Classes A e B são as que mais consomem produtos ilegais, conclui pesquisa da USP

 

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Levantamento aponta que consumo está concentrado nas áreas de vestuário, bebida e combustível. Um estudo inédito da Universidade de São Paulo revela que cerca de 40% dos brasileiros estariam dispostos a comprar de dois a oito tipos de produtos ilícitos.

O levantamento é o primeiro do país sobre a demanda por bens e serviços ilegais e foi apresentado nesta quarta-feira.

Foram analisadas categorias de tabacos e nicotinas, bebidas alcoólicas, combustíveis, eletrônicos e roupas.

O resultado indica ampla tolerância social à ilegalidade, ainda mais quando se trata de produtos de uso cotidiano e de baixo risco de punição.

O consumo de itens ilícitos não é exceção, mas parte da rotina de milhões de brasileiros.

O avanço dos novos produtos de tabaco e nicotina, sem regulamentação ou ilegais, confirma essa expansão.

O Brasil tem mais de 20 milhões de fumantes mensais de cigarros convencionais, e 10% deles escolhem marcas ilegais. Nos últimos seis meses, mais de 15 milhões de pessoas relataram ter feito uso desses produtos.

A ausência de regulamentação desses produtos contribui pro crescimento do mercado ilegal, que movimenta mais de R$ 7 bilhões por ano sem recolhimento de impostos. Se regulamentado, o setor poderia gerar R$ 13,7 bilhões em tributos, principalmente para os estados.

Para o coordenador do estudo, Leandro Piquet, as classes A e B estão entre as maiores compradoras de produtos ilegais:

"[O público das classes A e B] conhece, sabe identificar, se preocupa mais com a origem, identifica problemas com lacre, nota fiscal etc. Mas ao mesmo tempo é também o segmento que mais consome e que mais se dispõe a consumir esses bens. Principalmente no caso do vestuário, bebida e combustível. Mas é impressionante como o conhecimento sobre a ilegalidade não altera o comportamento. Eu acho que essa é uma grande descoberta dessa pesquisa."

A descrença no Estado e a percepção de que os impostos são altos e mal aplicados reforçam essa tendência, levando parte da população a relativizar a infração.

Entre os consumidores frequentes, até 25% que consomem bebidas alcoólicas, utilizam combustíveis, compram eletrônicos e adquirem roupas afirmaram que comprariam produtos ilegais.

O estudo, realizado pela USP em parceria com a Ipsos Brasil, entrevistou três mil pessoas em formato online e presencial, com 95% de confiança estatística.