COP30: Barco com mais de 300 indígenas e ativistas de movimentos sociais chega a Belém
Como as commodities contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia? Mais de 300 indígenas e ativistas chegaram nesta terça-feira em Belém do Pará, após uma caravana fluvial que partiu de Santarém no fim da tarde de sábado. Foram 60 horas e 1,6 mil quilômetros percorridos de barco até Belém.
Uma boa parte saiu de Sinop (MT) — capital do agronegócio brasileiro — e se juntou ao grupo já no estado paraense. No trajeto, a rota de exportação de commodities do agronegócio brasileiro, pelos rios Tapajós e Amazonas.
— É muito importante seguir nesta caravana por este Rio Tapajós que faz parte das nossas vidas e dos nossos ancestrais. E para chegar numa COP 30 que não foi pensada para nós — inicia o cacique Gilson Tupinambá.
Barco com mais de 300 indígenas e ativistas dos movimentos sociais chega a Belém
Bruno Calixto
O barco reúne não só lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas e de movimentos sociais da Amazônia e do Cerrado, mas comunicadores populares em uma travessia simbólica e política que percorre o mesmo trajeto usado pelo agronegócio para exportar soja — mas com o objetivo oposto: denunciar o modelo de desenvolvimento que sacrifica os rios e territórios em nome do lucro.
— A soja é a responsável pela crise climática que faz com que as pessoas percam suas casas. E só serve para exportação, porque quem bota comida na mesa é a agricultura familiar — diz Pedro Charbel, coordenador da Aliança Chega de Soja, que organizou esta que foi chamada “Caravana da Resposta”.
Ao longo dos dias, o barco serviu de espaço de encontro com várias oficinas, atividades, palestras e discussões sobre a preservação ambiental, o enfrentamento climático e o futuro/infraestrutura da Amazônia.
— Nossos rios estão poluídos de mercúrio e nossas crianças lá não podem mais brincar — informa Claudivaldo Karo, coordenador da juventude indígena do Pará.
A Cúpula dos Povos deve reunir milhões de pessoas na capital do Pará, onde estão confirmadas as presenças do cacique Raoni, de Alessandra Munduruku, e outras lideranças indígenas e comunitárias, em mais de cem embarcações previstas para o ato.
— Estaremos aqui juntos com os outros povos para resistir à destruição e dançar carimbó para resistir — conta Ingrid Sabrina, do Povo Arapiun, do grupo de indígenas do carimbó Os Encantados e Presidente do Batuque Santarém.
Grito Ancestral de abre-alas
Dois dias antes de a Caravana da Resposta partir de Santarém, o povo Tupinambá, do baixo Tapajós, no oeste do Pará, realizou o 8º Grito Ancestral. O ato, realizado na ilha de Illage, dentro do Território Tupinambá, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, foi uma intervenção no rio Tapajós para interromper temporariamente o tráfego de barcaças, em um gesto de alerta sobre os impactos das hidrovias e do corredor logístico do Arco Norte.
Uma das bandeiras, informa o Cacique Gilson, é o cancelamento da Ferrogrão (EF-170) — projeto ferroviário que pretende ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA), ampliando o escoamento de grãos pelo rio Tapajós.
— Sinto-me feliz de estar aqui nesse espaço para hoje a gente debater, discutir e tirar melhores encaminhamentos para a gente chegar lá em Belém e dizer tudo aquilo que tá dentro do nosso peito. E qual a nossa voz — discursa Cacique Gilson Tupinamba.
Desenvolvida por demanda de grandes tradings, a Ferrogrão é apontada como um dos projetos mais controversos da atual agenda de infraestrutura federal. Segundo dados do Ministério dos Transportes, a ferrovia — com 933 km de extensão — pode multiplicar por seis o volume de exportações de grãos pelo rio Tapajós até 2049, ampliando pressões sobre a floresta, as comunidades locais e os pedrais do rio, considerados sítios sagrados pelos povos indígenas da região.
A discussão virou processo em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF), que interrompeu o julgamento após pedido de vistas do ministro Flávio Dino.
