Bloco que reúne 134 países recebe premiação 'Raio do Dia' na COP30 por proposta de transição energética inclusiva
Em vez de constrangimentos, aplausos. O tradicional Fóssil do Dia da COP, prêmio que costuma ironizar países que travam o avanço das negociações climáticas, teve nesta terça-feira (11) uma versão diferente e mais luminosa durante a COP30, em Belém. O Raio do Dia (“Ray of the Day”) foi concedido ao G77+China, grupo que representa 134 países em desenvolvimento, por propor a criação de um mecanismo global de Transição Justa sob a Convenção do Clima da ONU (UNFCCC).
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A proposta do bloco defende que a passagem para uma economia de baixo carbono seja inclusiva, equitativa e financeiramente sustentável, de modo que nenhum país, ou trabalhador, seja deixado para trás. O novo instrumento teria o objetivo de fortalecer o diálogo social, promover a troca de conhecimento entre setores, integrar justiça e equidade às etapas de implementação e colocar as pessoas, e não os lucros, no centro da ação climática.
— O G77+China acaba de lançar um desafio. Depois de anos de conversa vazia, os países em desenvolvimento estão exigindo o que esse processo ainda não entregou: um mecanismo real para fazer a transição justa acontecer — afirmou Anabella Rosemberg, assessora sênior da Climate Action Network International, que organiza as premiações diárias.
O gesto foi descrito pela organização como “um sopro de liderança e cooperação” em meio às tensões da conferência. Segundo observadores, a iniciativa pode abrir caminho para um consenso em torno da transição justa, tema central da COP30, apelidada pelo governo brasileiro de “COP da Verdade”.
A proposta também ecoa as reivindicações da sociedade civil reunida no Mecanismo de Ação de Belém (BAM), que pede mais coordenação global e financiamento não oneroso para trabalhadores e comunidades afetadas pela descarbonização.
“É hora de passar do diálogo à entrega, das palavras calorosas às casas aquecidas, e das promessas às práticas”, destacou o comunicado divulgado pelo grupo.
Do “fóssil” ao “raio”
Criado em 1999, o Fóssil do Dia é um dos rituais mais conhecidos das conferências do clima da ONU. O prêmio, sempre irônico, vai para países ou blocos que, segundo a Climate Action Network (CAN), atrapalham o progresso das negociações, seja por decisões internas, discursos, bloqueios ou falta de ambição climática.
O Raio do Dia, por sua vez, é a exceção: reconhece quando uma delegação “traz luz” às conversas e contribui de forma construtiva para o processo diplomático.
O Brasil já recebeu o antiprêmio em diferentes ocasiões — em 2023, por ter aderido à Opep+, e em 2017, por propor subsídios bilionários ao petróleo. Já na COP29, realizada em 2024, o primeiro Fóssil do Dia foi entregue ao G7, grupo das maiores economias do mundo, por não apresentar avanços no financiamento climático destinado a países mais pobres.
Desta vez, o destaque positivo do G77+China foi visto como um contraponto simbólico a essa assimetria: enquanto os países ricos são cobrados por lentidão, o Sul Global tenta se firmar como força propositiva no enfrentamento da crise climática.
