Bruno e Dom: 'Investigações estão encerradas, agora é o julgamento dos acusados’, diz procurador do MPF responsável pelo caso

 

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Três anos após os brutais assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no Vale do Javari, o Ministério Público Federal (MPF) concluiu um ciclo decisivo nas investigações: Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”, foi oficialmente denunciado como o mandante do crime. Apontado como líder de uma organização criminosa estruturada que lucrava com a pesca e caça ilegais na região, "Colômbia" deverá enfrentar o Tribunal do Júri, assim como os executores materiais dos homicídios.

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No entanto, o andamento processual enfrentava alguns impasses. Enquanto a Justiça Federal de Tabatinga decidiu recentemente a unificação dos processos — ligando o caso de organização criminosa e ocultação de cadáver ao processo principal de homicídio —, o MPF manifestava preocupação com a celeridade do julgamento. A promotoria defendia o desmembramento das ações para que os executores, cujas sentenças de pronúncia já transitaram em julgado, sejam julgados imediatamente, evitando que a complexidade do processo contra o mandante atrase a punição dos assassinos confessos.

Na última sexta-feira, a Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF-1), atendendo a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), anulou essa decisão da Justiça Federal em Tabatinga. Com a anulação, os processos podem agora ter seu andamento retomado.

Em entrevista ao GLOBO, o procurador da República em Tabatinga, Dr. Guilherme Diego Rodrigues Leal, detalha a denúncia contra "Colômbia", nega o envolvimento de políticos locais no crime e comenta o imbróglio judicial que pode definir se o júri popular ocorrerá ou não em 2026. Ele destaca a celeridade das investigações e o do trabalho do MPF para concluir um caso considerado de alta complexidade. É a primeira vez que o órgão fala com a imprensa sobre o caso.

Leia a entrevista:

O MPF denunciou Rubén Dario da Silva Villar, o “Colômbia”, como mandante dos assassinatos. O senhor solicitou que ele vá a júri popular. Esse rito é garantido no entendimento da Procuradoria?

Sim. Conforme a denúncia, Rubén Dario praticou crimes de homicídio qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa) contra Bruno Pereira e Dom Phillips, em concurso material. No caso de Dom, houve ainda a motivação para assegurar a ocultação e impunidade do crime anterior. Por se tratar de crime doloso contra a vida, a competência constitucional é do Tribunal do Júri.

Não é apenas um "entendimento" da PGR, mas uma aplicação de dispositivo constitucional. O MPF entende que Amarildo, Jefferson e Oseney agiram sob o comando e anuência do denunciado. Agora, aguardamos a decisão de pronúncia pelo juiz federal, o que é esperado diante das provas robustas que constam no processo, que está público desde julho de 2025.

Como o MPF avalia o tempo decorrido para a realização do julgamento? Há uma percepção de demora?

A atuação do MPF foi extremamente célere. Em três anos, denunciamos todos os envolvidos: os executores (núcleo 1), denunciados um ano após os fatos; os ocultadores (núcleo 2), após dois anos; e o mandante (núcleo 3), em três anos. Considerando a dificuldade logística da região e a falta de estrutura, a apuração foi rápida.

Quanto ao julgamento em si, isso não depende mais do MPF, mas do Judiciário. Em relação aos réus Amarildo e Jefferson, a pronúncia já transitou em julgado — ou seja, eles irão a júri. Já solicitamos à Justiça Federal de Tabatinga o agendamento ou a remessa ao TRF1 para analisar o pedido de desaforamento do júri para Manaus, mas ainda aguardamos apreciação.

Recentemente, a Justiça Federal de Tabatinga sugeriu unificar os processos (homicídio, organização criminosa e ocultação de cadáver) para um julgamento conjunto. Como o MPF recebe essa decisão?

O posicionamento do MPF é oposto. Nós defendemos que o júri seja desmembrado. Os executores já estão com a decisão de pronúncia consolidada há quase cinco meses e seguem presos em presídio federal. O objetivo do MPF é garantir a celeridade, julgando quem já pode ser julgado. Unificar tudo agora pode atrasar o desfecho para os executores enquanto se instrui o processo do mandante e dos crimes conexos. A nossa ideia é garantir julgamentos em etapas para não ferir a celeridade processual.

Diante desse cenário, é possível esperar que todos sejam julgados em 2026?

A ideia é que todos enfrentem o júri, mas não é possível afirmar categoricamente que será em 2026. Isso depende do Judiciário, da estratégia dos advogados de defesa, da interposição de recursos ou Habeas Corpus.

No caso específico do mandante ("Colômbia"), a denúncia foi recebida em julho de 2025 e a audiência agendada para o início de 2026. Só após a pronúncia dele é que se iniciará a segunda fase para agendar o júri.

Houve especulações sobre o envolvimento de políticos locais ou do próprio "Colômbia" na morte do servidor da Funai Maxciel Pereira dos Santos. O que a investigação concluiu?

Sobre o caso do Maxciel, o inquérito segue em sigilo e não há informações a serem prestadas no momento.

Já em relação ao caso Bruno e Dom, após longa investigação da Polícia Federal sob controle externo do MPF, não se encontrou nenhuma linha investigatória ou prova que ligue os crimes a políticos locais. As apurações foram concluídas e demonstraram que os homicídios foram praticados a mando de Rubén, líder de uma organização criminosa estruturada voltada ao lucro com caça e pesca ilegais.

Quais são os próximos passos do MPF agora?

As apurações foram exitosas e concluídas. Agora, a atuação do MPF será estritamente processual, junto à Justiça Federal, para garantir a condenação. Todos os envolvidos foram denunciados, e tanto o mandante quanto os executores seguem presos em presídios federais aguardando o andamento do Poder Judiciário.