Caso Leandro Lo: jurados aceitaram versão de que policial atirou após segundo ataque do lutador de jiu-jitsu

 

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Os jurados que absolveram o policial militar Henrique Velozo pela morte do lutador de jiu-jitsu Leandro Lo, na semana passada, foram convencidos durante o julgamento que o PM agiu em legítima defesa e que teria efetuado o tiro que matou Lo porque o lutador iria atacá-lo uma segunda vez.

A morte aconteceu durante um show de pagode no Clube Sírio, na Zona Sul de São Paulo, em agosto de 2022, depois de um desentendimento entre Leandro Lo e Velozo. O policial ficou preso por três anos, até ser absolvido na sexta. Velozo foi solto no sábado e nesta segunda (17) divulgou um vídeo em que pede perdão aos familiares da vítima.

Na acusação do Ministério Público (MP), o policial teria se aproximado da mesa onde estavam Leandro e amigos e o provocado, tendo pegado uma garrafa de uísque que o grupo consumia. Depois, Leandro Lo teria aplicado um golpe de jiu-jitsu conhecido como baiana contra o policial, de modo a imobilizá-lo no chão para contê-lo após ele segurar a garrafa de bebida. O lutador teria liberado o policial e esse teria voltado posteriormente e atirado contra a cabeça de Lo. O PM teria ainda chutado o lutador depois do tiro.

Mas os advogados Renan Canto e Cláudio Delladone, que representam o policial, contestaram a acusação do MP. Tanto eles quanto o próprio tenente contaram outra versão para o júri, que acabou acolhendo a narrativa da defesa.

Eles afirmam que Velozo teria sido confrontado pelo grupo enquanto assistia ao show de pagode. O policial teria tentado apaziguar a situação, convidando o grupo para que eles bebessem juntos, e por isso teria segurado a garrafa de uísque. Eles afirmam ainda que o PM foi empurrado por um dos amigos de Leandro e, na sequência, veio o golpe aplicado pelo lutador, que derrubou o policial no chão.

Leandro teria liberado o PM do golpe e então Velozo afirma que se levantou, se identificou como policial e sacou a arma. Ele afirma que o lutador teria avançado novamente contra ele, para tentar derrubá-lo mais uma vez, e que um dos amigos teria tentado tomar a arma do PM, e esse seria o momento que o tiro foi disparado.

— A versão das testemunhas, amigos do Leandro, foram contraditórias e mentirosas. A todo momento eles quiseram defender os golpes aplicados pelo Leandro — afirma o advogado Renan Canto.

Os advogados da família do lutador contestam a versão narrada para o juri.

— A versão dele (do policial) foi construída pela defesa. Quando ele foi indiciado, permaneceu em silencio. Eles esperou todas as testemunhas falarem várias vezes para aí em juízo apresentar a versão dele. Se ele é um oficial da PM que agiu em legítima defesa, porque demorou 8 meses para apresentar a versão? Nossa versão é a das testemunhas. A sociedade entendeu que foi legítima defesa, vamos recorrer — diz o advogado da família de Leandro Lo, Adriano Vanni.

O julgamento começou em 12 de novembro. Foram ouvidas três testemunhas da acusação e uma da defesa — além do próprio acusado. A expectativa do Ministério Público era de uma pena de ao menos 20 anos, com base nas três qualificadoras. Mas, na votação final, pelo menos quatro dos sete jurados (cinco mulheres e dois homens) acolheram a tese da defesa de legítima defesa.

A sentença foi proferida pela juíza Fernanda Jacomini, da 1ª Vara do Júri. A família reagiu com indignação, enquanto o Ministério Público afirmou ver “nulidades” no processo e disse acreditar em anulação da decisão.