Artigo: 'São as lideranças locais que moldam o futuro da ação climática', avaliam prefeitos do Rio e de Londres

 

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À medida que o mundo se prepara para se reunir no Brasil para a COP30, dentro de duas semanas, as apostas para o clima nunca foram tão altas. O ano passado não foi apenas o mais quente já registrado; foi também a primeira vez que as temperaturas globais ficaram 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.

Na última década, a liderança local saiu da linha lateral e passou para o centro da resposta climática global. O que começou em Paris, em 2015, quando as cidades foram reconhecidas pela primeira vez como parceiras indispensáveis na implementação do Acordo de Paris, continua neste ano, no Brasil, quando centenas de prefeitos se unem a governadores e líderes regionais para a Cúpula Mundial de Prefeitos da C40 — parte do Fórum de Líderes Locais da COP30. A C40 Cities é uma rede formada por quase 100 das maiores cidades do mundo, unidas no enfrentamento da crise climática de forma justa e equitativa. As pessoas que vivem e trabalham nas cidades C40 — mais de 900 milhões de pessoas — respondem por quase metade do PIB global.

Esta não é a habitual reunião da C40. Trata-se de um momento histórico: prefeitos se reunirão ao lado de outros líderes subnacionais e nacionais, com o apoio da Bloomberg Philanthropies e da liderança política do Brasil, para apresentar resultados comprovados e o senso de urgência que tantas vezes falta no nível internacional.

A situação em que nos encontramos não poderia ser mais grave, ainda assim, alguns líderes continuam se recusando a ouvir. Alguns rejeitam completamente a ciência ou espalham informações falsas para nos distrair da necessidade de agir. Outros aceitam os fatos, mas simplesmente não estão dispostos a mudar suas práticas. No ano passado, o consumo global de carvão atingiu níveis recordes.

Diante da negação e da demora, é muito fácil cair no desespero. No Brasil, porém, prefeitos de todo o mundo estão tomando uma posição. Nesta crise, enxergamos uma oportunidade: construir uma nova coalizão de líderes – de prefeitos a chefes de Estado – dispostos a fazer o que for necessário para proteger as pessoas que servimos e o planeta que compartilhamos.

Para que essa coalizão tenha sucesso, as cidades terão um papel fundamental a desempenhar. De ondas de calor e incêndios florestais a enchentes e aumento de preços dos alimentos, elas estão na linha de frente da crise climática. Abrigando mais da metade da população mundial e responsáveis por três quartos do consumo global de energia, seu tamanho também confere aos seus líderes o poder de impulsionar mudanças globais de grande alcance. No Brasil, estamos prontos para usar esse poder.

Nos últimos 25 anos, foram os prefeitos que arregaçaram as mangas e fizeram o trabalho, implementando políticas ousadas e ambiciosas que fazem a diferença. Em Londres, a maior zona de ar limpo do mundo trouxe os níveis de dióxido de nitrogênio tóxico para dentro dos limites legais – quase 200 anos antes do que os especialistas previam. No Rio, o sistema de BRT (sigla para Bus Rapid Transit) reduziu drasticamente as emissões ao mesmo tempo em que conecta centenas de milhares de passageiros aos seus locais de trabalho, escolas e serviços essenciais todos os dias. Por meio de iniciativas como o Breathe Cities – da qual ambas as nossas cidades participam – estamos unindo forças com líderes de todo o mundo para implementar novas políticas ambiciosas de qualidade do ar, acelerar a descarbonização e construir cidades mais sustentáveis e habitáveis.

Ao redor do mundo, um coro de céticos afirma que os esforços para combater a emergência climática vão enfraquecer nossas economias e empobrecer nossa população. Essas políticas provam que eles não poderiam estar mais errados. Combater as mudanças climáticas não é apenas bom para o planeta; é uma oportunidade de fortalecer nossas economias com indústrias verdes e empregos seguros e bem remunerados para os trabalhadores; de reduzir contas com energia limpa e salvar vidas ao proteger as pessoas de temperaturas extremas e do ar tóxico. Em outras palavras, esta é uma oportunidade única de construir um mundo mais verde, justo e próspero. Precisamos aproveitá-la.

A C40 foi fundada há 20 anos como um grupo de cidades dedicadas exatamente a esse propósito. Acreditamos que a magnitude da emergência climática exigia um tipo diferente de resposta global – uma resposta que se recusasse a reconhecer fronteiras como limites para nossa ambição. Desde então, fomos pioneiros de um novo modelo de colaboração, baseado não em negociação, mas em ação. Graças às políticas práticas e populares que implementamos, já existem mais de 21 milhões de bons empregos verdes em 81 cidades da C40 – uma evidência de que estamos no caminho certo para atingir nossa meta de 50 milhões até o final de 2030.

Dizem que o otimismo é contagiante. Talvez por isso, no Brasil, a C40 terá um papel ainda maior no cenário global do que jamais teve. No Fórum de Líderes Locais da COP30, organizado pela Bloomberg Philanthropies e pela Presidência da COP30, nosso objetivo é simples. Em vez de compromissos vagos e ambições abstratas, vamos demonstrar resultados concretos. Ao compartilhar o que já entregamos e o que sabemos que funciona, vamos traçar um caminho pragmático para alcançar nossas metas climáticas – um caminho que ofereça esperança de um futuro melhor, em vez de medo pelo mundo que as próximas gerações herdarão.

Por tempo demais, as negociações climáticas avançaram no ritmo do membro mais lento, e nossa população pagou o preço. Diante de sinais de colapso climático por todos os lados, está claro que a forma como trabalhamos juntos precisa mudar. No Brasil, vai mudar. Olhando para trás, nas próximas décadas, acreditamos que a COP deste ano será um ponto de virada: o momento em que o mundo reconheceu que o custo da inação coletiva é muito maior do que o de perder alguns líderes pelo caminho. Chegou a hora de uma nova coalizão – pronta para avançar mais longe e mais rápido do que nunca. As cidades do mundo estão prontas para enfrentar esse desafio e fazer parte desse movimento vital.