Ataque a tiros no Irajá reacende histórico de violência contra moradores de rua no Rio; relembre os casos
Dois homens foram mortos e um ficou ferido na Zona Norte; casos semelhantes de agressões a pessoas em situação de rua se repetem há décadas na cidade Um novo caso de ataque a moradores de rua nesta sexta-feira (17) chocou o Rio de Janeiro. Dois homens em situação de rua foram mortos e um terceiro ficou ferido após um ataque a tiros na Avenida Pastor Martin Luther King Jr., perto da estação de metrô de Irajá, na Zona Norte do Rio.
De acordo com a Polícia Militar, agentes do 41º BPM foram acionados por volta das quatro da manhã, depois de relatos de disparos de fuzil na região.
No local, os policiais encontraram duas vítimas já sem vida e outra que foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros e levada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.
De acordo com as primeiras informações, um carro não identificado teria passado pelo local e efetuado os disparos contra as vítimas, que dormiam sob a marquise da estação.
Caso ocorreu nas proximidades da estação de metrô de Irajá.
Reprodução/TV Globo
Histórico de ataques
O caso, entretanto, não é isolado. Desde a década de 1990, o Rio de Janeiro sofre com outras situações similares.
Um dos casos mais recentes foi em fevereiro deste ano em que dois homens filmaram tacando um coquetel molotov em um morador de rua para um desafio na plataforma Discord.
O episódio aconteceu entre a noite de 18 de fevereiro e a madrugada do dia seguinte. Ludierley Satyro José, de 46 anos, foi atacado enquanto dormia na calçada e teve queimaduras em quase todo o corpo. Ele continua internado e está se recuperando, mas ainda tem dificuldades para falar, respirar e se movimentar.
O autor do arremesso é um adolescente de 17 anos, já apreendido. O outro, também preso, é um militar do Exército que, segundo as investigações, seria o autor intelectual da tentativa de homicídio.
O ataque foi transmitido ao vivo para 225 pessoas em um servidor do Discord. As investigações indicam que o caso foi motivado por um desafio em um grupo. Em troca, o adolescente receberia cerca de R$ 2 mil.
Relembre outros casos:
1999: Homem queimado no Catete e morte
Ainda na década de 1990, no último ano, dois adolescentes de 12 e 10 anos colocaram fogo em um morador de rua no Catete, Zona Sul do Rio. O caso ocorreu contra Jorge Carlos de Azevedo, de 52 anos.
Jorge teve parte do corpo queimado. Os dois afirmaram que fizeram isso porque o homem batia neles pedindo comida e dinheiro.
Naquele mesmo ano, Romário Costa Oliveira, de 42 anos, morreu após ter sido queimado e ficar dias internado para tratamento. O autor do crime não foi identificado.
2004: Assassinato de morador de rua com três presos no Cachambi
Em novembro de 2004, três homens foram presos por terem agredido um morador de rua no Cachambi, Zona Norte, até a morte. Cássio Fabiano dos Santos Freitas Mesquita, de 24 anos, Thiago Ferraz, de 21, e Tiago da Silva Couto, de 20, foram autuados pelo crime de homicídio qualificado.
Segundo eles, o morador de rua queria atacar sexualmente a irmã de um dos agressores. Por isso, eles quiseram dar uma resposta.
Os três, após perceberem a morte do morador, saíram correndo e foram capturados pela polícia.
O morador de rua chegou a ser levado para o Hospital Salgado Filho, no Méier, bairro próximo, mas acabou morrendo.
2011: Corpo próximo de estacionamento de museu
Outro caso que chamou atenção na cidade do Rio ocorreu em julho de 2011. O corpo de um morador de rua foi encontrado no estacionamento do Museu de Arte Moderna, próximo ao Aterro do Flamengo.
Nele, havia marcas de queimaduras e também de agressões. Não foi possível determinar a causa da morte. O caso foi investigado, mas não teve resposta.
2015: Agressor coloca fogo em casal morador de rua
No Rio de Comprido, na Zona Norte, outro caso chamou atenção em outubro de 2015. O casal de moradores de rua Amanda Silvestre da Silva, de 26 anos, e Adailton Farias dos Santos, de 33 anos, sofreram queimaduras depois que um homem colocou fogo onde eles estavam dormindo.
Amanda teve 70% do corpo queimado, enquanto Adailton 20%.
O jornal O Globo cita na época que o caso ocorreu não durante a madrugada, mas em um horário de grande circulação de pessoas na região.
2017: Moradora de rua é morta com tiro em Copacabana
Em outubro de 2017, uma mulher que morava na rua foi morta com um tiro no peito no momento em que dormia em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Foi Fernanda Rodrigues dos Santos, conhecida pelos moradores do bairro.
Dois homens foram presos acusados do crime e confessando depois. São eles o lutador de MMA Cláudio José Silva, de 37 anos, e o estudante de medicina Rodrigo Gomes Rodrigues, de 24 anos.
A justificativa deles para o crime foi que um homem, que estava ao lado de Fernanda, teria atirado uma lata contra eles no mesmo dia.
