Bastidores: Textor perde força no Botafogo, mas 'se blinda' enquanto apara arestas

 

Fonte:


Ainda que continue como dono da SAF do Botafogo e a figura mais importante e influente do dia a dia do futebol alvinegro, John Textor já não é mais a unanimidade de outrora. Enquanto o imbróglio entre o americano e seus sócios na Eagle Football Holdings (EFH) se arrasta na Justiça, já há quem considere, seja na ala da SAF ou no clube-associativo, um mundo em que o empresário não esteja mais no comando. O americano, por outro lado, sequer cogita essa possibilidade.

Textor já não recebe mais o apoio incondicional de figuras importantes do clube-empresa. Internamente, há nítida preferência pela continuidade do projeto com o atual controlador. No entanto, entende-se também que não se pode descartar que outros acionistas e credores da holding possam ter mais acesso e ingerência no clube.

No associativo, o cenário não é mais o mesmo de meados de julho, quando uma carta de lealdade do clube-social foi crucial para impedir que acionistas da Eagle retirassem Textor do comando do alvinegro, num movimento do empresário em reuniões emergenciais do Conselho de Administração da SAF e da Assembleia Geral de Acionistas.

Enquanto são recorrentes as conversas com Textor para tentar auxiliá-lo a solucionar os problemas com os investidores da Eagle, nas últimas semanas passaram a ocorrer, paralelamente, reuniões com figuras da empresa britânica para entender possíveis cenários futuros, dentre eles, qual seria o panorama caso a Eagle assumisse o Botafogo. Nesse contexto, o atual presidente, João Paulo Magalhães Lins, é peça importante.

Mais um americano

Nas últimas semanas, João Paulo tem tido conversas com Jean-Pierre Conte, acionista americano que investiu na Eagle e agora detém 3% das ações da empresa. Conforme informação dada inicialmente pelo ge e confirmada pelo GLOBO, os dois se encontraram na França no fim de setembro, após a cerimônia de premiação da Bola de Ouro.

Empresário bilionário do ramo financeiro, JP Conte é dono da Genstar Capital, companhia sediada na Califórnia e que investe em empresas de serviços financeiros, saúde, tecnologia e software. Apesar de americano, ele possui relações profundas com o Brasil por ter familiares no país e é, entre os demais acionistas da Eagle, o que mais se aproximou do Botafogo. Nas redes sociais, é possível ver publicações de Conte comemorando os títulos conquistados pelo alvinegro em 2024 e fotos dele com o uniforme do clube.

Jean-Pierre Conte em foto com o uniforme do Botafogo

Reprodução

Fontes da Eagle ouvidas pelo GLOBO indicam que João Paulo Magalhães Lins tem relações antigas com um desses familiares de Conte. Em uma das redes sociais do empresário americano, em um perfil privado que conta com apenas 990 “amigos”, o presidente do Botafogo é um dos seguidores. Procurado pela reportagem, João Paulo não se posicionou até a publicação desta matéria.

Textor se blinda

Ciente desses encontros, John Textor tem agido nos bastidores com a habitual normalidade. O empresário americano tem afirmado a pessoas próximas que não planeja mais recomprar a SAF do Botafogo para a empresa que criou nas Ilhas Cayman, mas sim manter o alvinegro dentro da holding — isso foi prometido pela defesa durante o processo movido pela Eagle.

Enquanto fontes do clube social acreditam que poderiam retirar Textor do controle da SAF caso cheguem em um acordo com outros investidores da Eagle, o empresário americano assegura nos bastidores que isso não seria juridicamente possível. Blindado por suas próprias afirmações, o americano está ciente das movimentações paralelas no alvinegro, mas tenta amparar todas as arestas a tempo de evitar uma implosão que pode ser irreversível.

Se no Brasil Textor vive um cenário até então difícil de ser imaginar há alguns meses, na Europa, a saída repentina de Christopher Mallon, diretor independente nomeado pelos acionistas da Eagle para tomar as decisões do grupo durante o imbróglio, por questões familiares “graves” podem fazer o americano recuperar ao menos parte do poder político perdido na companhia. É o empresário que escolherá o novo diretor a partir de uma lista tríplice apresentada pela Ares, maior credora da holding.

O processo será semelhante com o finalizado ontem, quando Textor definiu o nigeriano Hemen Tseayo como um dos novos diretores da Eagle na vaga que era de Mark Affolter, que também pediu para deixar a companhia.