Casar de papel passado é caro: mais pobres puxam aumento de uniões conjugais sem cartório e igreja

 

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O crescimento de uniões consensuais no Brasil — casais que vivem juntos, mas sem terem casado nem no civil, nem no religioso — tem sido puxado pelas famílias mais pobres do país. Entre as pessoas que recebem até meio salário mínimo, o número de pessoas nessa situação (52,1% das que possuem algum tipo de matrimônio) já ultrapassou aquelas que se casaram no cartório (44,1%, somando os que têm e os que não tem cerimônia religiosa). Os dados são do Censo 2022, divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Entre a população brasileira, 51,3% das pessoas viviam em uma união conjugal em 2022, um pequeno aumento em relação a 2010 (50,1%). Ao mesmo tempo, o percentual de pessoas que não estavam nessa condição, mas já haviam vivido (por separação, divórcio ou viuvez), subiu para 18,6%, contra 14,6% em 2010. O índice de pessoas que nunca viveram uma união conjugal também é o menor da série histórica, com 30,1%.

Uniões conjugais no Brasil

Em 2000, 28,6% da população acima de 10 anos que possuem algum tipo de matrimônio têm uniões consensuais no Brasil. Esse patamar chegou a 38,9%, em 2022. O instituto define união consensual como a pessoa que vive em companhia de cônjuge com quem não contraiu casamento civil nem religioso. Pessoas que registraram seus relacionamento como união estável estao nesse grupo.

Já as que casaram tanto no civil, quanto no religioso são 37,9%, um número que nunca foi tão baixo. Em 2000, eram 49,4%. Além disso, um grupo de 20,5% que se casou apenas no cartório. Com isso, o casamento civil ainda é a forma mais comum de união conjugal no país, com 58,4% entre os que possuem algum tipo de matrimônio (somando aqueles com e sem cerimônia religiosa).

O menor grupo é justamente das pessoas que fizeram apenas celebrações religiosas. Eles representam apenas 2,6% dos que possuem alguma união conjugal. Na década de 1960, esse grupo representava 20% da população.

Renda impacta

Enquanto a população que possui até meio salário mínimo tem maioria de união apenas consensual, 75,1% dos que possuem união conjungal e recebem acima de cinco salários mínimos mantém a tradição do casamento no civil. Desse grupo, 54,3% também fizeram cerimônia religiosa e 20,8 só oficializaram o matrimônio no cartório.

Percentual de pessoas em união conjugal por renda domiciliar per capita

Quem está em união conjugal

A maior parte das pessoas que vivem em união conjugal estava na faixa etária de 40 a 49 anos entre os homens (23,2%) e 30 a 39 anos entre as mulheres (24,6%). A idade média da "primeira união" também foi a mais tardia já registrada, alcançando 25 anos, sendo 26,3 anos para os homens e 23,6 para as mulheres. Em 2000, a idade média para uniões assim era de 24,2 anos.

Em relação à cor ou raça, enquanto 46% das pessoas brancas com união conjugal se casaram no civil e no religioso, 46,1% das pessoas pretas desse grupo se uniram somente de forma consensual. Outras 32,5% cidadãos brancos se juntaram por conta própria, 30% dos pretos optaram por celebrações "padrão".

Minas Gerais segue sendo o estado com uniões mais "tradicionais", com somente 29,4% de uniões consensuais; na outra ponta, o Amapá marca 62,6%. O local com maior alta de pactos autônomos foi o Piauí, que contava com 30,6% em 2010 e 39,4% em 2022.

Dos católicos que viviam em união conjugal no país em 2022, os percentuais de casamento civil e religioso (40%) e uniões consensuais (40,9%) eram quase idênticos. Outros 15,3% se casaram somente no civil e 3,7% tiveram cerimônias apenas de cunho sacro.

Já os evangélicos, por sua vez, são quem mais se casam da maneira "tradicional", com 40,9%. Ao mesmo tempo, também são quem mais oficializam as relações somente no civil, com 29,1%. Sobre as uniões consensuais, os crentes são os menos adeptos do modelo, com um percentual de 28,7%.

Natureza das uniões conjugais

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Uniões homoafetivas

O número de domicílios com casais homoafetivos no Brasil chegou a 480 mil. Esse cenário era composto por apenas 58 mil residências em 2010, o que representa um aumento de mais de oito vezes. Atualmente, o número significa 0,7% de todas as 72,3 milhões de lares brasileiros. Dentre os casais, 58% eram constituídos por mulheres em 2022, contra 53,8% em 2010. A maior parte está no Sudeste (48,1%), seguido por Nordeste (22,1%), Sul (14,9%), Centro-Oeste (8%) e Norte (6,9%).

77,6% dos casais eram compostos por uniões consensuais, 13,5% por casamentos só no civil e 7,7% por matrimônios tanto no civil quanto no religioso. Desde 2013, no entanto, quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obrigava os cartórios a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo em todo o país, seguindo a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), o número dessas uniões também vem crescendo no Brasil.

Em relação à escolaridade, houve um aumento das pessoas em uniões homoafetivas que declararam possuir ensino superior completo: 25,8% em 2010 para 31% em 2022. A maior parte das pessoas são católicas, com 45%, seguidas por quem declarou não ter religião, 21,9%. Ainda em relação ao perfil, apenas 12,9% são pessoas pretas, contra 47,3% brancas e 39% pardas.

Número de domicílios com casais homoafetivos no Brasil

Editoria de Arte