Atos contra anistia e Congresso no Rio e em SP têm públicos menores que os da PEC da Blindagem, indica monitor da USP
Manifestantes de esquerda repetiram neste domingo a estratégia adotada em setembro, na época da PEC da Blindagem, e foram às ruas protestar contra o Congresso. Os atos, no entanto, registraram público menor, apesar da presença de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, que se apresentaram no Rio. A pauta girou em torno de críticas ao Legislativo, classificado em faixas como “inimigo do povo”, e à ideia de aliviar as penas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e dos demais condenados por tentativa de golpe, como propõe o PL da Dosimetria, aprovado na Câmara.
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Os protestos foram convocados por partidos, movimentos sociais, centrais sindicais e artistas. Segundo pesquisa do Monitor do Debate Político da USP em parceria com a ONG More in Common, feita por meio de drones, o ato na Avenida Paulista, em São Paulo, teve um terço do público de setembro: 13,7 mil, contra 42,3 mil naquela ocasião. Em Copacabana, no Rio, contou com pouco menos da metade: 18,9 mil, enquanto o de três meses atrás mobilizou 41,8 mil pessoas.
Manifestantes na Avenida Paulista
Edilson Dantas
Representante do governo Lula no ato da Paulista, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, deu o tom das manifestações ao criticar abertamente o Congresso e a anistia.
— Eles nos forçaram a voltar para a rua de novo — disse no palco o deputado licenciado do PSOL. — A gente não vai aceitar anistia, esse é o recado do dia de hoje.
Manifestantes se reúnem na Praça dos Três Poderes em Brasília para protestar contra o Congresso
Sergio Lima / AFP
Outro ministro a comparecer na capital paulista foi Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, que também é deputado licenciado e endureceu o discurso contra a própria Casa e a “elite”.
— Toda vez que povo quer subir a escada, a elite quer tirar essa escada e dar um golpe no Brasil — afirmou o petista. — Eles defendem as bets, os bilionários e beijam a bandeira dos Estados Unidos. Pelo fim das emendas parlamentares, pelo fim da votação virtual. Vamos renovar, separando o joio do trigo, e tirar o que não presta do Congresso.
No Rio, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, afirmou que continuaria cobrando do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), o cumprimento da decisão judicial que determinou a cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Depois, foi informado da renúncia da parlamentar (veja mais na página 4) e comunicou aos manifestantes, que comemoraram.
De cima do carro de som, ao qual estava presa uma faixa com a frase “Congresso inimigo do povo” e o rosto de Motta, o petista enfatizou ainda o histórico de tentativas de golpe no país para repudiar a ideia de anistia ou redução de penas.
— Desde a Proclamação da República, foram 15 tentativas de golpe de Estado. Na época da ditadura militar, vocês sabem que os torturadores não foram presos — apontou.
Durante a concentração na praia de Copacabana, manifestantes entoaram os gritos de “sem anistia” e “trabalhador, preste atenção, Hugo Motta é inimigo da nação”. Com o fim dos discursos de políticos, o ato terminou em música. Quem inaugurou a sequência de apresentações foi Caetano Veloso, seguido por nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Emicida, Fafá de Belém e Lenine.
Na Avenida Paulista, cantaram Zélia Duncan e Chico César. Além de Rio e São Paulo, foram realizados atos ontem em Brasília e quase todas as capitais brasileiras, como Belo Horizonte, Salvador, Manaus, Belém, Natal, São Luís, João Pessoa, Campo Grande, Maceió, Teresina e Florianópolis.
Votação no senado
Novo gatilho para a mobilização nas ruas, o PL da Dosimetria, que permite a redução de penas dos condenados pela trama golpista, foi aprovado na madrugada de quarta-feira na Câmara e está, agora, no Senado. A votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) é prevista para a próxima quarta, e a análise no plenário pode ocorrer logo depois. Se aprovado, segue para sanção presidencial, e caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comprar ou não uma nova briga com o Legislativo.
O projeto de lei muda de forma significativa as punições aplicadas aos condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e pela tentativa de golpe. Ele altera o cálculo de penas aplicadas a crimes contra o Estado Democrático de Direito e facilita a saída do regime fechado, progressão que passaria a ser permitida após o cumprimento de um sexto da pena — atualmente, o mínimo para tal é de um quarto.
