal dos garis que fazem a limpeza da rua onde mora. Ou, pelo menos, foi isso o que ele achou que fez.
"Enquanto eu passeava aqui no bairro, veio uma pessoa vestida de gari, falando que ele estava fazendo a Caixinha de Natal dos garis da região. Ele pediu que se eu pudesse transferir para um pix - que era o pix dele, e depois ele iria dividir entre todos. Tinha até o papelzinho com QR code e tudo. Eu acreditei em transferir. Porém, depois eu vi no jornal essa questão do golpe do falso gari e outras pessoas em grupos de condomínio alertando que essa pessoa não era um gari de verdade."
O golpe da caixinha de Natal de falsos garis é um dos mais comuns nesta época de fim de ano. Os valores perdidos, que costumam não ultrapassar R$ 30, podem até não significar muito para quem doou, mas prejudicam os profissionais, que, nesta época, contam com a contribuição dos moradores.
Frente a esses golpes, Tales Marcelo Alves, um coletor de lixo que acumula 1 milhão de seguidores nas redes sociais, passou a fazer vídeos alertando a população. Segundo ele, os criminosos furtam o uniforme dos trabalhadores e colocam até gorro de Papai Noel para conseguir as doações. Eles saem sozinhos, batendo de porta em porta para pedir dinheiro.
De acordo com Tales, os trabalhadores só pedem as doações na hora da passagem do caminhão da coleta de lixo.
"A dica é ficar ligado no horário que passa o caminhão. O morador deve checar e de preferência, entregar o presente ali, na hora que o caminhão estiver passando. Não aceite ninguém passar antes desse horário, porque fica muito difícil saber quem é de verdade. Então é um alerta. Isso tem acontecido e tem causado muito transtorno. Muitas vezes os golpistas até ameaçam os moradores para pedir a caixinha de Natal."
Além de falsos garis, a mesma forma de atuação também pode ser usada por outros prestadores de serviços. Falsos porteiros, síndicos ou representantes de empresas também podem pedir dinheiro para a "suposta caixinha coletiva".
Na internet, as redes sociais também são um campo comum. Mensagens que circulam em grupos de condomínio ou redes sociais com chaves PIX, QR Codes ou links falsos de pagamento direcionam o dinheiro para contas de golpistas, fingindo ser a "caixinha oficial".
Enganar outra pessoa para conseguir vantagem financeira é crime de estelionato, previsto no Código Penal Brasileiro e pode levar de um a cinco anos de prisão. Segundo a advogada criminalista Letícia Barreto, os fraudadores sabem como convencer as pessoas.
"O estelionato se concretiza no engano. A vítima é enganada, induzida a erro para entregar algo. Então, nesse caso, a vítima, acreditando na falsa história do gari, é enganada para poder entregar voluntariamente aquele dinheiro ou PIX. Nesse crime, há um consentimento da vítima, só que esse consentimento é viciado por essa fraude. Inclusive, o artigo do Código Penal que fala do estelionato é o 171, e esse termo ficou muito comum popularmente. É aquela pessoa que tem lábia, que sabe convencer aquelas pessoas ao redor a fazer alguma coisa que está errada."
Além do estelionato, há outro crime comum relacionado às caixinhas de Natal, o de apropriação indébita. Ele ocorre quando, em um grupo, uma pessoa fica responsável por juntar dinheiro para a realização de uma festa de fim de ano, por exemplo. Todos contribuem mas, quando chega o momento de utilizar o recurso, aquele que ficou responsável por juntar a grana some ou alega que perdeu o dinheiro por algum motivo.
Segundo o delegado da Polícia Civil de Minas Gerais Alessandro Santa Gema é preciso denunciar as ocorrências, independentemente do valor do dinheiro perdido no golpe.
"É sempre bom procurar a polícia primeiro porque a gente não sabe se aquela pessoa ela já é habituada a praticar golpes.Cada vez que a vítima faz um boletim de ocorrência contra uma pessoa que está aplicando golpe, a polícia vai ter uma ideia melhor de o que aquela pessoa faz o crime, se é um meio de vida dela. Você tem que mostrar para as autoridades que aquela pessoa está reiterando na conduta criminosa. Porque o estelionatário não faz só uma vítima. Ele vai fazendo vítimas até o dia que é preso."
O delegado reforçou que, em caso de estelionato, seja ele virtual ou presencial, é preciso que a vítima faça a representação em uma delegacia pessoalmente, ou seja, não basta registrar um boletim de ocorrência na Polícia Militar. O ideal é procurar a Polícia Civil e autorizar a abertura do inquérito.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, o Brasil registrou um aumento de 408% nos registros pelo crime de estelionato entre os anos de 2018 e 2024. Somente no ano passado, foram 2 milhões e 200 mil casos, o que equivale um golpe a cada quatro minutos.
