Brasil ganha apoio de Alemanha e França para reduzir dependência de combustíveis fósseis
Há dois anos, na COP28 em Dubai, o mundo concordou em fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis. Na COP30, há um grupo de países está tentando tornar essa meta uma realidade mais concreta, atendendo a um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer sair da COP com roadmap (mapa do caminho) para a transição dos combustíveis fósseis.
Liderados pela ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, países como Reino Unido, Alemanha, França, Dinamarca, Colômbia e Quênia sinalizaram seu apoio para tentar chegar a um acordo sobre as diretrizes de um caminho de transição longe dos combustíveis fósseis.
Até agora, a ideia de um roteiro para os combustíveis fósseis vem se desenvolvendo, em grande parte, fora do labirinto de salas de negociação da cúpula, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Uma das possibilidades em discussão é incluir o plano na decisão final ou principal documento da COP, para que os países possam trabalhar nele ao longo do próximo ano. Um plano semelhante foi adotado no ano passado para ampliar o financiamento climático.
— Apoiamos qualquer decisão de criar um roteiro para a transição dos combustíveis fósseis aqui em Belém — disse Jochen Flasbarth, secretário de Estado para o Clima da Alemanha. — Seria um grande sinal, e espero que consigamos isso.
O roadmap é um roteiro político e técnico com pontos como quem faz o quê, até quando e com quais recursos. Ou seja, é uma tentativa de colocar no papel compromissos para reduzir o uso dos combustíveis fósseis, principais fontes do aquecimento global.
Nesta quarta-feira a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou relatório no qual aponta crescimento da demanda por petróleo e riscos de elevação da temperatura média global bem acima do teto de 1,5°C perseguido pelo Acordo de Paris.
O relatório estima que, nas condições atuais, a demanda por petróleo atingirá 113 milhões de barris por dia em 2050, alta de 13% em relação a 2024. O crescimento seria puxado principalmente por economias emergentes.
No entanto, chegar a um acordo mais concreto sobre a transição para longe dos combustíveis fósseis ainda enfrenta muitos obstáculos — principalmente porque alguns dos maiores produtores, como Arábia Saudita e outros países do Golfo Pérsico, foram encorajados pela decisão do presidente Donald Trump de retirar os EUA do histórico Acordo de Paris e redobrar a produção de petróleo, gás e carvão.
A Colômbia trabalha, em paralelo, em uma declaração a ser revelada na próxima semana, cujo rascunho — ainda sujeito a mudanças — foi visto pela Bloomberg. O documento já foi assinado por alguns Estados insulares, com a esperança de criar uma massa crítica.
— Não faz sentido investir em modelos sujos e ineficientes do século XX — disse a ministra Marina Silva na terça-feira, durante um evento paralelo da COP30. —Temos desafios, mas precisamos fazer um esforço para uma transição justa e planejada, para abandonar a dependência dos combustíveis fósseis.
O desafio será não apenas convencer os países em desenvolvimento a evitar o modelo tradicional de desenvolvimento baseado em combustíveis fósseis, mas também lidar com a possível pressão dos EUA, especialmente depois que o governo Trump atrapalhou os esforços para introduzir a primeira taxa de carbono fixa sobre o transporte marítimo no mês passado.
— Se continuarmos com os combustíveis fósseis, ficaremos presos ao passado —disse Ali Mohamed, enviado especial do Quênia para as mudanças climáticas. — Mas não podemos simplesmente fazer a transição imediatamente.
