Brasil perde R$ 13,7 bi por ano com comércio ilegal de vapes e cigarros falsos, indica estudo inédito da USP
O Brasil perde R$ 13,7 bilhões anualmente em potencial de arrecadação de impostos federais e estaduais devido à venda de produtos ilegais e à falta de regulamentação de novos produtos de tabaco e nicotina, segundo um estudo inédito conduzido pela USP. A pesquisa destaca a dimensão do mercado clandestino, revelando que a operação ilegal de vapes e sachês de nicotina movimenta cerca de R$ 7,81 bilhões por ano sem qualquer recolhimento de tributos.
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Os números fazem parte do 1º Levantamento Nacional sobre a Demanda por Bens e Serviços Ilícitos, realizado pela Escola de Segurança Multidimensional (Esem) da USP, em parceria com o Instituto Ipsos. O estudo, divulgado nesta quarta-feira (22), também mediu a propensão dos brasileiros a consumir produtos irregulares em outros setores, como bebidas, combustíveis, vestuário e eletrônicos.
O levantamento indica a penetração dos novos produtos de nicotina, mesmo operando sem regulamentação, com pelo menos 10 milhões de brasileiros que fazem uso frequente de cigarros eletrônicos e sachês. Entre eles, 8,5 milhões são usuários regulares de vapes e 1,5 milhão utiliza sachês de nicotina. Em um período de seis meses, 15,4 milhões de pessoas relataram ter feito uso desses produtos ilícitos.
Infográfico mostra a demanda e mercado de produtos ilícitos no Brasil
Divulgação/USP/ESEM
Consumo de ilegais se estende a vários setores
Além da nicotina, o levantamento dimensionou a propensão ao consumo de itens ilícitos em outros segmentos essenciais, revelando a extensão do mercado paralelo. Entre os consumidores de bebidas alcoólicas, 24% dos compradores frequentes, o que equivale a 11,7 milhões de pessoas, demonstraram disposição a adquirir produtos ilícitos.
Para além dos dados demográficos, a ESEM-USP buscou entender os canais de compra, revelando que 5% dos compradores de álcool o adquirem declaradamente de vendedores ambulantes, sem a origem de compra declarada.
Fiscalizações são realizadas na capital após casos de intoxicação por metanol
Divulgação/Governo de SP
Segundo o professor Leandro Piquet, coordenador da ESEM e responsável pela pesquisa, 18% daqueles que buscam bebidas mais baratas relataram experiências negativas com o consumo, como alteração de sabor, cheiro ou teor alcoólico. A pesquisa foi realizada antes da crise do metanol.
— O que nos pareceu um resultado bastante desafiador do ponto de vista do mercado privado é que 24% dos entrevistados declararam que comprariam álcool ilícito se fosse indicado por um parente ou amigo, se fosse mais fácil de obter. A aceitação da ilegalidade entre consumidores de álcool é bastante alta. Nós estamos falando de um mercado muito grande, com quase 50 milhões de brasileiro.
Combustíveis e vestuário
Cenário similar ocorre no setor de combustíveis, onde 20% dos consumidores habituais, ou 9,74 milhões de pessoas, admitiram que comprariam combustível ilegal. Na análise desse mercado, o estudo identificou uma contradição entre a preferência declarada e a prática do consumidor. Apenas 7% dos entrevistados indicaram preferência por abastecer em postos sem bandeira. No entanto, 38% deles efetivamente o fizeram no último trimestre, mostrando que a oportunidade de preços mais baixos se sobrepõe à preferência.
A percepção de que o posto sem bandeira vende gasolina mais barata é amplamente compartilhada, sendo reconhecida por 62% dos entrevistados, com maior proporção de consumidores no Centro-Oeste e Sudeste, e nos grupos de renda mais alta.
