Corrida de São Silvestre terá recorde de 55 mil participantes em sua 100ª edição
A Corrida Internacional de São Silvestre, famosa por reunir amadores e profissionais, brasileiros e estrangeiros, por 15 km pelas ruas de São Paulo, celebrará este ano sua 100ª edição com expectativa de marca histórica: 55 mil participantes, número que supera o recorde de 2024, de 37 mil corredores.
Algo inimaginável em comparação aos 60 inscritos da primeira edição, em 1925. Idealizada pelo jornalista Cásper Líbero (1889-1943), a competição, que sempre ocorreu no último dia do ano, teve como inspiração uma prova noturna francesa em que os atletas carregavam tochas ao longo do percurso. Até 1988 foi realizada à noite. De 1989 até 2011, passou a ocorrer à tarde; a transferência para as manhãs, como é disputada até hoje, foi em 2012.
— A corrida só cresceu desde quando foi criada. Ela começou de modo popular, depois trouxe os corredores de elite, mesclando o participante anônimo ao corredor de ponta. Todos no mesmo trajeto, dividindo o mesmo pódio — conta Erick Castelhero, diretor executivo da São Silvestre.
Para esta edição especial, o GLOBO conversou com participantes cujas histórias pessoais se misturam à da mais tradicional prova de rua da América Latina. É o caso da família Oliveira. Técnico de atletismo, Wanderlei, de 66 anos, comenta a prova na TV Gazeta desde 2000 e chegou a participar de duas edições nos anos 1990. Sua paixão pelo atletismo começou ao ver o pai correr.
— Aos dez anos, o vi correr a São Silvestre. Lembro que ainda largava à noite, depois das 23h. Ele já tinha corrido outras vezes, mas essa foi a primeira vez que ele me levou, sempre assistíamos pela televisão — conta.
Paixão essa que passou para a filha Gisele, de 46 anos.
— Hoje, vou para a minha sexta vez correndo a São Silvestre e, como ele, também já trabalhei cobrindo a prova, mas para as minhas redes sociais. A corrida virou o meu ganha-pão. Quero incentivar mais mulheres no esporte e mostrar que é possível fazê-lo independentemente de seu nível técnico — disse a criadora de conteúdo.
Algoz de Paul Tergat
Inicialmente, a São Silvestre era restrita para homens brasileiros ou de outras nacionalidades que morassem no país. Isso mudou em 1945, quando foi aberta para atletas do exterior. Desde então, nomes de fora do Brasil passaram a dominar as disputas e as vitórias — o mais famoso deles, o queniano Paul Tergat, recordista de vitórias (1995, 1996, 1998, 1999 e 2000).
Em 1997, porém, um brasileiro destronou o queniano, já bicampeão e então favorito. Uma das grandes surpresas daquela edição, Émerson Iser Bem, na época com 24 anos, lembra da vitória com o mesmo entusiasmo da data.
— Mentalizei que eu era o Brasil. No final, na subida da Avenida Brigadeiro, as pessoas que estavam assistindo à corrida dos bares saíram para nos ver passar. Quando eu encostei no Tergat, as pessoas gritavam “vai, Brasil”, o que me deu uma força sobrenatural para arrancar e vencer — lembra Émerson, hoje com 52 anos.
89 anos e autodidata
Já a presença feminina só passou a ser contemplada 30 anos depois da estrangeira, em 1975. Na época, apenas 17 atletas se inscreveram e a vencedora foi a alemã Christa Vahlesieck.
Dentre as 25.861 corredoras inscritas na edição deste ano (cerca de 47% do total de participantes) está Therezinha Nazario Martucci, de 89 anos. Aposentada, a idosa segue atuando como confeiteira e se prepara sozinha para a prova. Ela chega a percorrer 64 km em cinco dias de treinos.
— Tenho muita coragem. Estou tranquila para correr a prova de novo. É como se fosse mais um treino. Sempre que corro a São Silvestre sinto uma força enorme e muita energia — diz.
Moradora de Jaboticabal, interior de São Paulo, Therezinha começou a se interessar pelas corridas aos 53 anos. Na época, ia a pé para o emprego em outra cidade.
— Comecei a correr na ida e na volta, para poder chegar e ir para o meu outro emprego. Então, fui pegando o jeito assim — lembra.
Coleção de medalhas
De 1925 para cá, a São Silvestre foi realizada mesmo em momentos de tensão nacional e mundial — casos da Revolução Constitucionalista de 1932 e da Segunda Guerra. Só não ocorreu em um único ano, 2020, em razão da pandemia de Covid-19.
E das 99 edições, o historiador Gabriel Abdala, de 55 anos, que participará de sua sexta prova, tem medalhas de 75 delas. Corredor há 15 anos, se encantou pela história da prova por conta do avô, que correu na edição de 1932 enquanto era combatente da Revolução Constitucionalista. Ele herdou a medalha e passou a criar um acervo pessoal de condecorações.
— Quero completar a coleção. Tenho todas as medalhas mais antigas, tirando a da segunda edição, cujo dono também é colecionador, mas estamos negociando (risos). As que não tenho são dos anos 1970 e 1980, já que os donos ainda não morreram — conta o aficionado, que pretende reunir o material que pesquisou em um livro sobre a prova.
