Brasil lança plano global contra impactos do clima na saúde
O Brasil lançou nesta quinta-feira na COP30 uma iniciativa internacional de ação climática para adaptar sistemas de saúde aos impactos da crise do clima. A ideia do projeto é atrair mais países interessados em avançar nessa área para levantar fundos.
Em carta ao governo Lula: ONU cita falhas de estrutura e exige plano para lidar com segurança na COP30
COP30: Projeto da OTCA prevê políticas integradas entre países amazônicos e participação dos povos originários
Batizado de Plano de Ação em Saúde de Belém, o projeto começou a ser montado em maio com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e foi divulgado no quarto dia da conferência do clima.
Segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que esteve na capital paraense nesta quinta para lançar a iniciativa, o plano já havia recebido mais de 80 adesões, entre governos, empresas e entidades da sociedade civil.
A verba captada para iniciar o projeto é, por enquanto, modesta para o tamanho da ambição. Um grupo de 35 organizações filantrópicas, incluindo Wellcome Trust, Gates Foundation e Bloomberg Philanthropies, levantou US$ 300 milhões para o projeto.
O plano é ancorado em três eixos: vigilância epidemiológica, suporte a grupos mais vulneráveis e pesquisa/ciência. O projeto de adesão voluntária não está ligado diretamente à agenda oficial de negociação da COP30, mas há possibilidade de que receba uma menção em algum texto decisório da conferência.
A ideia é que a estrutura criada para o Plano de Ação em Saúde de Belém possa contribuir para o Objetivo Global de Adaptação, este sim, um dispositivo que está na mesa dos negociadores da COP30. A ideia é que o plano seja efetivamente incorporado às conferências do clima dentro de três anos, na COP33.
Segundo Padilha, o lançamento do plano no Brasil ocorre porque muitas ideias nele contidas podem ser implementadas de maneira mais imediata aqui, por o país possuir o Sistema Único de Saúde (SUS), que permite implementar políticas públicas com agilidade nas três esferas de governo.
Segundo o ministro, a mudança climática já afeta hoje os indicadores de saúde em todo o mundo.
— Todas as evidências já mostram o impacto das mudanças climáticas hoje na vida das pessoas. Por exemplo, mais de 150 mil mortes em 2024 estão diretamente relacionadas a causas pulmonares, respiratórias, provocadas pelo crescimento dos incêndios e queimadas — afirma. — Houve aumento de mortes relacionadas ao calor, com 546 mil ligadas a temperaturas extremas no ano passado.
Outro impacto grande da crise do clima é no espalhamento de doenças infecciosas, sobretudo as transmitidas por insetos. Com o aumento da temperatura, casos de enfermidades como dengue e doença de Chagas têm sido registrados em latitudes cada vez mais altas.
Uma parte do Plano de Belém foi baseada no relatório Countdown, lançado este ano pela revista médica Lancet, que apontou também problemas importantes relacionados à desigualdade do impacto.
— O alerta dos cientistas sobre as mudanças climáticas se tornou realidade. E é evidente que nem todas as pessoas são afetadas da mesma forma — afirma Alan Dangour, diretor de Clima e Saúde do Wellcome Trust. — Os impactos do aumento das temperaturas atingem com mais força as pessoas mais vulneráveis: crianças, gestantes, idosos, quem trabalha ao ar livre e as comunidades com menos recursos para lidar com a situação.
Os doadores do primeiro montante arrecadado para o plano reconhecem que o valor é ainda pequeno para o tamanho da tarefa de adaptação a ser adotada no setor da saúde.
A ONU estima que a necessidade anual de financiamento global para adaptação climática está em torno de US$ 28 bilhões por ano. Com menos da metade desse valor (US$ 11 bilhões), porém, já seria possível avançar muito em questões mais urgentes, como controle da malária, da dengue, diarreia e mortes por calor, além de universalizar sistemas básicos de vigilância em saúde.
