Cabo Verde alcança feito histórico ao desbancar Camarões e Angola e garante vaga inédita na Copa do Mundo

Praia, a capital de curioso nome no meio do Oceano Atlântico, é um dos lugares mais feliz do planeta neste momento. Daqui a menos de um ano, Cabo Verde disputará a Copa do Mundo do Estados Unidos, México e Canadá. O país insular no oeste da África garantiu a vaga histórica ao bater Essuatíni (antiga Suazilândia) por 3 a 0 nesta segunda-feira — gols de Dailon Livramento, Willy Semedo e Stopira —, resultado que fez chegar ao seu ponto mais alto um projeto de futebol que teve ponto de partida apenas no início deste século.
O feito dos chamados "Tubarões Azuis" fica ainda maior em uma nação que só se tornou independente de Portugal em 1975. Agora, será o quarto membro da comunidade lusófona (onde se fala português) a disputar um Mundial em toda a História — antes, Brasil, Portugal e Angola. Assim como os já garantidos Uzbequistão e Jordânia, Cabo Verde se torna mais uma estreante do torneio ampliado pela Fifa, com 48 seleções a partir de 2026.
O país é composto de dez ilhas vulcânicas, tem área de 4.033 km², e uma população de cerca de 520 mil pessoas. Mais um recorde à vista: isso o torna o segundo menos populoso da História das Copas: a Islândia, em 2018, tem cerca de 404 mil. Por conta da geografia distante e do grande movimento populacional de imigração, é até difícil lotar o Estádio Nacional, em Praia, com capacidade para 15 mil torcedores.
Só que o bom momento do futebol cabo-verdiano animou a população local e fez aumentar as médias de público à medida que o feito histórico se aproximava. Mesmo com o aumento da quantidade de vagas na Copa, a seleção precisou superar um grupo com Camarões e Angola nas Eliminatórias. A qualificação só foi garantida na 10ª e última rodada.
A estreia de Cabo Verde na Copa Africana de Nações aconteceu há muito pouco tempo, em 2013. Até porque a seleção passou a disputar as Eliminatórias deste torneio e da Copa do Mundo com mais frequência apenas no início deste século. O cartão de visitas dado há 12 anos não foi ruim: chegou às quartas de final do torneio continental.
Depois, a equipe caiu na fase de grupos na edição de 2015, nas oitavas de 2021 e repetiu a chegada às quartas em 2023, com queda apenas nos pênaltis contra a África do Sul. Já o Mundial era um sonho desde 2002, primeira vez em que ela se candidatou às Eliminatórias. Mas a evolução do time ao longo da última década se tornou natural.
Sob o comando do treinador local Bubista, que assumiu o projeto em 2020, foi possível dar o próximo passo. A reta final destas Eliminatórias foi marcada por resultados decisivos contra duas seleções que já participaram da Copa: vitória por 2 a 1 em visita a Angola, em março e, no mês passado, triunfo por 1 a 0 em casa contra Camarões, que pavimentou o caminho para a classificação.
Em todos estes jogos, quem marcou para Cabo Verde foi o atacante Dailon Livramento, que atua no Casa Pia (Portugal) emprestado pelo Verona (Itália). Na atual temporada, ainda não fez nenhum gol, mas, diante de seu povo, virou herói. Hoje, ele abriu o placar diante de Essuatíni e tirou o peso das costas logo no início do segundo tempo.
Livramento tem 24 anos e nasceu em Roterdã, na Holanda. Formado no futebol do país natal, no entanto decidiu defender o país de origem de sua família. Isto foi em algo em comum neste ciclo de Cabo Verde, que atraiu outros talentos no movimento de diáspora futebolística. Por exemplo, Semedo, atacante de 31 anos do Omonia, do Chipre, nasceu na França.
Com o feito histórico concluído nesta segunda-feira, a seleção africana já olha para a Copa e até conta com uma ironia do destino. Nos Estados Unidos, há uma grande comunidade cabo-verdiana, resultado de um forte movimento migratório ocorrido nos séculos XVIII e XIX. Então, além de ter um grande contingente de pessoas que ainda se relacionam com as ilhas, também esperam ter uma boa torcida no torneio do ano que vem.