Caças americanos sobrevoam Golfo da Venezuela em momento de tensão entre Washington e Caracas

 

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Dois caças F/A-18 e uma aeronave de guerra eletrônica EA-18G Growler da Marinha dos Estados Unidos sobrevoaram o Golfo da Venezuela nesta terça-feira, próximos a Maracaibo, a segunda maior cidade do país, em meio ao aumento das tensões entre Caracas e Washington e uma ameaça americana de incursão terrestre nos próximos dias. Segundo dados do site de rastreamento de voos Flightradar24, eles ficaram cerca de 40 minutos na área.

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As aeronaves RHINO11, RHINO12 e GRIZZLY2 realizaram ao menos três voos de baixa altitude, acionaram radares de busca e operaram sob regras de engajamento que permitiam resposta imediata a ameaças, segundo o site especializado Aviation and Naval Assets, citado pelo jornal independente venezuelano Efecto Cocuyo. A publicação acrescenta que a incursão ocorreu a doze milhas náuticas (cerca de 22 quilômetros) da costa antes.

Um oficial da Defesa dos EUA afirmou à agência Associated Press que se tratava apenas de um "voo de treinamento de rotina".

Captura de tela mostra rota dos caças americanos sobre o Golfo da Venezuela

FlightRadar24

A movimentação ocorre em meio às ameaças do presidente Donald Trump de realizar uma incursão militar terrestre na Venezuela, contra alvos supostamente ligados ao narcotráfico.

O americano tem levantado a ideia de ataques terrestres há meses, e o Pentágono já atacou mais de 20 supostas embarcações dedicadas ao narcotráfico em alto-mar. Desde setembro, os EUA direcionaram mais de uma dúzia de navios de guerra e cerca de 15 mil soldados à região.

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Enquanto Washington afirma que a operação visa combater o tráfico internacional de drogas, Caracas vê uma tentativa de pressionar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro — a quem o governo americano responsabiliza por exportar drogas e "pessoas perigosas" —, a deixar o poder. Até agora, mais de 80 pessoas morreram nos bombardeios dos EUA, ações que organizações de direitos humanos dizem ser execuções extrajudiciais ilegais.

Trump, porém, ainda não chegou a uma decisão sobre como tentar tirar Maduro do poder. Internamente, há divergências entre setores que defendem ações mais agressivas e outros que se opõem a um envolvimento militar significativo dos Estados Unidos. Trump, por sua vez, chegou a conversar por telefone com Maduro no fim do mês passado, poucos dias antes de entrar em vigor a designação dos EUA que classificou o venezuelano e seus aliados no governo como integrantes de uma organização terrorista estrangeira. Segundo uma fonte com conhecimento da conversa, embora o tom não tenha sido abertamente hostil, o diálogo teve um ultimato — que não foi acatado.

Como o presidente republicano rejeita descartar invadir a Venezuela para forçar uma mudança de regime, tendo reafirmado nesta terça-feira que os "dias de [Maduro] estão contados", o planejamento conduzido pelo Conselho de Segurança Interna da Casa Branca mantém suas opções abertas.

Além disso, há anos a oposição venezuelana, liderada por María Corina Machado, elabora planos para "o dia seguinte" — e já divulgou publicamente parte dessas propostas. Os esforços abordam segurança, energia, infraestrutura e educação, segundo relato do oposicionista David Smolansky à rede americana CNN.

Apesar do tom forte das declarações do presidente, a administração Trump tem estado sob pressão pelos ataques às embarcações, e alguns legisladores afirmam que não existe justificativa legal para as operações. Essas críticas aumentaram após relatos de que em uma das ofensivas, em 2 de setembro, foi ordenado um segundo ataque para matar dois sobreviventes do primeiro, no mar. Agora, o Congresso tenta entender se a dupla ainda estava "em combate" ou se estava tecnicamente naufragada — o que tornaria ilegal matá-los em situação de conflito armado.

Com agências internacionais.