Chefe da PF diz que PM consultou sobre participação em operação contra Comando Vermelho: 'Não era o modo que a gente atua'
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, admitiu nesta quarta-feira que a Polícia Militar do Rio fez uma consulta à corporação sobre a participação na operação que cumpriu mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho. Segundo ele, porém, a avaliação foi que não caberia a entrada dos agentes federais na ação.
— Houve um contato anterior, do pessoal da inteligência da Polícia Militar com a nossa unidade do Rio de Janeiro, para ver se haveria a possibilidade de atuar em algum ponto nesse contexto. A partir da análise do planejamento operacional, nossa equipe entendeu que não era uma operação razoável para que a gente participasse.
Essa foi a primeira vez que uma integrante do governo federal admite ter sido consultado sobre ajuda na operação do Rio, a mais letal já realizada no estado, que deixou ao menos 120 mortos. Rodrigues detalhou que a PF ao ter um conhecimento "geral" do planejamento da ação identificou que não teria "nenhuma atribuição legal para participar":
— Para ficar bem claro, houve um contato no nível operacional, informando que haveria uma grande operação e se PF teria alguma possibilidade de atuação na sua área e no seu papel. Nós identificamos, a nossa equipe do Rio de Janeiro, a partir da análise geral do planejamento, não tivemos detalhes mais do planejamento. A partir da análise geral entendemos que não era o modo como a PF atua, o modo de fazer operações. Então, o colega do Rio de Janeiro informou o seu contato operacional que a PF segue seu trabalho de investigação, fazendo seu trabalho de inteligência, mas que naquela operação, que é do estado, tinha mais de 100 mandados, do estado do Rio, não teríamos nenhuma atribuição legal para participar. Não fazia sentido nossa participação.
Andrei Rodrigues afirmou que foi comunicado, por essas razões, de que a participação da PF havia sido descartada. O delegado também afirmou que a PF não sabia quando a operação seria deflagrada.
— O meu superintendente comunicou depois de que foi descartada essa possibilidade de participação por falta de atribuição. A deflagração dessa operação não nos foi comunicada — disse.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que a troca de informações sobre uma operação dessa magnitude não pode ser feita em nível de segundo e terceiro escalão:
— A comunicação entre governantes tem que se dar dentro de uma hierarquia mais elevada. Uma comunicação desse nível, desse porte, não pode ser acordada por segundo ou terceiro escalão. Se fosse uma operação que exigisse a interferência do governo federal, o presidente da república deveria ter sido avisado, o ministro da Justiça ou o próprio diretor-geral da Polícia Federal — disse o ministro — Ela (a Polícia Federal) foi comunicada de alguns detalhes, dos planos que estavam sendo engendrados no Rio de Janeiro, no âmbito local.
