Ato contra aumento de casos de feminicídio mobiliza 9,2 mil manifestantes na Avenida Paulista

 

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A manifestação deste domingo na Avenida Paulista contra a escalada de casos de feminicídio no Brasil, convocada pelo movimento nacional Mulheres Vivas, contou com a participação de 9,2 pessoas. O número é do Monitor do debate político, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a ONG More in Common.

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Os dados possuem margem de erro de 12%. Com isso, a contagem aponta um público, no momento de pico, entre 8,1 mil e 10,3 mil participantes. O cálculo foi feito a partir de fotos aéreas analisadas com software de inteligência artificial.

Além de São Paulo, diversas cidades do país registram atos após os casos recentes de violência contra a mulher e a alta de mortes de mulheres no Brasil nos últimos anos. Há manifestações na Praia de Copacabana, no Rio, e em locais como Belo Horizonte, Curitiba e outras capitais das regiões Norte e Nordeste.

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Manifestação na Paulista

Em São Paulo, a manifestação começou às 14h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), e ocupa cerca de dois quarteirões da Avenida Paulista. Mulheres de todas as idades, homens e crianças seguram cartazes com frases "misoginia mata" e "nem uma a menos", e com os nomes de vítimas recentes de feminicídio e agressões por serem mulheres, pedindo por justiça.

Diferentemente de outros domingos, a avenida não está completamente fechada para carros, e os veículos circulam até a altura da Rua Itapeva. A Polícia Militar acompanhou o ato, que contou com a presença de artistas como a cantora Luísa Sonza e a atriz Alessandra Negrini, além de parlamentares da esquerda como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP).

Presente no ato da Paulista, a atriz Vânia Barboni integra o Coletivo Medeias, que faz performances em São Paulo para conscientizar sobre a violência contra a mulher desde o ano passado. Ela afirma que existe uma "cultura de ódio crescente contra as mulheres", e que agora a situação chegou a um novo patamar.

— São coisas absurdas, perdeu o controle. O discurso de ódio contra as mulheres está incutido na sociedade, está na criação dos homens — diz Vânia.

No carro de som instalado no vão livre do Masp, diversas ativistas se revezaram para cobrar políticas públicas de combate à violência contra as mulheres, incentivando denúncias à Central 180 em qualquer situação de perigo. Também houve falas contra a cultura do "red pill", conteúdo misógino que ganhou tração nas redes sociais nos últimos anos, e pedidos de regulação das redes para impedir discursos de ódio contra mulheres na internet.

Ato contra feminicídio na Avenida Paulista, no domingo (07/12)

Hyndara Freitas/Agência O Globo

Muitos pais aproveitaram o ato na Paulista para levar seus filhos e incentivar a discussão sobre gênero na família. Foi o caso da economista Daniela Carbinato, que levou as duas filhas e seu marido para a manifestação. As meninas, de seis e nove anos, seguravam com entusiasmo um cartaz com a frase "chega de violência". Para Daniela, a educação sobre gênero deve começar em casa, e se estender também para a escola.

— A gente precisa, desde cedo, fazer elas entenderem o contexto em que vivem e os direitos que têm. É uma questão complexa, mas o assunto aparece naturalmente. Com a mais velha, as colegas de escola dela já estão lendo sobre o feminismo, já houve um episódio de perseguição na escola com uma amiga, então a gente acaba discutindo o tema desde cedo — conta.

Muitos homens também marcaram presença na manifestação. O fotógrafo Paulo Fabre é pai de duas meninas, que o acompanharam neste domingo. Ele conta que costuma ler sobre feminismo mesmo antes do nascimento das filhas, e que a discussão sobre gênero está presente na educação delas desde sempre:

— Temos que criar estruturas para que elas estejam preparadas para advogar em prol de si mesmas, mas também a se defenderem porque o mundo é machista. Hoje, a gente consegue protegê-las dentro de uma bolha, mas em algum momento essa bolha fura — relata. — Eu desejo um mundo em que elas nao tenham medo, que elas não precisem temer ir na padaria da esquina sozinhas. Eu venho desse universo machista, e eu quero um mundo diferente para elas.

Daniela Carbinato (Centro), acompanhada pelo marido (esquerda) e as filhas; à direita, o fotógrafo Paulo Fabre

Hyndara Freitas/Agência O Globo

O movimento Mulheres Vivas foi uma iniciativa das atrizes e ativistas Lívia La Gatto e Raquel Ripani, e os atos deste domingo foram organizados em menos de uma semana, usando sobretudo perfis no Instagram e grupos de WhatsApp com ativistas e coletivos de todo o Brasil. Ripani afirma que está "profundamente orgulhosa" do público que foi para as ruas, e que o plano é seguir com a mobilização, tanto com manifestações, quanto com cobranças para políticas públicas efetivas:

— Foi o começo de uma resposta, e a gente quer brigar pelas pautas que a gente tem. Criminalização da misoginia, exigência de orçamento, e que a gente tenha a atenção que a gente merece. Porque os parlamentares só falam com a gente na hora de pedir voto. Na hora de aprovar lei que nos proteja, a gente não está vendo — falou ao GLOBO.

Outras capitais

Em Belo Horizonte, a manifestação começou por volta das 11h, na Praça Raul Soares, e se estendeu em uma marcha até a Praça da Estação. Nos cartazes, homens, mulheres e crianças seguravam cartazes com frases como "basta de feminicídio" e "pare de matar as mulheres".

No Rio de Janeiro, na Praia de Copacabana, o ato chegou a fechar as duas vias da Avenida Atlântica. Contudo, alguns motoristas tentaram furar o bloqueio e, por orientação da prefeitura, os manifestantes permaneceram somente na faixa que já é interditada aos domingos.

Em Curitiba, o protesto teve início às 10h no Largo da Ordem, e os participantes entoavam o coro "Mulheres Vivas", com cartazes denunciando a impunidade de agressores de mulheres e pedindo por Justiça. Os atos foram mobilizados por movimentos sociais e coletivos feministas, e foi divulgado durante a semana também por artistas.

Ato contra feminicídio em Curitiba, no domingo (07/12)

Luis Pedruco/Ato Press/Agência O Globo