Criadouro Ararinha-azul rebate acusações, diz ter seguido protocolos e afirma confiar em investigação da PF

 

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O Criadouro Ararinha-azul, alvo da Operação Blue Hope deflagrada pela Polícia Federal na quarta-feira (3), divulgou nota em que afirma ter “total tranquilidade” quanto às investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre a disseminação do circovírus entre aves da espécie, considerada uma das mais raras do mundo. A defesa sustenta que atua com “lisura e rigor técnico”, mantém protocolos rígidos de biossegurança e foi o responsável por informar às autoridades ambientais a detecção inicial do vírus na região de Curaçá (BA), ainda em maio de 2025.

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"A empresa mantém 103 ararinhas-azuis sob seus cuidados, todas em bom estado clínico geral. Desse total, 98 aves não apresentaram detecção de circovírus nos exames mais recentes e as 5 que tiveram o vírus identificado, em ao menos um teste, estão isoladas das demais, com manejo, utensílios e equipe exclusivos, seguindo protocolos rígidos de biossegurança e bem-estar animal", diz a nota emitida pelo Criadouro Ararinha-azul.

Segundo a advogada da empresa, Bruna Cabral, a apreensão de celulares e computadores de funcionários durante a operação já era esperada, dado o estágio das apurações. Ela afirma que o proprietário do criadouro é “pessoa idônea, com reputação ilibada” e que o manejo das aves sempre ocorreu em conformidade com normas ambientais.

Cabral destaca ainda que o circovírus já foi registrado há décadas em diferentes espécies da fauna brasileira e defende que a análise do caso seja conduzida em ambiente técnico, com base em evidências e cooperação entre especialistas e órgãos ambientais.

Os advogados ressaltam que há divergências entre metodologias laboratoriais aplicadas nas análises e que, por isso, solicitaram acesso integral aos laudos e propuseram uma reunião técnica conjunta para esclarecimentos. A defesa reconhece ainda o trabalho de fiscalização do ICMBio, mas afirma contestar, na esfera administrativa e judicial, multas e atos “pontuais” que considera questionáveis.

"Em 2022, (o criadouro) participou da reintrodução de 20 ararinhas-azuis na Caatinga, operação que teve taxa de sobrevivência estimada em 45% e registro de filhotes nascidos em ambiente natural, após 37 anos sem reprodução em vida livre", lembra o texto.

O criadouro afirma estar mobilizando todos os esforços para atender às exigências dos órgãos ambientais, inclusive com investimentos emergenciais para garantir o bem-estar das aves mantidas em cativeiro e daquelas recolhidas da natureza. A empresa rechaça a hipótese de que a disseminação do circovírus possa ter sido favorecida por práticas internas, alegando que não seria racional supor que uma instituição responsável por avanços reconhecidos colocaria em risco o próprio projeto.

A defesa também diz confiar no trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que, segundo afirma, “permitirá esclarecer os fatos e reconhecer a regularidade das ações do criadouro”, considerado peça-chave no programa de preservação da ararinha-azul na Caatinga.

Entenda o caso

A Polícia Federal (PF) informou na quarta que investiga a disseminação de um vírus potencialmente letal que afeta a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), uma das aves mais raras do mundo. A preservação da ave é alvo de disputa entre criadores particulares e autoridades brasileiras.

A espécie havia sido declarada extinta na natureza há 25 anos. Em 2020, cerca de 20 ararinhas-azuis criadas em cativeiro foram trazidas da Alemanha para serem reintroduzidas em seu habitat natural, na Caatinga do Nordeste brasileiro.

Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Biodiversidade e Meio Ambiente (ICMBio) informou que as 11 ararinhas restantes entre as que foram soltas na natureza testaram positivo para o circovírus, que pode ser letal e não tem cura.

A doença provoca deformação no bico, alteração na coloração das penas e falhas no empenamento, mas não afeta humanos.