Cientista entra em delírio por privação de sono e é encontrado morto em rio na Inglaterra
O inquérito instaurado pelo Tribunal do Legista da Cornualha concluiu que o cientista Adam Spoors, de 39 anos, entrou em um estado de “delírio por privação de sono” antes de ser encontrado morto no rio Kenwyn, no sudoeste da Inglaterra. O caso, ocorrido em 30 de março, foi detalhado nesta terça-feira (19), quando autoridades e familiares relataram o forte estresse enfrentado pelo funcionário do Royal Cornwall Hospital após assumir uma nova função no laboratório.
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Spoors estava em seu segundo turno consecutivo de 12 horas — das 20h às 8h — quando deixou o posto antes do horário, sem comunicar a equipe, segundo o legista Guy Davies. Imagens e vestígios analisados pela polícia indicam que ele saiu de carro pela Penventinnie Lane, atrás do hospital, onde bateu o veículo. A partir dali, conforme o detetive Francis Davis, caminhou em linha reta por densos arbustos “em estado delirante”, deixando para trás sapatos, roupas e o cordão de identificação até alcançar o rio.
Pressão crescente e sinais ignorados
Colegas relataram que Spoors não parecia agir normalmente naquela noite: estava retraído, irritado, não fez pausas e demonstrava preocupação com mudanças internas no laboratório. A situação se agravou após ele receber um e-mail levantando dúvidas sobre uma amostra desaparecida — algo com o qual não tinha relação direta, mas que o deixou tenso diante dos novos processos de decisão exigidos pela sua promoção.
A esposa dele, Amy, grávida à época, disse ao tribunal que o marido vinha sofrendo com jornadas irregulares e temia que faltar ao trabalho causasse problemas ao setor. Na semana anterior à morte, Spoors havia cumprido uma sequência de turnos alternados — noite, manhã, dia, descanso e novamente dois plantões noturnos — e trabalhava sozinho em horários que deveriam ter dois profissionais de plantão. “Acho que ele estava completamente delirante, lutando para voltar para casa”, afirmou.
A gravação deixada por Adam para seu gerente, Adam Westhead, foi reproduzida no tribunal. Nela, ouviu-se a frase: “Eu não consigo fazer isso. Saí do laboratório. Isso precisa ser encoberto”, seguida de interrupção. Westhead, que conhecia o cientista havia nove anos, disse que ele era dedicado, raramente faltava e sempre ajudava colegas mais jovens. Acrescentou que tentou oferecer apoio, inclusive encaminhando-o para um curso de bem-estar destinado a funcionários sob estresse.
O corpo foi localizado no rio após colegas perceberem sua saída antecipada e a ausência de retorno ao turno. A polícia rastreou o carro até a área e encontrou pertences do cientista espalhados pelo mato. O exame post-mortem não determinou causa exata da morte, mas apontou fatores como imersão em água fria, estresse agudo e possível arritmia cardíaca. Não foram encontrados sinais de afogamento, ferimentos fatais ou uso de drogas e álcool.
Segundo o patologista Tim Bracey, é provável que Spoors tenha sofrido desorientação extrema seguida de colapso hipotérmico. O tribunal também ouviu que não havia qualquer indício de participação de terceiros. Funcionários relataram ainda que o regime de plantão 24 horas — implantado em novembro de 2024 para evitar atrasos e melhorar o fluxo de atendimento — vinha sendo alvo de críticas pela carga excessiva de trabalho.
A Royal Cornwall Hospitals Trust afirmou que, desde março, revisou processos internos para melhorar a comunicação entre equipes e ajustar escalas de forma mais segura. O inquérito sobre a morte de Spoors deve ser concluído ainda nesta semana.
