Convicção ou adaptação? Do que Flamengo precisa para ter sucesso em um desafio do tamanho da final contra PSG

 

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A torcida que tanto “pede o mundo de novo” mandará hoje todas as energias para o Catar, onde o Flamengo enfrenta o Paris Saint-Germain na final da Copa Intercontinental. A partir das 14h (horário de Brasília), no estádio Ahmad bin Ali, o campeão da Libertadores tentará bater o atual vencedor da Champions League, algo que não acontece há 13 anos, desde quando o Corinthians derrotou o Chelsea, em 2012. Neste período, a disparidade entre os continentes aumentou, e a equipe de Filipe Luís precisará decidir entre as convicções ou a capacidade de adaptação para buscar fazer história.

Nos últimos dias, o dilema que mais permeou o dia a dia do Flamengo em Doha foi sobre a opção tática para encarar o PSG: manter o estilo de jogo ou se adaptar ao adversário. O modelo que levou o rubro-negro a faturar as principais taças da temporada é conhecido: construção de jogadas desde a defesa, pressão alta, intensidade e muita movimentação na frente, tentando espelhar padrões da elite do futebol europeu.

Flamengo faz último treino antes da final contra o PSG

Gilvan de Souza/Flamengo

Porém, o tamanho do desafio apresentado pelo PSG é diferente, e o Flamengo experimentou isso na derrota por 4 a 2 para o Bayern de Munique, que culminou na eliminação da Copa do Mundo de Clubes, no fim de junho. Seis meses depois, a derrota ainda gera debate por Filipe Luís e o time rubro-negro não terem aberto mão de suas convicções, serem forçados ao erro e acabarem sendo castigados ao caírem nas armadilhas do adversário. Mas o indicativo é de que não haverá grande mudança.

— Era um contexto diferente, clima, gramado... Mas a vontade de ganhar é a mesma. Alguns jogadores importantes saíram, outros chegaram. Esse grupo se reinventou — disse Filipe Luís na coletiva prévia à final. — Não falamos do jogo do Bayern. Cada jogo é um jogo diferente. Vai ser assim contra o Paris, por mais que a intensidade e a energia da pressão sejam as mesmas. Naquele momento, acreditei que o plano era o melhor. Agora, vai ser outro plano, que entendo que vai aproximar o time da vitória, sem abrir mão dos nossos princípios na temporada. É o que pede o DNA do Flamengo.

Saber sofrer?

O que não se pode esquecer é que aquele Flamengo derrotou o Chelsea, por 3 a 1, na fase de grupos da Copa de Clubes, sem mudar o seu padrão de jogo e conseguindo uma virada à base da imposição. É fato que o PSG se aproxima mais do modelo do Bayern, mas será que o Flamengo se adaptaria bem ao se entregar a uma estratégia mais defensiva e seguir o ditado “saber sofrer”?

São poucas as partidas deste ano em que o rubro-negro teve menos posse de bola do que o adversário, por exemplo. Essa é uma estatística não muito precisa para definir domínio, mas aponta caminhos. Quando o Racing passou 61% do tempo com a bola no jogo de volta da semifinal da Libertadores, era um mata-mata fora de casa e no qual Plata havia sido expulso. Já quando o Palmeiras teve 51% no encontro no Maracanã pelo Brasileirão, a diferença mínima mostra que foi um jogo equilibrado.

Filipe Luís prepara Flamengo para final do Intercontinental contra o PSG

Adriano Fontes/Flamengo

Um time que nunca foi reativo por opção na temporada faz a discussão ir além da tentativa de tachar um técnico como teimoso ou sem personalidade. Na véspera, Filipe Luís e jogadores como Luiz Araújo e Jorginho apontaram mais a necessidade de tentar zerar os erros e fazer um jogo perfeito.

— Nunca é esse pensamento com bola ou sem bola. É o momento do jogador e o que a equipe precisa. As duas fases não se separam, andam juntas. Claro que é importante que eles entendam o que fazer com ou sem bola. Eu já sei o time que vou escalar, mas ainda tenho um dia para sentir o momento dos jogadores e definir o melhor onze para poder neutralizar e jogar contra o PSG — projetou o técnico.

Luis Enrique, técnico do PSG

Cesar MANSO / AFP

Em se tratando de PSG, talvez a derrota mais impactante do ano tenha sido o 1 a 0 para o Botafogo, na fase de grupos da Copa de Clubes. Naquele jogo, o alvinegro seguiu à risca o manual de se defender impecavelmente e aproveitar as raras chances que apareceriam.

— Jogamos contra o Botafogo, que fez um jogo fechado na defesa. É o típico jogo que estamos acostumados a jogar, times que se defendem e atacam pouco. Mas o Flamengo não vai jogar assim — avaliou Luis Enrique, treinador do PSG, na coletiva de ontem. — Joga muito bem com a bola, sai jogando de trás. Sem a bola, pressiona muito bem, é um time muito interessante. Fisicamente, muito forte, com jogadores experientes, de muita qualidade, que sabem jogar jogos importantes. Creio que será uma final apaixonante, porque os dois times têm estilos parecidos.

Dúvidas dos dois lados

Entre tentar espelhar o próprio sucesso ou imitar uma estratégia para competir de forma mais segura, o Flamengo também colocará à prova a versatilidade do qualificado elenco. Talvez possa ser preciso abrir mão de parte das ideias para se adaptar e aumentar as chances de vitória em uma final deste nível. Fato é que o time europeu segue sendo o favorito, como em todos os confrontos recentes de europeus com brasileiros, mas não custa sonhar em sair de campo com a taça.

Para a escalação de hoje, Filipe Luís só tem dúvidas na zaga — Danilo ou Léo Ortiz — e no ataque — Samuel Lino, Plata e Everton Cebolinha brigam por vaga. Por sua vez, Luis Enrique só terá o desfalque do lateral-direito Hakimi e aguarda para saber as condições do zagueiro brasileiro Marquinhos e do atacante Dembélé, ontem eleito o melhor jogador do mundo no Fifa The Best.