Cientista político analisa repercussão da prisão preventiva de Bolsonaro
O cientista político Rafael Cortes, sócio da Tendências Consultoria e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, analisou em entrevista à CBN a repercussão política da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Cortes avaliou as manifestações de apoio ao ex-presidente feitas por aliados, como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Para ele, as reações seguem um padrão já conhecido desde o avanço das investigações contra Bolsonaro.
“Está dentro do roteiro que a gente tem visto, das repercussões e reações da condenação, enfim, de todo o processo judicial, na verdade, em relação ao ex-presidente Bolsonaro. Então, você tem, fundamentalmente, grupos de direita, apoiadores do presidente no plano político, fazendo manifestações de defesa a cada movimento, a cada novo passo dessa longa novela jurídica envolvendo o destino do ex-presidente.”
Cortes destacou ainda que boa parte dos políticos que hoje defendem o ex-presidente também disputam espaço na corrida eleitoral para 2026, o que intensifica o caráter político das declarações públicas. Segundo ele, o cenário deve tensionar ainda mais o Congresso nas próximas semanas, especialmente entre partidos que compõem a base do governo, mas mantêm alinhamento com pautas bolsonaristas.
Ao ser questionado sobre a percepção da população a respeito das decisões do Supremo Tribunal Federal, o cientista afirmou que a Corte se tornou um ator central no debate público e, por isso, é alvo constante de críticas e de disputas políticas.
“O Supremo está, entre aspas, pagando preço pelo protagonismo que ele exerceu nos últimos anos na política brasileira, em alguns casos até de maneira involuntária, no sentido que ele é mobilizado a fazer por conta, enfim, do cenário político, o Supremo tem um papel institucional a ser cumprido e ele tem sido muito mobilizado nos últimos anos, uma parte também por conta da postura de ministros envolvendo questões de fórum político."
Para o cientista político, as reações negativas ao STF se intensificam entre apoiadores da direita e do bolsonarismo, e devem crescer no curto prazo à medida que o processo contra Bolsonaro avança. Ele lembra que, mesmo sendo uma medida cautelar — não diretamente ligada ao mérito da condenação — a prisão preventiva acrescenta novos elementos de instabilidade política.
Cortes concluiu afirmando que um teste importante para esse cenário será a composição do Congresso a partir de 2027, quando novas bancadas poderão influenciar a agenda legislativa relacionada ao Supremo, como propostas que tratam do tempo de mandato de ministros e do funcionamento das decisões colegiadas.
