Censo 2022: 19,2% dos moradores de favelas vivem em vias com capacidade apenas para motos e bicicletas

 

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Cerca de 3,1 milhões de moradores de favelas e comunidade urbanas vivem em trechos de vias nos quais carros e veículos de médio e grande porte, como caminhões de lixo ou ônibus, não conseguem circular, segundo um levantamento do IBGE feito a partir de dados do Censo de 2022, divulgado nesta quinta-feira. Para deixar ou chegar a essas residências, o acesso é possível apenas de moto, bicicleta ou a pé.

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O número equivale a 19,2% do total da população desses territórios. Fora dessas áreas, no entanto, a situação é diferente, e a capacidade das vias tende a ser maior. Assim, somente 1,4% daqueles que não moram em favelas ou comunidades urbanas convivem com essa situação.

Apenas 18,8% dos moradores de favelas e comunidades moram em locais onde carros de passeio e vans conseguem trafegar. 62% daqueles que residem nesses locais estão em endereços com vias de elevada capacidade, onde podem circular veículos de grande porte. Em contraponto, 94% do restante da população mora em locais acessíveis por caminhões, carros, vans, moto, bicicleta ou a pé.

— A capacidade de circulação talvez seja mais específica das favelas. Tem um percentual importante de 38% de moradores de favelas que residem onde não é possível circular caminhão. Isso significa dificuldade de acesso a certos serviços públicos, porque não passa um caminhão de lixo ou uma ambulância — diz Cláudio Stenner, geógrafo do IBGE.


Rio de Janeiro, Amapá e Alagoas são os estados nos quais a diferença entre a porção de moradores que está em endereços nos quais caminhões não conseguem passar e os que residem em vias com essa capacidade supera 40%. No Amapá, essa distância chega a 54,6%, enquanto no Rio de Janeiro e em Alagoas ela é de 43,2% e 43,7%, respectivamente. Quando a análise se volta para o nível das cidades, a capital carioca aparece com uma diferença de 53% entre essas duas categorias. São Paulo, Salvador e Recife, por sua vez, têm uma distância de 40%, 36,7% e 35,8%.

— Na Mangueira (favela da Zona Norte do Rio), apenas 10% da população tem acesso a essas vias com capacidade para ônibus e caminhão — diz o chefe do setor de pesquisas territoriais do IBGE, Felipe Borsani.

A favela com a maior quantidade de moradores residindo em vias com capacidade de receber caminhões e ônibus é a Cidade Olímpica, em São Luís, no Maranhão, onde 98,7% dos 27 mil moradores estão nessa situação. Outras comunidades com mais de 90% da população nessas condições são a favela Sol Nascente, no Distrito Federal (94,9%) e Grande Vitória, em Manaus (92,1%).

Outro dado coletado pelo instituto é a presença de pontos de ônibus ou van nas vias dentro de favelas, característica apenas presente nos trechos onde residem 836 mil pessoas, o equivalente a 5,2% dos moradores dessas comunidades. Assim como no caso da capacidade de via, o número é maior fora das favelas, onde a proporção de pessoas morando em trechos com essas estruturas é mais que o dobro (12,1%).

— 83% das favelas e comunidades urbanas possuíam menos de 10% dos seus moradores residindo em vias com ponto de ônibus ou van. Uma grande proporção de favelas com somente 10% da população tendo acesso direto — diz Borsani.

Gráficos mostram realidade do entorno de domicílios dentro e fora de favelas

Arte O Globo

Esses dados fazem parte da pesquisa do IBGE sobre características urbanísticas no entorno de domicílios, que analisou uma série de quesitos nos logradouros dentro e fora de favelas e comunidades urbanas. Na lista de características analisadas estão, além da capacidade máxima da via e a presença de pontos de ônibus, a existência de arborização, de pavimentação, de iluminação pública, dentre outros.

O levantamento foi feito com dados coletados em 12.268 favelas ou comunidades urbanas, o que representa 99,4% do total de áreas enquadradas nessa categoria segundo o IBGE. Para ser classificado como tal, o território deve ter predominância de domicílios com graus diferenciados de insegurança jurídica de posse, além de outros critérios. A pesquisa abarcou 6,4 milhões de domicílios, nos quais residem 16,1milhões de moradores. O número total de residentes de favelas ou comunidades urbanas é ligeiramente maior, cerca de 16,3 milhões de pessoas, o equivalente a 8,1% da população.