Ciência Para Todos premia projetos de inclusão de alunos neurodivergentes e piso que ajuda a escoar água da chuva

 

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O prêmio Ciência Para Todos apresentou os projetos vencedores de sua quarta edição nesta quarta-feira (29), no Museu Catavento, espaço dedicado à divulgação científica, na capital paulista. Direcionado a escolas das redes municipal e estadual de São Paulo, além de institutos federais de ensino médio técnico e profissionalizantes, o prêmio contemplou seis pesquisas elaboradas por professores e alunos dos ensinos fundamental e médio. A iniciativa é uma parceria entre a Fundação Roberto Marinho (FRM), por meio do Canal Futura, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Os projetos, que unem ciências humanas, linguagens, matemática, artes e tecnologia, incentivaram os jovens a olharem para as necessidades das comunidades. As iniciativas vencedoras vão desde propostas para a inclusão de alunos neurodivergentes nas escolas até a criação de produtos naturais por meio de plantas medicinais.

Assim como em 2024, o tema deste ano foi “Um mundo melhor para todos” e os projetos tinham que estar enquadrados em algum dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), um plano de ação para erradicar a pobreza, proteger o ambiente e consolidar a paz no planeta.

Na categoria do ensino fundamental, venceram os colégios E. E. Mitiharu Tanaka (Várzea Paulista), E.M.E.F. Professora Maria Diva Franco de Oliveira (Mogi Guaçu) e E. E. Luiz Bortoletto (Pedreira). Já no ensino médio foram premiadas a ETEC Bento Quirino (Campinas), a ETEC Rosa Perrone Scavone (Itatiba) e a E.E. Ângelo Scarabucci (Franca). Ao total, se inscreveram cerca de 110 instituições.

Para João Alegria, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, a educação e o pensamento científico são indispensáveis ao se pensar na cultura no Brasil. A ideia do prêmio é incentivar que mais jovens se envolvam em questões científicas, com produções de qualidade e que sigam o método científico.

— Os projetos têm muita aplicabilidade, já que estão voltados para contextos sociais dos estudantes e dos professores, gerando impactos significativos nas comunidades. Mas também gera um reconhecimento para os jovens, que passam a ser vistos como alguém que contribuiu socialmente — explica. — A ferramenta mais forte que temos é o conhecimento.

História e saberes populares

Os estudantes da escola estadual de Várzea Paulista se inspiraram nos problemas causados pelas fortes chuvas que costumam causar transtornos em São Paulo. No projeto — que já chegou a ser apresentado a representantes da gestão municipal —, o grupo desenvolveu protótipos de pisos drenantes que podem facilitar o escoamento da água da chuva ao captar e redirecionar o volume acumulado por meio de bacias de amortecimento.

— É fundamental mostrarmos para os alunos que a educação vai muito além da sala de aula e dos livros didáticos. Todos têm um espaço dentro da ciência. Sozinhos, não conseguiremos criar um mundo melhor, mas conseguiremos quando unirmos as nossas potências — disse a professora Kethlyn Belmonte, que orientou os alunos. Esta foi a sua segunda vitória no prêmio.

As consequências da crise climática também foram o mote do projeto da escola municipal de Mogi Guaçu. Ao unirem tecnologia, memória e arte, os alunos investigaram como a comunidade escolar se relaciona com o Rio Mogi Guaçu, principal símbolo natural e histórico do município. Com os resultados da pesquisa, os jovens criaram “aulões” para a escola, fizeram um podcast e participaram de um desfile cívico com cartazes sobre o rio.

Em Pedreira, o terceiro projeto vencedor da categoria ensino fundamental uniu tradição e ciência numa investigação sobre plantas medicinais. A partir de entrevistas com pais e responsáveis sobre saberes populares, o grupo analisou as mais citadas e quais seus possíveis preparos naturais — como tinturas, óleos medicinais, unguentos e escalda-pés. Depois da coleta de informações, os estudantes criaram um herbário escolar e um livreto educativo, com informações acessíveis à comunidade.

Cidadãos conscientes

Na etapa do ensino médio, os vencedores de Campinas encontraram uma forma criativa de unir tecnologia, bem-estar animal e eficiência produtiva. A pesquisa desenvolveu um protótipo de submarino impresso em 3D, que realiza a biometria de tilápias por meio de uma câmera e de um sensor de distância a laser TOF, de forma remota e não invasora. Essa medição aumenta a produtividade e protege o ecossistema do pescado, evitando a captura de animais que ainda não chegaram à fase adulta.

— Nosso objetivo não é transformar todos que participam em cientistas, mas em cidadãos conscientes. Quando participam do projeto, (os estudantes) entendem que podem resolver um problema com a ciência. Então, serão cidadãos que para toda a vida buscarão soluções na ciência — afirmou o médico e cientista Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp.

A escola vencedora de Itatiba desenvolveu um projeto para facilitar a comunicação e reduzir situações de sobrecarga sensorial de colegas neurodivergentes. Direcionado para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e dislexia, o sistema permite o envio de alertas aos professores em momentos de desconforto em sala de aula, para evitar exposições e fortalecer a inclusão.

Por fim, os alunos da escola de Franca criaram um trabalho que visa controlar e reaproveitar árvores invasoras no reflorestamento com espécies nativas. Além da conservação ambiental, os alunos participaram de circuitos educativos com caminhadas, coleta de lixo e o plantio de mudas.

— Quero que os alunos pensem em fazer a diferença nas vidas deles e da comunidade. (Com o projeto) eles provaram que podem fazer isso hoje — disse o professor Henrique Pereira, orientador do grupo e vencedor do prêmio pela terceira vez.

Os seis grupos premiados em cada uma das categorias ganham, como parte do prêmio, a visita a um centro de pesquisa apoiado pela Fapesp. Os professores orientadores das equipes premiadas receberão também um notebook cada um. O prêmio também foi transformado em uma série, cujos episódios estão disponíveis na plataforma co.educa, da Fundação Roberto Marinho, e no Globoplay.

A cerimônia foi regida pela bióloga, professora, comunicadora socioambiental e ex-BBB, Jessi Alves. Participaram também Jacques Kann, diretor do Museu Catavento, Stephanie Costa, secretária executiva da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, e Marcos da Costa, secretário estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

* Estagiária sob orientação de Pedro Carvalho