As muralhas de Moisés? Arqueólogos descobrem fortaleza de 3 mil anos no Egito com novas pistas sobre a Bíblia; imagens
Durante escavações no sítio arqueológico de Tell El-Kharouba, no norte do deserto do Sinai, arqueólogos egípcios encontraram os vestígios de uma fortaleza monumental que pode reescrever parte do entendimento sobre o Êxodo bíblico e a trajetória de Moisés. A estrutura, datada de cerca de 3.500 anos, coincide com a lendária Rota Militar de Hórus — caminho descrito na Bíblia como aquele por onde o povo de Israel teria deixado o Egito rumo a Canaã.
O achado foi anunciado em 11 de outubro pelo Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito, por meio de uma publicação no Facebook, que classificou o sítio como “uma das mais importantes descobertas registradas na Trilha de Hórus”. A fortaleza, erguida durante o período do Novo Reino (1550 a.C. a 1070 a.C.), abrange cerca de 7.900 metros quadrados e se destaca por sua dimensão e complexidade. Outrora, protegia uma rota vital de comércio e defesa, ligando o Egito à Síria, à Anatólia e à Mesopotâmia.
A engenharia e a vida dentro das muralhas
Lutando contra dunas e camadas de sedimentos, os arqueólogos localizaram as muralhas norte, noroeste e sul da fortificação, além de uma barreira em zigue-zague de 76 metros. As paredes chegam a 2,4 metros de espessura, e o conjunto incluía onze torres defensivas. No interior, foram identificadas ruínas de habitações e um centro residencial usado por soldados egípcios.
Os achados incluem fragmentos de cerâmica, vasos e um jarro com o selo do faraó Tutmés I (1506 a.C.–1493 a.C.), além de rochas vulcânicas importadas da Grécia antiga. Um grande forno de pão e restos fossilizados de massa revelam detalhes do cotidiano militar. Segundo o Ministério egípcio, a fortaleza “funcionava como um centro de vida diária dos soldados”, evidenciando a sofisticação do aparato logístico egípcio em uma fronteira remota.
O Egito que guardava a rota de Moisés
Localizada hoje próxima à Faixa de Gaza, Tell El-Kharouba ficava estrategicamente posicionada na Via Maris, ou Caminho de Hórus — a mesma rota mencionada no Livro do Êxodo. O texto bíblico diz que “Deus não os guiou pelo caminho dos filisteus, embora fosse o caminho mais curto”, em referência a essa estrada protegida por fortalezas. A existência de um complexo defensivo tão robusto reforça a hipótese de que a região era rigidamente vigiada, o que explicaria a fuga do povo de Israel por um trajeto alternativo pelo deserto.
O secretário-geral do Conselho Supremo de Arqueologia, Mohamed Ismail Khaled, afirmou que o achado “confirma que a civilização egípcia não se limitava a templos e túmulos, mas era um Estado com instituições poderosas capazes de proteger seu território”. Ele acrescentou que o objetivo agora é reconstruir o mapa completo da rede de fortalezas que compunha a fronteira oriental do Egito.
Entre fé e arqueologia
A descoberta reacende o debate sobre a historicidade do Êxodo e a figura de Moisés. Embora não haja provas diretas da passagem dos israelitas pelo Sinai, a fortaleza de Tell El-Kharouba oferece um cenário plausível para o contexto militar e geográfico descrito nos textos bíblicos.
Em paralelo, segundo o Infobae, novas pesquisas epigráficas trouxeram à luz uma inscrição proto-sinaítica encontrada em Serabit el-Khadim, também no Sinai, que pode conter o nome de Moisés — “zot m’Moshe” (“isto é de Moisés”). O pesquisador Michael Bar-Ron, responsável pelo estudo, afirma que a inscrição, feita há 3.800 anos, seria uma das mais antigas referências ao profeta. Apesar de especialistas pedirem cautela na interpretação, o debate ganha força com o avanço das escavações.
Para os arqueólogos, o conjunto de descobertas no Sinai oferece um elo raro entre mitologia e materialidade. Mesmo sem confirmar os eventos do Êxodo, as “muralhas de Moisés” revelam um Egito de fronteiras vigiadas, rotas sagradas e vidas cotidianas escondidas sob a areia — um retrato vívido de um tempo em que história e fé ainda caminhavam lado a lado.
