Criadouro contesta acusações de falhas sanitárias após casos de circovírus em ararinhas-azuis
O Criadouro Ararinha-azul, localizado em Curaçá, na Bahia, divulgou a sua versão sobre as acusações feitas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e por órgãos ambientais estaduais após a detecção de circovírus em ararinhas-azuis do programa de conservação. A instituição nega qualquer falha de manejo, rejeita a multa de R$ 1,8 milhão e afirma que não teve acesso ao laudo completo que fundamentou a penalidade.
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O caso teve início quando exames identificaram a presença do vírus — que afeta aves — em parte do plantel mantido em cativeiro e também em ararinhas de vida livre. Para o Estado, os resultados acenderam alerta para possíveis falhas de biossegurança, negligência e condições inadequadas nas instalações do criadouro, além de risco para as aves reintroduzidas na Caatinga.
O criadouro, porém, sustenta que mantém estruturas adequadas, equipe altamente qualificada e protocolos rígidos de manejo.
Segundo a instituição, das 103 ararinhas sob seus cuidados, 98 testaram negativo para o circovírus, enquanto cinco apresentaram alguma detecção. Estas últimas estariam isoladas, sem contato com outras aves e atendidas por profissionais exclusivos, com utensílios próprios e ambiente separado.
Ararinha-azul
Divulgação/Governo Federal
A direção afirma ainda que o espaço de mais de 2,6 mil metros quadrados opera com assistência veterinária contínua e que o desempenho reprodutivo das ararinhas, com nascimentos em cativeiro e boa taxa de sobrevivência, comprovaria a qualidade do manejo.
Instituição alega divergência de métodos e cobra acesso a laudo
No centro do conflito, estão os exames.
O criadouro alega que há divergência entre métodos laboratoriais. De acordo com a instituição, testes convencionais, inclusive realizados em laboratório do governo, apontaram três aves positivas — todas do plantel. Já outro método teria indicado presença do vírus em 11 aves, somando indivíduos capturados na natureza e animais em cativeiro. A administração critica a divulgação de que todas as 11 aves estariam contaminadas, afirmando que essa interpretação “depende do tipo de teste utilizado”.
A instituição também questiona a origem da contaminação. Segundo o criadouro, o primeiro caso detectado foi de uma ave de vida livre, e não de suas instalações. Afirma ainda que o circovírus circula no Brasil há mais de três décadas, presente em feiras, centros de reabilitação e no comércio de animais, o que afastaria a hipótese de que o surto teria começado no criadouro.
Além de contestar a multa, a administração diz não ter recebido o laudo completo do processo e cobra uma reunião técnica com autoridades e laboratórios, além de reavaliação dos exames. Para a instituição, o Estado estaria “transferindo culpa” e ignorando a complexidade epidemiológica do caso, o que poderia desestimular iniciativas privadas de conservação.
O que diz o ICMBio?
O ICMBio divulgou, na última semana, que 11 ararinhas-azuis recapturadas no início deste mês testaram positivo para circovírus, que pode ser letal para a maior parte dos casos encontrados nos psitacídeos (grupo de aves que inclui araras, papagaios e periquitos).
A investigação sobre a saúde das ararinhas-azuis que estavam de volta à natureza tiveram início em maio deste ano, quando foi detectado o circovírus em um dos indivíduos. O Instituto Chico Mendes instaurou o Sistema de Comando de Incidente para gerenciar a Emergência Circovírus, com medidas para impedir a proliferação do vírus.
Em parceria com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e a Polícia Federal foram realizadas visitas técnicas às instalações do Criadouro para fins Científico do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul, onde foi constatado que os protocolos de biossegurança não estavam sendo seguidos, segundo o instituto. Assim, foi aplicada uma multa no valor aproximado de R$ 1,8 milhão em desfavor do criadouro e de seu diretor.
Entre as exigências estão limpeza e desinfecção diária das instalações e dos utensílios, incluindo os comedouros onde era fornecida alimentação diária às aves de vida livre.
De acordo com o ICMBio, esses locais "se encontravam extremamente sujos, com acúmulo de fezes ressecadas". Ainda foi determinada a obrigatoriedade do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) pelos funcionários. Durante as vistorias, a equipe era "reiteradamente" flagrada "utilizando chinelos, bermuda e camiseta durante o manejo dos animais".
