Com presença de Motta, Tarcísio e Castro na sede da Rota, despedida de Derrite em São Paulo se transforma em ato político
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), aproveitou um evento comemorativo dos 134 anos do 1º Batalhão de Choque Tobias de Aguiar, realizado nesta segunda (1), na sede da Rota, no centro de São Paulo, para fazer duas ações: homenagear o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), além de anunciar oficialmente a troca no comando da sua Secretaria da Segurança Pública.
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Tanto em relação aos agraciados com a medalha do Centenário de Primeiro Batalhão de Choque, quanto sobre a saída de Guilherme Derrite (PP-SP) — ele vai retornar ao Congresso e focar na sua campanha ao Senado — o assunto principal dos envolvidos na solenidade foi um só: segurança pública.
– Quero aqui registrar, governador Tarcísio de Freitas e governador Cláudio Castro, o trabalho que vossas excelências têm procurado fazer na área da segurança pública. Eu tenho priorizado, desde que me tornei presidente da Câmara dos Deputados, a pauta da segurança pública. Até aqui, ao longo desse quase primeiro ano, porque estamos aí no último mês, foram quase 50 matérias e 50 projetos aprovados na área da segurança pública. Quero aqui destacar que todos eles foram construídos com a bancada da segurança pública da nossa Câmara dos Deputados, também em parceria com os Secretários de Segurança Pública dos 27 estados da Federação, também com o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, sempre procurando dizer à sociedade brasileira que a Câmara dos Deputados está atenta a esta demanda que passa a ser, sem dúvida alguma, a principal cobrança da sociedade brasileira nos dias atuais – falou Motta, em seu discurso.
Também ao microfone, Cláudio Castro agradeceu Tarcísio pelo "primeiro telefonema" que recebeu após a operação policial recente nos complexos da Maré e do Alemão, no Rio, que culminou com a morte de 122 pessoas, incluindo cinco policiais. Para o governador carioca, que não citou eleições presidenciais, Tarcísio é uma "das cabeças mais preparadas para governar nesse Brasil".
– Não podemos aceitar o crime organizado, mas não podemos jogar todo o trabalho que está sendo feito fora. Temos que valorizar quem nos comanda, sobretudo quando o resultado tem sido concreto e perene, e isso, essa dupla, Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite, tem demonstrado para o Brasil inteiro, com dados oficiais, com uma política austera, mas dura. E eu digo o seguinte: valorizem o governador de vocês, porque o Estado de São Paulo tem um homem de bem, um homem honrado e uma das cabeças mais preparadas para governar nesse Brasil – disse Castro.
Troca de secretário
Tarcísio aproveitou o seu discurso na Rota para valorizar o trabalho de Guilherme Derrite frente à Secretaria da Segurança Pública (SSP) por dois anos e 11 meses. Na terça-feira (2), o secretário será exonerado para retomar seu mandato na Câmara em definitivo, de olho na campanha de 2026, em que ele deverá disputar o Senado. Derrite será substituído na SSP pelo delegado Nico Gonçalves.
Balanço: Derrite teve gestão marcada por polêmicas e flagrantes de abusos policiais
– Três anos depois, nós temos muito o que celebrar. A gente pode celebrar mais de 1 bilhão de reais investidos em infraestrutura, mais de 200 aquartelamentos, tanto da Polícia Militar, delegacias da Polícia Civil que foram recuperados, que foram reformados, que foram construídos, 2.600 viaturas, 17.000 armas, 39.000 coletes e, sobretudo, a gente pode celebrar os menores indicadores criminais da nossa história, de toda a série histórica, desde 2001. O menor indicador de homicídio, o menor indicador de latrocínio, o menor indicador de roubos em geral, o menor indicador de roubos de veículo, o menor indicador de roubo de carga – falou o governador.
Porém, conforme mostrou o GLOBO nesta segunda, sob a gestão de Derrite na SSP, as forças de segurança enfrentaram uma série de polêmicas envolvendo denúncias de uso abusivo da força, além de uma alta nos índices de letalidade policial. Em um dos casos ruidosos, em novembro de 2024, Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, morreu após ser baleado durante uma abordagem na Vila Mariana, Zona Sul da capital paulista. Marco Aurélio era estudante de medicina da faculdade Anhembi Morumbi.
No anos 2023 e 2024 ocorreram também as operações Escudo e Verão, ambas na Baixada Santista. No final de julho de 2023 um policial da Rota, a tropa de elite da PM, foi morto no litoral paulista. Nos 40 dias seguintes, durante a operação Escudo, 958 pessoas foram presas e 28 morreram. A Operação Verão, ocorrida entre 18 de dezembro de 2023 e 1º de abril de 2024, deixou ao menos 56 mortos. Relatos de abusos e de ações desproporcionais da polícia pipocaram nas redes sociais e no noticiário ao longo dos meses de operação no litoral.
Policiais foram flagrados destruindo câmeras de segurança em uma favela no Guarujá. Em março de 2024, uma testemunha da morte de Matheus Souza Santos, de 21 anos, relatou que o jovem estava desarmado e que havia gritado momentos antes de ser morto que “não trabalha na boca (tráfico)”. Policiais militares efetuaram também 188 tiros de fuzil contra três suspeitos no Morro Nova Cintra, em Santos. Moradores da região registraram em vídeos os disparos que assustaram a vizinhança.
Após a solenidade, Guilherme Derrite disse que retorna ao Congresso de forma definitiva e que vai continuar atuando pelo governador Tarcísio, independentemente do futuro político dele.
– Ele (Hugo Motta) me pediu e eu falei, olha, vamos apoiar a bancada da segurança, mas a gente precisa que a segurança pública seja priorizada. E ele está cumprindo a palavra dele. Então, é claro, o governador Tarcísio de Freitas, o governador Cláudio Castro, eu acho que eles estão num momento de ascensão política. E, a partir de amanhã, eu passo a fazer os comentários políticos a respeito disso. Mas qualquer um deles, em qualquer caminhada que eles trilharem, não tenha dúvida nenhuma que eu estarei, ombro a ombro, apoiando pra fortalecê-los, pra ajudá-los, como um bom soldado que sou. Soldado não escolhe missão, cumpre! – disse Derrite.
Medalha
A medalha do Centenário de Primeiro Batalhão de Choque foi criada em 1991 e é voltada a personalidades, civis ou militares, além de instituições que tenham contribuído para o maior brilho do batalhão, diz o enunciado da comenda.
O ministro do Supremo André Mendonça seria um dos agraciados com a homenagem, mas não compareceu.
