Caso Ruy: Ex-delegado-geral tinha rascunho com suspeita de fraude em licitação

 

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O ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, morto a tiros de fuzil em Praia Grande, no litoral de São Paulo, tinha em seu notebook o rascunho de uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) relatando suspeitas de fraude em procedimentos licitatórios.

Depois que se aposentou da Polícia Civil, Fontes passou a atuar como Secretário de Administração da Prefeitura de Praia Grande. Seu trabalho no município foi inicialmente cogitado pelos investigadores como uma das possíveis motivações para sua morte.

O texto encontrado pela polícia no notebook de Fontes não estava concluído, e trazia a suspeita de que os processos fraudulentos envolviam funcionários da administração da Prefeitura de Praia Grande “em conluio com empresários”. A informação consta do inquérito que investigou a execução de Fontes, um documento de 655 páginas, produzido pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

O DHPP solicitou medidas cautelares em relação a alguns funcionários da Prefeitura de Praia Grande para verificar a possibilidade de fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Um novo inquérito para apurar esses fatos, conduzido pela Delegacia de Investigações Gerais de Santos, encontra-se em curso.

Apesar da prova de que Fontes tinha uma investigação pessoal sobre as fraudes na Prefeitura, o relatório final do DHPP atribui a morte a uma retaliação do Primeiro Comando da Capital (PCC). Fontes atuou pelo menos 40 anos no combate à facção criminosa e chefiou a Polícia Civil entre 2019 e 2022.

Segundo o inquérito, uma reunião da “Sintonia dos 14”, uma célula da organização criminosa que atua como uma espécie de conselho deliberativo, determinou a morte do ex-delegado-geral.

Oito denunciados

No último dia 21, o Ministério Público de São Paulo denunciou oito investigados pelo homicídio do ex-delegado-geral. A denúncia acatou a conclusão da Polícia Civil sobre a motivação do crime. Segundo o documento, a execução de Fontes foi encomendada pela “sintonia geral” da facção, a cúpula do PCC, em resposta à sua atuação na instituição contra a facção.

De acordo com o MPSP, os alvos da denúncia começaram a planejar o crime em março de 2025, com roubo de veículos, aquisição de armas e definição de imóveis usados para apoio logístico. No dia da execução, eles emboscaram a vítima na saída da Prefeitura de Praia Grande e fizeram diversos disparos com fuzis. Após a execução, os criminosos atearam fogo em um dos veículos utilizados e se dispersaram.

A complexa logística teria que ter sido planejada há vários meses, o que aponta, segundo o MPSP, para uma ação do crime organizado. Para os promotores, portanto, o mando do crime seria realmente do PCC.